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Ucrânia: Zelensky quer entrada em vigor imediata do acordo EUA-Rússia

O acordo sobre um cessar-fogo no Mar Negro e o fim dos ataques às infraestruturas de energia está desde já em vigor, segundo Kiev. Os problema são as exigências que ambas as partes colocaram para o seu cumprimento.
Volodymyr Zelensky/Twitter
26 Março 2025, 07h00

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que o cessar-fogo acordado entre a Rússia e os Estados Unidos para o Mar Negro e as infraestruturas energéticas entra em vigor imediatamente – ou entrou já esta terça-feira; é essa, pelo menos, a vontade expressa por Kiev. Mas deixou o aviso de que trataria de encontrar mais armas e mais sanções contra a Rússia se Moscovo quebrasse o acordo. É a resposta à resposta russa ao acordo que os Estados Unidos conseguiram firmar, separadamente, depois de um verdadeiro ‘ping-pong’ entre as duas mesas de negociação: EUA-Rússia e EUA-Ucrânia. Uma metodologia bizarra, dado que os beligerantes nunca chegam a encontrar-se, mas que não é uma novidade: a tentativa de fazer os Estados Unidos ao perímetro do acordo nuclear com o Irão seguiu o mesmo modus operandi.

Os Estados Unidos anunciaram que fizeram acordos separados com Kiev e Moscovo para garantir uma navegação segura no Mar Negro e implementar a proibição de ataques contra instalações de energia nos dois países. Resta agora saber de que forma o acordo chegará ao terreno, dado que a Rússia também não se isentou de exigir o seu cumprimento. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que o seu país está disposto a fechar o acordo, mas quer que os Estados Unidos se comprometam a que a ordem seja transmitida sem hesitações e sem margem para dúvidas ao presidente Volodymyr Zelensky.

Dizem os analistas que a exigência por parte do regime moscovita resulta do facto de o anterior acordo que abria o Mar Negro à exportação de cereais produzidos na Ucrânia – patrocinado pela ‘dupla’ Turquia e ONU – ter acabado por fracassar depois de as duas partes se acusarem mutuamente de não cumprirem o que estava definido. Neste caso, não é difícil concluir que foi o Ocidente quem não cumpriu: os cereais passaram a ‘navegar’ pelo Mar Negro para os seus mercados tradicionais – entrando na Europa sem pagar taxas aduaneiras na União Europeia, o que implicou reservas por parte de alguns países do bloco – mas o Ocidente não levantou as sanções que impediam as exportações russas de alguns produtos agrícolas e de fertilizantes. A Rússia acabou por suspender o acordo, que assim entrou em incumprimento em 2023.

“Precisaremos de garantias claras. E, dada a triste experiência de acordos apenas com Kiev, as garantias só podem ser o resultado de uma ordem de Washington para Zelensky e a sua equipa fazerem uma coisa e não a outra”, disse Lavrov em comentários a uma cadeia de televisão. Os comentários de Lavrov indicam que a Rússia exigirá um aumento ainda maior da pressão dos EUA sobre Zelensky antes de concordar com um cessar-fogo marítimo. Washington disse anteriormente, pela voz do seu presidente, Donald Trump, que seria um passo importante em direção a uma trégua mais abrangente.

Mas as dúvidas não foram totalmente desfeitas. É que a Rússia tem outras exigências que já colocou em cima da mesa – o que, evidentemente, poderá suspender todo o acordo. A Rússia disse que se comprometeria com uma trégua no Mar Negro assim que as sanções dos Estados Unidos às principais instituições financeiras (o Banco Agrícola Russo, entre outros) que apoiam as suas exportações de alimentos fossem suspensas.

“Os Estados Unidos ajudarão a restaurar as exportações agrícolas e de fertilizantes russas para o mercado global, reduzindo os custos dos seguros marítimos e expandindo o acesso a portos e sistemas de pagamento para conduzir tais transações”, dizia a agência TASS. Os EUA terão deixado entender que estão a planear aliviar algumas sanções ao setor alimentar russo, pelo menos segundo a narrativa de Moscovo em relação à última ronda de negociações entre os dois países.

O Kremlin também adiantou que quer que as restrições aos serviços portuários e as sanções a embarcações de bandeira russa envolvidas no comércio de produtos alimentares e fertilizantes sejam suspensas, regressando assim ao que chegou a estar em vigor em 2023.

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