Não é de hoje que Carlos Augusto Monteiro recusa dinheiro. O professor emérito da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) diz não a investimentos privados nas pesquisas do Nupens, o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, desde a criação do grupo, em 1990. Foi de lá, e com financiamento público, que saiu o conceito de ultraprocessados, a partir da chamada classificação Nova, cunhada no fim dos anos 2000.
Esta é, hoje, base para o Guia Alimentar para a População Brasileira, e divide os alimentos em quatro categorias: in natura – carnes, frutas, legumes, vegetais –, ingredientes culinários – óleo, farinhas –, processados – pães, queijos, frutas em conserva – e ultraprocessados – formados com fragmentos de alimentos através de processos industriais que não podem ser replicados em casa. Segundo este docente, a relutância em aceitar financiamentos privados está por trás da existência desta classificação, que bate de frente com a indústria de alimentos.
Apesar de ser amplamente adotada nos dias de hoje em guias alimentares a nível mundial, e por órgãos como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), a ideia não foi aceite pela comunidade científica de cara. Até então, a leitura de um alimento era baseada nos seus nutrientes, como gordura e fibras. Ainda há quem critique a separação, considerada por vezes rigorosa. Josiemer Mattei, investigadora da Universidade Harvard (EUA), é uma das que apontam que parecem existir ultraprocessados melhores e piores para a saúde. São debates saudáveis – afinal, a ciência constrói-se no desafio às hipóteses.
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