[weglot_switcher]

Um telemóvel dura 2 anos. Podia durar 10 anos se os fabricantes quisessem, revela especialista

A indústria dos eletrodomésticos em geral e dos smartphones em particular é acusada de programar um curto período de vida para os seus produtos. Mas tardam as leis que possam impedir esta prática, lesiva dos consumidores.
  • REUTERS / Dado Ruvic
15 Novembro 2018, 15h11

A programação para que determinados objetos se tornem obsoletos afeta produtos de múltiplos setores, entre os quais os têxteis, os eletrodomésticos e também os smartphones, como várias fontes têm vindo a evidenciar. Em muitos casos, estes aparelhos diminuem a velocidade de uso e começam a falhar poucos anos depois de serem comprados.

“Absolutamente todos os fabricantes de smartphones praticam isso. Quando começam a atrasar ou certos aplicativos não funcionam, o usuário reinicia o aparelho e acha que é normal”, disse Benito Muros, presidente da Fundação Energia e da Inovação Sustentável sem Obsolescência (Feniss), citado pelo jornal ‘El Pais’.

Atualmente, a vida de um telefone, diz, é de dois anos. Depois, é comum começar a dar problemas e Muros explica que a sua reparação pode custar até 40% do preço de um novo. “Se a obsolescência programada não existisse, um smartphone teria uma vida útil de 12 a 15 anos”, diz.

A Autoridade Italiana de Concorrência e Garantia de Mercado impôs há dois meses atrás uma multa de cinco milhões de euros à Samsung e outra de 10 milhões à Apple por forçarem os seus clientes a realizar atualizações de software que retardaram os aparelhos. Ambas as empresas foram acusadas de realizar “práticas comerciais desleais” que causaram “avarias graves em dispositivos e reduzem significativamente o seu funcionamento, acelerando assim a sua substituição por produtos mais novos”.

Em Espanha, um decreto de fevereiro de 2015 relativo aos resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos inclui a obrigação de os fabricantes conceberem os aparelhos de forma a prolongar ao máximo a sua vida útil. E a Comissão Europeia propõe que, em 2020, a informação de durabilidade seja obrigatória.

Mas, enquanto em países como Itália ou França, as leis já vão no sentido de proibir totalmente essas práticas, na maioria dos países não existem normas legais que penalizem as empresas que as fazem.

A França foi o primeiro país europeu a introduzir medidas para erradicar esse tipo de práticas que não podem ser mantidas porque exigem o uso de recursos naturais finitos, geram grandes quantidades de resíduos e uma perda económica para o consumidor e têm consequências negativas para a saúde pública e para o meio ambiente.

Organizações como a Feniss ou os Amigos da Terra tentam consciencializar os políticos sobre a importância de acabar com esse vácuo legal. Esta última associação iniciou uma campanha em 2017 para solicitar ao Ministério das Finanças espanhol uma redução do IVA aplicada a serviços de reparação e a estabelecimentos de segunda mão e de aluguer – dos atuais 21% para 10% .

“Temos quase cinco mil assinaturas e reuniremos em breve com os ministérios para tentar tornar o pedido efetivo”, diz Alodia Pérez, responsável pelos Recursos Naturais e Resíduos da Amigos da Terra. Perez explica que as pessoas trocam de smartphone em média uma vez por ano e que os primeiros telefones móveis tiveram uma vida útil de média de seis anos. “Vivemos na era da obsolescência programada. Não apenas em smartphones, mas também em móveis, calçados ou eletrodomésticos. As máquinas de lavar roupa que os nossos pais tinham duravam 20 ou 30 anos e agora duram pouco mais de sete”, afirma. É, diz ele, uma estratégia de mercado estabelecida para continuar a vender, mas que lesa o ambiente a os consumidores.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.