3 de agosto de 2014. O Governador do Banco de Portugal anuncia a resolução do BES e a criação de um banco bom com a designação de Novo Banco, que é para vender num curto espaço de tempo. 8 de outubro de 2014. A então ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, diz que Novo Banco é para vender o mais depressa possível e que está confiante de que a venda ficará fechada até ao final do primeiro trimestre de 2015. 31 de março de 2017. 17 manifestações de interesse em dezembro de 2014, dizia então o Governador do Banco de Portugal (BdP) e três processos negociais depois, restou um interessado, o Lone Star, que ficou com 75% da instituição.
Que o negócio não é bom, ninguém duvida. Que podia ser melhor, ou até outro, parece que só o PSD acha, o que é extraordinário e de uma ausência de auto-crítica e até de vergonha política, dada a forma absolutamente desastrosa como conduziu o processo desde o primeiro dia. Hoje, o mesmo PSD dirá que a decisão coube ao BdP, mas nunca ninguém ouviu Passos ou Maria Luís dizer que discordavam da resolução. Tal como nunca explicaram porque a celebraram e repetiram vezes sem conta que era a única solução que protegia os contribuintes. Foi com o PSD ainda no governo que foram conduzidos dois processos negociais que deram em nada. Foi também o PSD que reconduziu atabalhoadamente Carlos Costa no BdP. E agora é o PSD que exige explicações sobre um negócio que dizem mal feito.
A política deve ter limites e este é um deles. Se o governo da coligação teve o mérito – e teve – de conduzir Portugal num duríssimo programa de ajustamento, ficará também para a história como o governo mais inábil de sempre a gerir o pilar mais importante de qualquer economia: a banca. De tão cegos, autistas e obstinados em “ensinar uma lição” aos Donos Disto Tudo, levaram até às últimas consequências a ideologia e a moral, sem pararem para avaliar a sentença que deixavam à banca.
Alguns dirão que aquilo que se fez em Portugal tem o mérito de ter enfrentado sem medo os poderes instalados. Mas se há prova que os meios não devem justificar os fins é esta: fizemos um péssimo negócio. Condenámos milhares ao desemprego a prazo porque o Lone Star fará em Portugal o que fez no resto do mundo. Já agora uma nota para as críticas ao facto do Estado ter 25% de uma instituição em que não manda e de podermos vir a ter de compensar o Lone Star por perdas futuras. Certamente que nenhum governo, da direita à esquerda, aceita de bom grado condições destas. Obviamente que foi Bruxelas que assim obrigou.
Podíamos ter feito melhor negócio? Desde o dia 3 de agosto de 2014 que não. Portanto, se alguém tem de explicar como chegámos aqui são Passos e Maria Luís Albuquerque. Ou então que escolham o silêncio, que é como quem diz decoro.
Abril de 2017. Aguarda-se com expectativa uma direita recomposta capaz de nos voltar a bem servir.