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UE só enviou 3% das 160 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 aos países mais pobres

Das 160 milhões de doses comprometidas, os Estados-membros enviaram apenas 3%. Países com menores rendimentos aguardam pela chegada de pelo menos 156 milhões de doses da União Europeia.
22 Julho 2021, 14h16

Os 27 países da União Europeia enviaram menos de 3% das 160 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 aos países mais pobres. A maioria, foram vacinas da AstraZeneca de acordo com um documento do executivo comunitário a que a “Reuters” teve acesso.

O bloco europeu, que se comprometeu a ajudar a inocular os mais vulneráveis em todo o mundo, tem concentrado todos os seus esforços para vacinar a população do grupo numa altura em que a variante Delta ameaça comprometer os avanços na vacinação. E à semelhança da UE, também os Estados Unidos têm contribuindo para a escassez destes fármacos nos países de menores rendimentos. Ainda assim, as remessas da UE são inferiores quando comparadas com os mais de 15 milhões de doses doadas por Washington e enviadas no mês passado para países da África, Ásia e América Latina como parte da promessa dos EUA de distribuir 80 milhões de vacinas.

Segundo os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), enquanto que as nações mais desenvolvidas já conseguiram vacinar perto de metade da população, nos países mais pobres a taxa de imunização é de 1,3%. Em Portugal, 47% da população já está completamente imunizada contra a Covi-19.

Segundo o documento a que agência teve acesso, os estados da UE, com uma população adulta combinada de 365 milhões, receberam até agora cerca de 500 milhões de doses destes fármacos e esperam quase mil milhões de doses adicionais até o final de setembro. Até 13 de julho, o grupo europeu doou menos de quatro milhões de doses. Ou seja, as restantes 156 milhões de doses ainda não chegaram aos destinos visados, um desfalque que pode comprometer o processo de vacinação, e consequente recuperação, nestes países.

Recorde-se que, a União Europeia tinha-se comprometido em doar pelo menos 100 milhões de doses até ao final deste ano, mas segundo o documento, não existem previsões de datas, nem destinos para que essa meta seja concretizada.

Quanto às doses que foram já distribuídas, estas chegaram a países e territórios com uma ligação próxima aos países doadores, como foi o caso de Portugal e os países PALOP e Timor Leste, numa tentativa de fortalecer as relações com os países vizinhos e aprofundar os laços diplomáticos.

A fraca doação de vacinas a países com maiores necessidades poderá agravar as críticas aos países mais ricos que não prestaram apoio suficiente para combater a pandemia e monopolizaram o fabrico de vacinas. A própria OMS alertou que a falta de apoio a estas nações poderá resultar em prejuízos na ordem dos milhares de milhões de dólares uma vez que esta desigualdade no processo de imunização tem um “impacto duradouro e profundo na recuperação socioeconómica” destes países.

Até ao momento, o programa de vacinação mundial Covax já distribuiu 135 milhões de doses a nível mundial, mas continua fortemente dependente de doações. Enquanto estas continuam a ser insuficientes, o concelho de administração da aliança Gavi, fundada por Bill Gates e pela ex-mulher, Miranda Gates, aprovou um fundo de 775 milhões de dólares para financiar a distribuição de vacinas aos países mais pobres nos próximos dois anos. Com este esforço, a Gavi espera que a Covax consiga distribuir até 1,8 mil milhões de doses de vacinas a países com menos rendimentos até ao final do primeiro trimestre, de 2022.

Além das remessas insuficientes, o documento realça como até agora maioria das doações foram de vacinas da AstraZeneca que foram alvo de polémicas no espaço europeu devido à formação de coágulos sanguíneos extremamente raros, as restrições que foram aplicadas na sua administração e o incumprimento da farmacêutica no fornecimento de doses. Segundo a decisão de um tribunal belga, a farmacêutica anglo-sueca deve entregar 15 milhões de doses até 26 de julho, outras 20 milhões até 23 de agosto e outras 15 milhões até 27 de setembro.

A Johnson & Johnson, a vacina de toma única, é a segunda escolha mais frequente para doações, embora uma grande parte das promessas seja para doses não especificadas.

A Alemanha, o maior país da UE, comprometeu-se em doar 33 milhões de doses, diz o documento, 30 milhões das quais são doses da AstraZeneca e J&J e os outros três milhões ainda não especificados. Já a França, que se comprometeu em doar 60 milhões de doses através da Covax, apenas enviou 800 mil vacinas, sendo que dessas, metade foram para antigas colónias como o Senegal, Mauritânia e Burkina Faso.

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