Nos tempos de José Sócrates dizia-se que o país precisava de mais investimento público para a economia crescer. Em consequência, o Estado só não faliu devido à ajuda internacional. Nessa altura já não se falava de investimento público; a “espiral recessiva” era a expressão da moda. Dizia-se que as políticas seguidas por Passos Coelho conduziriam Portugal a uma recessão cada vez mais profunda. Que sem o investimento público, que tinha conduzido o Estado português à quase falência, o país se afundaria sem salvação possível.
Entretanto, as reformas do governo PSD/CDS lá foram dando frutos; o crescimento económico, que já estava estagnado, regressou, o desemprego baixou e a dívida pública, face ao PIB, desceu. Nesse momento preciso e único da história do Portugal recente, a esquerda portuguesa não teve discurso. Por isso, perdeu as eleições de 2015.
Foi então que a esquerda dona disto tudo reagiu. Tinha de o fazer. Se o governo PSD/CDS continuasse, a direita colheria os frutos do seu trabalho, as reformas (parcas, é certo, mas reformas) mostrar-se-iam correctas e o país exigiria mais. A continuação do governo PSD/CDS em 2015 ditaria o fim do monopólio ideológico que a esquerda impôs a Portugal, com os resultados conhecidos. Seria o fim da narrativa dominante. Algo impensável, inimaginável e não possível para pessoas como António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins.
Perante esta eventualidade, esta esquerda uniu-se e aprovou um governo de um partido em quem os portugueses não votaram. Para não se comprometerem em demasia, BE e PCP decidiram protestar, em voz alta e zangada, nos encontros que tinham com os seus militantes, enquanto votavam favorável e silenciosamente, no Parlamento, as políticas do PS. O Governo de Costa lá se aguentou com o crescimento da economia advindo das reformas do governo de direita e do milagre económico europeu sustentado pelo BCE e o cada vez maior endividamento dos EUA.
Mas nada dura sempre. Os efeitos do que foi feito entre 2011 e 2015 acabam. A fórmula do BCE, porque não estrutural mas provisória, um dia termina. O balão de oxigénio que foi a retoma destes três últimos anos esvazia-se. A 12 de Julho último, a UE reviu em baixa o crescimento europeu e alertou para “riscos significativos” para a nossa economia. A dívida pública portuguesa atingiu novo recorde em Maio, apesar do crescimento de que todos se orgulham. Há dez anos não havia dinheiro para investimento público; há cinco nem para isso nem para pagar salários; agora já nem sequer para contratar enfermeiros. Não se aprendeu nada e, por isso mesmo, esta breve história do Portugal recente continuará igual a ela própria.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.