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Uma história de independência. “Foi para além do limite”

A independência financeira passa muitas vezes pela acumulação de dois ou mais empregos. Os custos pessoais podem, no entanto, ser elevados.
26 Junho 2018, 07h25

Não é comum haver trabalhadores a acumular três atividades em simultâneo, mas o caminho que Gonçalo Corceiro percorreu até tomar essa decisão também é atípico. Depois de passar a infância e a adolescência num ambiente familiar tenso e com fortes restrições financeiras, a ambição de ter independência económica sobrepôs-se a todas as outras.

Começou a trabalhar na construção civil ainda antes de ir para a faculdade, aos 16 anos, e teve empregos a tempo parcial enquanto tirava o curso de Química. Mas depois da universidade viu-se pela primeira vez numa fase prolongada de desemprego, e encarou a tropa como uma oportunidade. Abraçou o serviço militar com um contrato de sete anos, só que algo continuava a suscitar-lhe desconforto, tendo crescido num ambiente pouco propício a gastos: tinha comprado casa com recurso a um empréstimo bancário e não queria ficar sem ela ao fim de sete anos, se porventura ficasse sem emprego depois do serviço militar. Pôs na cabeça “trabalhar que nem um desalmado enquanto podia e era novo, com o fim objetivo de ter a casa paga antes do fim do contrato da tropa”.

Foi assim que encontrou dois trabalhos em part-time para aumentar o rendimento e ir amortizando antecipadamente a dívida ao banco. Quando não estava nas várias unidades onde esteve destacado,  enquanto oficial subalterno do Exército, estava a fazer telemarketing num call center e a fazer rondas em instalações de empresas e de estabelecimentos comerciais, como vigilante noturno.

O objetivo foi concretizado – a habitação própria foi paga antes do prazo do empréstimo –, mas saiu-lhe da pele. Durante dois anos não soube o que era jantar durante a semana. A marmita era obrigatória e a tropa era crucial, porque levava as sobras das refeições e ia comendo quando podia durante o resto do dia. Os horários variaram ao longo daquele período, e Gonçalo jogava com as folgas e as férias de cada emprego, além dos fins de semana, para trabalhar nas alturas de suposto descanso. Mas foram várias as vezes em que teve de entrar na tropa às 8h para sair às 17h, seguir para o call center das 18h às 22h, e dali partir para o local onde era segurança noturno, com um horário da meia-noite às 6h, voltar ao serviço militar durante o dia, depois ao call center e só então descansar.

Os intervalos entre empregos eram apenas os transportes de um local de trabalho para o outro. “Foi para além do limite”, admite Gonçalo, que sublinha, no entanto, as mudanças que esse esforço proporcionou. “Felizmente, após tudo isto consegui um estilo de vida que não quero perder, e que faz com que consiga poupar, mês após mês. Acredito cada vez mais que estou numa situação de independência económica”.

Apesar de estar a avaliar a possibilidade de emigrar, essa opção não se deve a motivos profissionais, e sim pessoais. É um final feliz com a namorada  estrangeira.

Artigo publicado na edição semanal do Jornal Económico. Para ler a versão completa, aceda aqui ao JE Leitor

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