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Uma ode ao Telexfree da Esquerda

Os subsídios servem e bem para apoiar as famílias em situações de emergência que acontecem ao longo da vida, mas nunca para combater a pobreza de forma estrutural porque aí não estamos a combater a pobreza, estamos a criar dependentes. A única forma de poder redistribuir riqueza, é ter riqueza para redistribuir!
27 Outubro 2020, 07h15

No dia 20 de Outubro, o JM-Madeira publicou um artigo de opinião de um dos seus colaboradores que imagino pretendia ser uma ode ao mundo fantástico idealizado pela Esquerda política, mas que se transformou num choque de realidade para os leitores com o mínimo de pensamento crítico.

Comecemos pelo básico. O autor do texto seguramente não sabe, mas o Estado Social, como ele designa, nasce da ideia de Economia Social de Mercado, ideia essa criada e implementada principalmente pelos partidos Democratas-Cristãos Europeus no pós-guerra. Ora como todos sabemos os partidos Democratas-Cristãos fazem parte do espectro político de direita. Ao contrário do que muito se afirma em Portugal não é a Esquerda o guardião do Estado Social. O Estado Social tem como pilar a economia de mercado, algo que a Esquerda sempre abominou. É a economia de mercado que alimenta sequer a possibilidade de Estado Social, pois é ela que encontra a produção de riqueza suficiente para tornar esta ideia em realidade. O mundo que a Esquerda sempre defendeu é um mundo sem liberdade de escolha e na verdade sem qualquer liberdade porque baseia-se na ideia de um Estado todo poderoso que sabe o que é melhor para todos e que concentra nele todas as escolhas e opções. Sem liberdades económicas; sem que cada cidadão consiga suster-se a si e à sua família sem depender de ninguém, não existe qualquer outra liberdade, porque nenhum de nós consegue morder a mão que nos alimenta.

O artigo começa por discordar de uma frase complemente sensata do líder do PCP na Madeira que afirmou simplesmente: “a pobreza não se combate com subsídios, mas através do trabalho”. O texto vai ainda mais longe e afirma, referindo-se às sociedades capitalistas: “a “coerção” para trabalhar é o aspecto central da alienação”. Depois de ler estas frases é óbvio que imaginei que o autor estivesse num daqueles dias, que todos nós temos, em que ao acordar de manhã, tudo o que queríamos mesmo era poder ficar em casa sem ter que fazer nada e que alguém, por magia, nos enviasse na mesma o cheque para casa. Seria um mundo perfeito como imaginou o autor, ficamos todos em casa, aproveitávamos a nossa conta de Netflix ou HBO, comíamos uma fantástica lasanha (apenas preferência pessoal) encomendada através de uma qualquer aplicação de encomendas e acabávamos o dia a beber um bom vinho enquanto ouvíamos boa música.

O problema nesta fantástica ideia é que como trabalhar é uma chatice o programador da Netflix também decidiu ficar em casa e por isso a minha conta da Netflix neste dia deixou de funcionar. A minha fantástica lasanha nem chegou a ser cozinhada porque não queremos coagir o cozinheiro a ter que ir trabalhar, mas também não serviria de muito que ele a fizesse já que nenhum estafeta estava disponível para me vir entregar a refeição porque felizmente estamos todos a aproveitar os cheques grátis que nos chegaram a casa. O vinho também não consegui comprar, pois não encontrei nenhum supermercado aberto e como estamos há meses a receber os cheques grátis ninguém teve muita vontade de ir apanhar as uvas. Pior do que tudo, parece que estão a acabar os cheques grátis porque, entretanto, como incentivamos ao máximo a não produzir nenhuma riqueza o Estado já transferiu a riqueza toda de uns para outros e acabou igual à Telexfree sem mais nada para entregar. O problema de toda esta utopia defendida pelo autor é que se esquece do básico! O dinheiro do Estado não nasce nas árvores! O dinheiro do Estado vem directamente do bolso de cada um dos contribuintes! O dinheiro que o Estado entrega à pessoa A vem directamente do bolso da pessoa B tal como acontecia na Telexfree! Se o Estado decide retirar à pessoa B tanto que cria um incentivo para que ela decida também não fazer nada e ficar à espera de receber o seu cheque grátis, o Estado vai precisar de ir buscar à pessoa C e D para pagar aos dois primeiros até que se chegará ao ponto, igual ao da Telexfree, em que já não há pessoas suficientes para apoiar as outras! Assim sendo, a verdade indiscutível é que como afirmou o Edgar Silva a pobreza combate-se promovendo o emprego, promovendo que cada família se consiga sustentar a si própria. Os subsídios servem e bem para apoiar as famílias em situações de emergência que acontecem ao longo da vida, mas nunca para combater a pobreza de forma estrutural porque aí não estamos a combater a pobreza, estamos a criar dependentes. A única forma de poder redistribuir riqueza, é ter riqueza para redistribuir!

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