No dia 26 de setembro ninguém quererá saber das eleições autárquicas em Portugal, tirando nós próprios, portugueses. Nessa mesma data outras eleições terão lugar e, nessas sim, estarão postos os olhos, não apenas da Europa mas de todos os continentes, ansiosos por confirmar quem ocupará o cargo de Chanceler da Alemanha.

Esta semana, o “The New York Times” destacou em primeira página um artigo de Anna Sauerbrey, jornalista do diário germânico “Der Tagesspiegel”, intitulado “Imaginando a Alemanha depois de Merkel”. Não é um processo fácil. Como política, Merkel conseguiu criar uma marca própria desde que iniciou o seu caminho político pela mão de Helmut Kohl até se tornar – como titula uma das suas biografias – “a política mais influente da Europa”, ou mesmo, para usar as palavras da revista “Visão” em 2017, “A mulher mais poderosa do mundo”.

Como escreveu então Mafalda Anjos, “Angela, com o seu perfil contido e sua abordagem científica, afasta o fantasma ainda latente de um chanceler imprevisível e perigoso. Toldada pelo passado recente, a psicologia da nação alemã prefere a monotonia segura ao risco de ter surpresas desagradáveis”. Mas, quatro anos passados, os alemão parecem cansados da monotonia.

Para o lugar de Merkel, os candidatos a considerar seriamente são apenas dois. Armin Laschet, do mesmo partido, a União Democrática Cristã (CDU) e Annalena Baerbock, do Partido Verde. Laschet é ainda novo para um líder político com os seus 60 anos. Mas Baerbock é mais nova ainda, com apenas 40, a mais nova candidata de sempre ao lugar de Chanceler. No “Politico”, as sondagens estão taco a taco: 24% dos votos para cada um. Mas noutra sondagem da empresa Kantar, os Verdes lideram com 28%, seis pontos à frente dos 22% da CDU.

Depois de um governo que durou 16 anos, a culpa de uma eventual derrota não será atribuível a Merkel. Mas é verdade que essa marca própria que cunhou e mencionei não parece ser transmissível para o partido e o seu candidato. Entre a continuidade e a mudança, as apostas encaminham-se para que os alemães escolham Annalena Baerbock, estratega jovem mas tenaz, e alguém que conseguiu liderar um partido com 5 a 6% de aprovação até torná-lo na força política que é hoje.

Uma vantagem sem maioria clara dos Verdes colocá-los-á frente a uma escolha: liderar uma coligação com os democratas-cristãos ou com os social-democratas do SPD. Seja como for, será uma mudança significativa, não apenas na Alemanha mas também na Europa. Baerbock e os Verdes têm uma agenda inequívoca no que toca às questões dos direitos humanos e têm assumido uma postura progressivamente mais contundente em relação à Rússia e à China.

Para os mercados, o que conta é aquilo que podem esperar do próximo Governo em termos de política fiscal e económica. Para os analistas do ING, por exemplo, “uma coligação CDU/Verdes favoreceria mais estímulos fiscais, dando continuidade à linha do atual governo, intensificando assim os investimentos”.

É ainda cedo para certezas quanto ao futuro, mas não para elogiar o trabalho de Angela Merkel. Imaginar uma Alemanha sem ela não será tarefa fácil.

 

 

Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento

Vão daqui os meus parabéns a Pedro Morgado, psiquiatra no Hospital de Braga e professor na Escola de Medicina da Universidade do Minho. Após vencer agora o FLAD Science Award Mental Health, o jovem investigador prosseguirá o trabalho de  desenvolvimento da sua investigação clínica para o tratamento das doenças obsessivo-compulsivas.