A ideia não é nova, mas espelha bem a incerteza e peculiaridade dos tempos que se vivem: Donald Trump voltou a manifestar interesse em adquirir a Gronelândia, território ártico sob controlo dinamarquês, sublinhando a vontade norte-americana regressada em expandir o seu território. Os dinamarqueses já rejeitaram a proposta, mas quanto teria o governo norte-americano de desembolsar caso a operação fosse avante?
A intenção norte-americana de anexar a Gronelândia é antiga, remontando à altura da definição política do território inicialmente colonizado por noruegueses e dinamarqueses. Após a separação dos dois reinos, em 1814, exploradores norte-americanos aventuraram-se na parte norte da ilha, mas a sua administração acabou por cair para Copenhaga.
Desde então, e sobretudo por motivos de defesa (aos quais se juntam agora nova onda exploratória em busca de recursos naturais), Washington tem ocasionalmente sugerido a aquisição da ilha, tendo mesmo avançado com tentativas formais de a juntar ao seu território. Em 1867, aquando da compra do Alasca aos russos, uma proposta de 5,5 milhões de dólares ouro estaria alegadamente pronta para avançar, mas ficou na gaveta pela falta de aprovação do Congresso.
Trump reavivou esta discussão ainda no seu primeiro mandato, gerando uma forte e unânime rejeição dinamarquesa e dos responsáveis políticos da Gronelândia, levando mesmo o então presidente a cancelar uma visita de Estado a Copenhaga. Mais recentemente, o candidato vencedor das eleições de 2024 não excluiu o uso da força militar para tomar o controlo da ilha, embora sublinhando que preferiria uma compra ao estilo do que o governo federal fez com a Luisiana ou o Alasca.
Colocando-se este cenário em cima da mesa, resta uma questão: quanto custaria uma eventual compra da Gronelândia? Várias estimativas com abordagens diferentes têm sido feitas ao longo dos últimos anos.
Em 2019, e baseada numa avaliação de ‘soma das partes’ (SOTP), a FT Alphaville estimou o valor de aquisição da ilha em 1,1 biliões de dólares (1,07 biliões de euros), reforçando esta estimativa em 2025. Já o portal 24/7 Wall Street avança com 533 mil milhões de dólares (518 mil milhões de euros) para a operação, isto usando o estado do Wyoming como comparativo.
Já o ‘The Economist’ decompõe a economia da ilha para chegar a uma avaliação de 50 mil milhões de dólares (48,6 mil milhões de euros). Com um PIB de 3 mil milhões de dólares, 43% da força de trabalho é empregada pelo Estado, que recebe 500 milhões de dólares (485,9 milhões de euros) da Dinamarca. Assumindo que se mantém a taxa de crescimento de longo prazo e o país contribui com 16% do seu PIB em impostos federais para Washington, este é o valor calculado – o equivalente a uma vigésima parte do orçamento de defesa norte-americano.
Já David Barker, empresário de imobiliário e antigo economista da Fed, fez uma série de cálculos para o ‘The New York Times’, avaliando o território entre 12,5 mil milhões de dólares (12,2 mil milhões de euros) e 77 mil milhões (74,8 mil milhões de euros). O valor mais baixo deste intervalo corresponde a uma avaliação em linha com o que os EUA pagaram pelas Ilhas Virgens à Dinamarca em 1917, ou 657 milhões de dólares (638,5 milhões de euros) em termos correntes, enquanto o mais alto estabelece uma correspondência entre o preço pago pelo Alasca, mais de 150 milhões (145,8 milhões de euros) em valores atuais, e o impacto no PIB americano.
Num ponto todos os analistas que se propuseram a fazer estas estimativas concordam: a concretizar-se de forma não violenta, a compra da Gronelândia seria, para os EUA, o negócio do século. A importância da ilha em termos de segurança é grande, embora tenha diminuído com o aumento de alcance do armamento russo, e a sua abundância em matérias-primas raras, sobretudo metais usados em tecnologias da informação, é uma fonte de rendimento.
Por outro lado, o presidente norte-americano está claramente a tentar cavalgar o ímpeto independentista gronelandês, que há várias décadas vem tentando ganhar maior autonomia em relação à Dinamarca. Inversamente, Copenhaga alterou no final de 2024 o seu brasão de armas para dar mais destaque às Ilhas Faroé e à Gronelândia, dois territórios que administra e onde as inspirações de independência são crescentes.
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