Deixar as coisas pela metade raramente constitui uma boa decisão, a menos que o racional seja outro e corresponda a uma manobra de diversão ou para “inglês ver”. As medidas de apoio às empresas, anunciadas pelo Governo no mês passado, não são nem uma coisa nem outra, mas arriscam não atingir os efeitos pretendidos e poderão até contribuir para um agravamento da situação.

O layoff simplificado e as linhas de crédito garantidas a 80% pelo Estado são medidas muito positivas, como já aqui escrevemos, mas a sua implementação está a demorar tanto tempo que nos arriscamos ao pior cenário, isto é, o dinheiro não chega atempadamente às empresas e às famílias, mas o país fica ainda assim mais endividado.

Portugal corre o risco de ser aquele personagem indeciso que está no meio de uma ponte de cordas – daquelas ao estilo da selva – mas não avança nem recua. O nosso aventureiro com chapéu à Indiana Jones sabe para onde deve dirigir-se, mas fica paralisado enquanto as cordas da ponte ameaçam rebentar, uma a uma. Enquanto isso, no fundo do desfiladeiro os crocodilos aguardam. Há situações em que ou avançamos ou recuamos e não pode haver meio termo. Esta é uma delas. Milhares de empresas continuam à espera dos apoios do lay-off e, para muitas, as linhas de crédito só estarão disponíveis no final de maio. Até lá, muitas não conseguirão pagar salários, outras terão de fechar portas e largos milhares de portugueses vão passar por situações que julgávamos já não ser possíveis.

A situação que o mundo enfrenta não é fácil e nenhum governo estava preparado para o que está a acontecer. Mas está muita coisa em jogo e é urgente que o dinheiro chegue às empresas e que, desta forma, seja possível manter os rendimentos das famílias e minimizar os estragos no tecido produtivo. A retoma da economia vai depender disto. A despesa que fizermos agora poderá ser, é certo, o imposto de amanhã. Mas também podemos afirmar, com elevado grau de certeza, que muita da despesa que ficar por fazer hoje terá como contrapartida menos receita fiscal no futuro.