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Um Tesouro num vaso de barro

Tantas são as vezes que nos esquecemos ou simplesmente não nos apercebemos disto mesmo, que todo o conhecimento humanista, que a História, como as expressões artísticas têm como principal objectivo, estimular o espírito crítico e a reflexão, primeiro sobre o passado, tornando-o inteligível; depois sobre o presente, tornado-o questionável; e depois sobre qual o futuro que verdadeiramente queremos, lembrando-nos de que somos capazes de sonhar!
2 Abril 2019, 07h15

Mais importante do que uma qualquer embalagem ou invólucro, o que realmente importa é a sua essência, o tesouro que está no seu interior. Tão pouco é importante quem o carrega…

A sociedade contemporânea da pós-mundialização, é a mesma sociedade da perversidade do controlo e do conflito, e desta vez já sem qualquer pudor e decoro.
Uma sociedade que escolhe e vende a embalagem, diga-se a aparência, em detrimento da substância genuína: o nosso tesouro de beleza e bondade, que habita em nós desde a Criação.
Depressa, nesta nossa sociedade, e com uma velocidade voraz, assistimos quase passivamente à afirmação da “deseducação” como nova ferramenta de controlo e instrumento de poder.
E, à “ignorantização da sociedade” como projeto político de controlo de massas, comum aos totalitarismos ideológicos.
Este sentimento, simultâneo ao meu dever de denúncia, não é sobre uma qualquer terra distante “terceiromundista”, é sobre a nossa Europa: uma nova estética da violência, volta a estar disseminada no seu seio, e volta a ser tida como um produto adquirido e aceite!
Tão depressa nos esquecemos de Auschwitz, e dos genocídios no Kosovo…

Porventura a dificuldade de amar de que nos fala Bauman, não será uma consequência dos novos dominadores da sociedade contemporânea?
O medo não continuará a ser o melhor instrumento de controlo, ocupando o lugar do Amor e da Liberdade?
Sim, porque, parafraseando Santo Agostinho, só quando Amamos somos livres!

Insisto por isso, que a Educação está intimamente relacionada o ato de Amar o outro e o mundo em que vivemos.
E, acredito que esta é a única forma de mudar o mundo.
Não se trata de demagogia, nem de utopia, mas de um desafio ao alcance de todos, e pelo qual todos somos responsáveis!

O psiquiatra Claudio Naranjo destaca que: “Quando há amor na forma de ensinar, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo.”
É por este propósito, que queremos um ensino, capaz de uma Educação integral, centrado na pessoa do aluno!
Do mesmo modo, o filósofo Edgar Morin alerta-nos:“A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida.”

Tantas são as vezes que nos esquecemos ou simplesmente não nos apercebemos disto mesmo, que todo o conhecimento humanista, que a História, como as expressões artísticas têm como principal objectivo,
estimular o espírito crítico e a reflexão, primeiro sobre o passado, tornando-o inteligível; depois sobre o presente, tornado-o questionável; e depois sobre qual o futuro que verdadeiramente queremos, lembrando-nos de que somos capazes de sonhar!

O mesmo Morin, diz-nos que “os jovens têm de conhecer as particularidades do ser humano e o papel dele na era em que vivemos.” E, que o atual “sistema educacional não incorpora essas discussões e, pior, fragmenta a realidade, simplifica o complexo, separa o inseparável, ignora a multiplicidade e a diversidade.”
A partir desta ideia o autor desafia-nos ainda, sobre a necessidade de educar aqueles que nos educam e de realizar um trabalho profícuo e interdisciplinar.

Aprender História não serve apenas para conhecermos o passado, mas para antevermos o nosso futuro e ao fazê-lo saibamos operar no presente as transformações necessárias à construção de um mundo melhor.

Persistirei em querer continuar a levar este nosso tesouro, sem prata nem ouro, num simples vaso de barro, cada vez mais partido…

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