O crescimento das exportações, mais do que uma questão conjuntural, é uma questão estrutural. Uma economia demasiado virada para dentro, para os bens não transacionáveis, é uma economia que não está sujeita à pressão competitiva das melhores práticas de organização e eficiência internacionais e que potencia o crescimento da produtividade. É verdade que temos feito um caminho ascendente neste indicador, mas ainda estamos bastante longe do peso das exportações no PIB que outras pequenas economias abertas da Europa têm.
Durante 2022 a procura externa foi uma muleta importante no atingir dos 6,7% de crescimento do PIB, o maior desde há mais de 30 anos. Não obstante, o forte abrandamento que se espera que ocorra em 2023 e que o último trimestre de 2022 já indicava para os nossos principais parceiros comercias irá ser acompanhado por um menor dinamismo da procura externa. As previsões de crescimento de Portugal são mais positivas do que os da zona euro, incluindo as relativamente a Espanha, o nosso principal parceiro comercial.
Para tudo isto será determinante a velocidade com que a inflação irá abrandar, de forma a evitar uma subida maior das taxas de juro e consequentemente um maior abrandamento da atividade económica em Portugal e na Europa. A descida dos preços da energia tem contribuído sobremaneira para a descida da inflação, as a inflação subjacente – que exclui bens alimentares e energia – ainda não inverteu a tendência de subida.
Nos EUA, onde a inflação começou a descer mais cedo, passaram-se quatro meses entre o início da queda da inflação total e a queda da inflação subjacente. E percebe-se este hiato temporal. Na Europa por exemplo, apenas 30% da energia é consumida diretamente pelas famílias. 70% é consumida no processo de produção de bens e serviços. Pelo que o mecanismo de transmissão dos preços da energia para a inflação subjacente terá sempre um intervalo de tempo que reflete o processo de conceção, distribuição e venda de bens e serviços.
A esperança é que o padrão se repita para a Europa e possamos ver a inflação subjacente a baixar o mais tardar a partir de março, e que uma inversão da trajetória ascendente das taxas de juro possa trazer algum alívio e evitar uma recessão em 2023.
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