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Ucrânia vai hoje a votos, com um comediante como potencial vencedor

O ator e humorista Volodymyr Zelensky é o candidato de 72% dos eleitores, segundo a última sondagem conhecida. O ocidente desespera, mas os ucranianos parecem fatos da promessas nunca cumpridas do atual presidente.
  • Fabrizio Bensch/REUTERS
20 Abril 2019, 18h01

Num país que está no centro das atenções por más razões – as dificuldades com a Rússia, o empobrecimento, a corrupção – e com cerca de 45 milhões de habitantes, a Ucrânia arrisca-se seriamente a, a partir da próxima segunda-feira, ter um comediante sentado da cadeira da presidência.

O ator e humorista Volodymyr Zelensky, sem experiência política, permanece à frente das sondagens depois de ter ‘varrido’ a primeira volta (em 31 de março, com cerca de 30% dos votos, face aos 16% do presidente Petro Poroshenko. E a sua vantagem está mesmo a aumentar: uma pesquisa divulgada há três dias dizia que 72% dos eleitores está a ponderar votar no comediante e apenas 25% optará pelo atual presidente, que tenta a reeleição.

Segundo a mesma sondagem, Zelensky poderá ainda reforçar a sua votação nas regiões russófonas do centro e sul da Ucrânia, incluindo a sua região-natal, Dnipropetrovsk, onde obteve o melhor resultado na primeira volta (45%).

Nem a surpresa com que o ocidente observou os resultados da primeira volta nem o facto de o atual presidente ter enfatizado ao longo da campanha que o país precisa de alguém com experiência para fazer face ao Kremlin foram suficientes para convencer os ucranianos.

Pelo seu lado, o comediante tem insistido que o país precisa de uma cura dos graves problemas de corrupção que são transversais à sociedade e que, para isso, ele, um desalinhado do sistema, é a maior garantia para os ucranianos.

Se se confirmarem estes resultados, as próximas eleições legislativas, que se realizarão em outubro deste ano, passarão a ser mais um teste nesta nova fase da política ucraniana. Os parceiros ocidentais também estão apreensivos com o que se passará ali durante as eleições deste domingo. E pelas mesmas razões: que hipótese terá Zelensky de barrar as intenções de Vladimir Putin em relação à Ucrânia – sendo certo que essas intenções apontam, entre outras vias, para a anexação do país pelo seu poderoso vizinho.

Poroshenko subiu ao poder na sequência da revolta de Maidan nos inícios de 2014, quando o anterior governo do ex-Presidente Viktor Yanukovych anunciou (em novembro de 2013) que não assinaria o Acordo de Associação com a União Europeia. Mas depois falhou em áreas decisivas como a reforma do Estado e o combate à corrupção. O Acordo de Associação com a UE acabou por entrar em vigor em 2017.

O ocidente vai fazendo o que pode: Angela Merkel recebeu Poroshenko há poucas semanas e o presidente francês Emmanuel Macron convidou os dois candidatos para o Eliseu. No meio está ainda a intenção da NATO de integrar a Ucrânia no seu seio – Poroshenko é a favor, mas o comediante parece não estar convencido da necessidade de aumentar as ligações com aquela organização – até porque, se a Ucrânia entrar, terá um sério problema com a Rússia, que não quer qualquer dos países com que faz fronteira a pertencer à organização.

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