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Turismo: O desafio da superação

Certamente, o futuro do turismo caminhará lado a lado com a evolução da pandemia, mas a iniciativa não deve ficar confinada. O desenvolvimento de um boletim individual de vacinas digital, associado ao passaporte ou cartão de cidadão, poderá fazer renascer a esperança no relançamento da mobilidade das pessoas a nível mundial.
16 Fevereiro 2021, 07h15

Madeira, (…) ilha de clima genial, solo fértil nos vales e vegetação luxuriante, exporta produções hortícolas, bananas e vinho e é um popular resort de inverno (The New Universal Library, 1967, The Caxton Publishing Company Ltd). Texto simpático, felizmente já desatualizado, dado que o destino deixou de circunscrever-se ao inverno, impondo-se, pela excelência e diversificação do serviço, como referência mundial, em praticamente o ano todo.

De facto, estatisticamente poderemos comprovar que no período dos últimos 15 anos (de 2006 a 2020), a média mensal de hóspedes entrados, em milhares, é superior nos meses do 3º trimestre – julho (101), agosto (114) e setembro (98), seguido pelo 2º trimestre – abril (97), maio (99) e junho (93). Aliás, no período em análise, os meses de inverno, dezembro (64), janeiro (55) e fevereiro (70), são, claramente, os que apresentam níveis mais baixos de novos visitantes.

A dinâmica do turismo na RAM foi, durante décadas, quase sempre uma trajetória de crescimento, acompanhada de bons resultados. Todavia, de acordo com os últimos dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), os diferentes destinos turísticos internacionais perderam 900 milhões de turistas, no período compreendido entre janeiro e outubro de 2020, por comparação com o período homólogo de 2019.

Na prática, corresponde a uma perda de US$935 biliões em receitas de exportação internacional. Os números são tanto mais alarmantes, quando comparados com a anterior crise do sub-prime em 2009, e pico em 2011. Na verdade, a atual depressão traduz-se, por agora, num resultado 10 vezes inferior às perdas resultantes da crise económica de 2009.

Neste quadro, pior ainda, a OMT estima para o biénio 2020/21, que as chegadas internacionais diminuam entre 70% e 75%. Não restam dúvidas de que a premunição se cumprirá, talvez por defeito, pelo que se traduzirá numa perda de 1 bilião de turistas a nível mundial e em perdas de receitas na ordem de US $1.100 biliões de dólares.

De salientar que, para entender a situação atual de hospedes na Madeira – mas o mesmo se verifica em dormidas – é preciso retroceder à década de 90, para obter os valores esperados, certamente confirmados relativos a 2020 (ver gráficos 1 e 2) – 516,4 mil visitantes e 3,1 milhões de dormidas (estimativas dos autores), aliás em sintonia com o que aconteceu a nível mundial (fonte: OMT), não se prevendo grandes alterações para 2021.

Certamente, o futuro do turismo caminhará lado a lado com a evolução da pandemia, mas a iniciativa não deve ficar confinada. O desenvolvimento de um boletim individual de vacinas digital, associado ao passaporte ou cartão de cidadão, poderá fazer renascer a esperança no relançamento da mobilidade das pessoas a nível mundial. A Madeira, com o seu know-how reconhecido no setor, terá a capacidade e a iniciativa para liderar um processo destes em Portugal e na Europa?

O desafio é enorme… As Estrelícias no poema de Jorge de Sousa Braga[1], permanecem sempre em posição de voo / à espera que as raízes / as não impeçam de voar. O Turismo também…

[1] Moutinho, J., Saudades da Ilha, Evocações Poéticas da Ilha da Madeira, Edições Asa,2002

 

 

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