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Um ano depois, ainda se bebe Coca-Cola na Rússia. Mais de 1.200 empresas saíram do país mas as marcas continuam lá

Lista elaborada pela Universidade de Yale mostra que apenas 517 empresas saíram definitivamente da Rússia desde que o país invadiu a Ucrânia. E apesar dos embargos, há empresas portuguesas que continuam a fazer negócios em russo.
24 Fevereiro 2023, 09h00

A invasão da Rússia a território ucraniano, que esta sexta-feira perfaz doze meses, resultou em mais de 13 milhões de refugiados, com o conflito a refletir-se também no abandono das marcas numa posição de força contra a guerra.

Ao longo do último ano, mais de 1.200 empresas anunciaram a retirada repentina do território russo, mostrando assim uma posição em relação às ações do presidente da Rússia, Vladimir Putin e do Kremlin. Mas se é verdade que mais de 1.200 empresas abandonaram a Rússia o mesmo não se pode dizer dos produtos fabricados por essas marcas “dissidentes”.

Uma lista elaborada pela Universidade de Yale mostra que apenas 517 empresas saíram definitivamente da Rússia. Entre estas empresas, esta entidade destaca a Accenture, Adidas, Aldi, BlackRock, BP, Cisco, Deloitte, H&M, IBM, LVMH, McDonald’s, Netflix, Qantas Airlines, Starbucks.

As portuguesas Galp e Prio têm também nota máxima na saída da Rússia, não tendo mais nenhuma relação no país e evitando a compra de petróleo ou gás russo desde o início da guerra. Sem qualquer menção na lista de Yale, a Jerónimo Martins retirou da marca Biedronka (supermercado que detém na Polónia) todos os produtos de origem russa ou bielorussa. Também a Juliepedra (indústria do mármore) e a Navigator (papel) estão também na lista ‘verde’.

Por sua vez, a Ikea e a Inditex (dona da Zara) retiraram todos os seus produtos das prateleiras e encerraram todas as lojas que tinham no país, obtendo a nota máxima na lista de Yale. No entanto, alguns produtos destas marcas continuam a entrar no país liderado por Putin.

A maioria dos produtos destas empresas não está sujeito às sanções da União Europeia e os cidadãos russos continuam a ter acesso às mesmas através de países vizinhos, com Moscovo a permitir a entrada dos produtos mesmo que não se vendam no país. Mesmo que os países vizinhos não vendam aos russos, os cidadãos têm acesso aos produtos nos mercados online e só têm de saber onde os encontrar.

Ora, a entrada dos produtos de empresas que já não operam no mercado russo demonstram o desafio das trocas comerciais e a falta de controlo que as empresas têm nas redes de abastecimento quando abandonam um mercado. O mercado russo é o exemplo: as empresas estão fechadas ao comércio mas os produtos continuam a existir no país.

O mercado mais próximo da Rússia é a Bielorússia, um aliado de Putin e que permite a entrada de cidadãos de países vizinhos. Aí, os russos vão usufruir de lojas e marcas que já não têm no país desde o ano passado, como é o exemplo das lojas da Inditex, como a Zara ou Massimo Dutti. De recordar que o grupo de Amancio Ortega encerrou os 502 estabelecimentos que detinha na Rússia no início da guerra e depois vendeu-os ao grupo Daher, que tem sede nos Emirados Árabes Unidos.

A Coca-Cola é uma marca que tem o selo ‘amarelo’ da Yale: suspendeu as operações na Rússia mas está presente no país através da Costa Coffee. No entanto, o refrigerante está também presente através de importações da Europa, Cazaquistão, Uzbequistão e da China. À venda no país, muitas latas e garrafas apresentam rótulos diferentes, que chegam também com custos distintos.

Por sua vez, a Corticeira Amorim está na lista ‘laranja’, o segundo pior alerta da Yale. O selo ‘laranja’ define que as empresas suspenderam temporariamente novos investimentos mas que continuam a fazer alguns negócios paralelos com o país. A única indicação que surge na Corticeira Amorim é que tem “atividade comercial suspensa”.

Nesta lista constam ainda outras empresas portuguesas como a Carmim (vinhos e azeite da Monsaraz), J. Neves & Filhos (comércio e indústria de ferragens) e a Mocapor (comércio e indústria de mármore).

Na lista ‘amarela’ surge o nome da ConforStep (indústria do calçado), enquanto a Ideal Molde (moldes e plásticos) tem o selo ‘vermelho’ de Yale, o pior da escala, significando que continua a fazer negócios com empresas russas.

O que são importações paralelas?

O mercado português já utiliza importações paralelas no caso dos medicamentos, desde que o fármaco tenha autorização de introdução num país da União Europeia, ou seja, é aprovado sob as regras transversais a todos os países da moeda única. Isto simplifica os procedimentos e resulta numa maior acessibilidade mas também mais barata.

Ora, os russos têm aproveitado as importações paralelas para ter produtos de marcas que cancelaram a presença no país. Com este tipo de importações, os retalhistas conseguem introduzir produtos do estrangeiro sem necessitar da permissão do proprietário da marca ou empresa.

Atualmente, a Rússia dispõe de várias plataformas online que vendem artigos importados, com os vendedores a anunciar que estes chegam do estrangeiro. Um exemplo: o Wildberries está a vender produtos antigos da empresa de Amancio Ortega, dispondo de quase 17 mil artigos da Zara.

E porque se continua a beber Coca-Cola na Rússia? A “culpa” é das importações paralelas que permitem que os consumidores saibam que estão a consumir a bebida original e não de marca branca. Neste caso, os preços variam consoante o país de origem.

Que empresas permanecem na Rússia? 

A chinesa Alibaba é uma das empresas que mantém presença na Rússia, nomeadamente através de uma joint venture e participação na rede social russa VK. O retalhista francês Auchan (também em Portugal) está presente na Rússia, tendo alcançado 3,5 mil milhões de dólares em receitas no ano passado.

Também a marca Calzedonia tem lojas abertas no mercado russo, empregando centenas de funcionários, e o mesmo acontece com a retalhista norte-americana Carl’s Jr, que soma 17 lojas no país. A francesa Clarins e a norte-americana Cloudflare mantêm os negócios na Rússia, enquanto a Emirates e a Etihad continuam a voar para o país.

O Hard Rock Cafe dispõe de duas lojas na Rússia, uma em Moscovo e outra em São Petersburgo. Também a La Redoute e a Lacoste continuam a negociar na Rússia.

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