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Um Muro no Meio do Caminho. Não demove a esperança

Julieta Monginho tem um ritual: escreve todos os dias e quase todas as noites peças processuais e ficção. E garante que há mais semelhanças entre os dois tipos de escrita do que pode parecer à primeira vista. É escritora e magistrada do Ministério Público, ou na ordem inversa.
9 Fevereiro 2018, 10h40

Desde o seu primeiro livro, “Juízo Perfeito” (1996), que a escrita habita os lugares por onde tem passado na missão que lhe compete desempenhar, do STJ, ao DIAP de Lisboa passando pelo Tribunal Cível de Lisboa, quando era Procuradora da República e deu à estampa o seu sétimo livro, “A Terceira Mãe” (2008), vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela APE. Publicou “Metade Maior” – finalista dos Prémios Fernando Namora e Correntes de Escritas – em 2012 e agora volta a brindar-nos com um novo romance.

“Um Muro no Meio do Caminho” tem a chancela da Porto Editora e conta-nos histórias de refugiados que deixaram tudo para trás em busca de uma vida na Europa. Ou melhor, numa ‘certa’ Europa: “Alemanha, a terra prometida. Exibida no mundo inteiro como a capital da Europa. Ninguém se admire que seja também a capital do desejo. E a Suécia, a norte, a sedução do estado social, do que resta dele. Os outros não contam. Chios, Atenas, Lisboa, pertencem ao mapa desenhado, não ao mapa idealizado da Europa.”

No verão de 2016, a autora esteve na ilha grega de Chios como voluntária num campo de refugiados. Testemunhou as suas vidas suspensas e não resistiu ao “apelo de imaginar um passado e um futuro e uma história entre o antes e o depois”. Critica o paternalismo do Ocidente, a tendência para avaliar as coisas – as pessoas – de um ponto de vista superior, e deixa um alerta: “lamento dececionar as almas caridosas, complacentes com a realidade e as suas injustiças. Nos campos de refugiados ninguém estende a mão à esmola. Habitam o chão e o céu que os desprotege.”
O chão pedregoso e árido, as tendas que desbotam, o tempo que se arrasta, as autorizações que não chegam, os sorrisos das crianças que ainda se abrem à chegada dos voluntários, a palavra certa no momento certo – tarefa titânica de chegar ao outro –, a ‘proeza’ de salvar uma vida quando a vontade, a ambição é salvar dezenas, centenas… Apesar de todos os muros, Julieta Monginho continua a acreditar, continua a “esperar que a concretização do direito de asilo na Europa possa ainda tornar-se realidade”.

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