A Câmara de Setúbal acusou hoje o Governo de não ter respondido ao pedido de intervenção sobre as suspeitas de envolvimento de associações pró-russas no acolhimento de ucranianos e voltou a pedir uma investigação ao Ministério da Administração Interna.
Num comunicado divulgado hoje à imprensa, a Câmara Municipal de Setúbal explicou que “solicitou com a máxima celeridade” um esclarecimento ao Governo no dia seguinte a uma entrevista da embaixadora da Ucrânia em Lisboa, Inna Ohnivets, dada a 8 de abril à CNN Portugal, na qual se manifestava preocupada pela existência de “organizações pró-russas” infiltradas no apoio aos refugiados ucranianos.
A autarquia lembrou que também já pediu uma investigação ao Ministério da Administração Interna “sobre todos os procedimentos do município em matéria de acolhimento de refugiados ucranianos” e disse estar “totalmente disponível” para prestar esclarecimentos na Assembleia da República.
O semanário Expresso noticiou na sexta-feira que refugiados ucranianos foram recebidos na Câmara de Setúbal por russos simpatizantes do regime de Vladimir Putin e que responsáveis pela Linha de Apoio aos Refugiados fotocopiaram documentos dos refugiados, entre os quais passaportes e certidões das crianças.
De acordo com o semanário, pelo menos 160 refugiados ucranianos já terão sido recebidos por Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense, entretanto retirada de funções pela autarquia.
Na sexta-feira, o gabinete do primeiro-ministro assegurou que o presidente da câmara de Setúbal, André Martins (eleito pela CDU), não lhe pediu informações sobre a associação Edintsvo, que é alegadamente pró-regime russo.
Em nota à comunicação social, o gabinete de António Costa confirmou que recebeu há duas semanas uma carta de André Martins, mas negou que lhe tenham sido solicitadas informações sobre a associação Edintsvo.
Hoje, a Câmara Municipal de Setúbal sublinhou que, “logo que surgiram as primeiras suspeitas, pediu a intervenção direta de quem, no Governo, tutela o Alto Comissariado para as Migrações, não tendo, contudo, até hoje obtido qualquer resposta”.
“Caso o Governo entendesse que as suspeitas lançadas pela senhora embaixadora eram credíveis, deveria, de imediato, ter informado a Câmara Municipal de Setúbal e as outras autarquias onde existem associações de imigrantes alvo de suspeitas, da necessidade de adotar medidas, o que não aconteceu, embora se saiba que é o Governo quem detém os necessários instrumentos para averiguar acusações de espionagem”, afirmou a autarquia setubalense.
A câmara municipal lembra ainda que a Edintsvo “cooperou ininterruptamente” com a edilidade desde 2005, “por via de protocolos estabelecidos entre as duas partes”.
“Nunca e em nenhuma circunstância foi esta autarquia informada por qualquer entidade oficial de atos ou condutas suspeitas da parte dos dirigentes desta associação”, sublinhou.
Na sexta-feira, a Associação dos Ucranianos em Portugal disse que há “por todo o país” elementos pró-Putin nas organizações que estão a acolher refugiados ucranianos, alertando tratar-se de um fenómeno que se repete em toda a Europa.
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