Por esta altura do ano começam a surgir os famosos documentos anuais por parte das várias casas de investimento internacionais que projetam o próximo ano. Entre os vários cenários macroeconómicos, que se multiplicam normalmente entre três perspetivas (pessimista, neutra ou otimista), existe um que parece ser relativamente consensual. O cenário de que a economia norte-americana, e consequentemente a economia global, poderão entrar numa recessão a partir de 2019/2020. Um exercício saudável de se levar a cabo quando existe tal consenso generalizado é ponderar até que ponto é que o contrário pode acontecer.
A economia de norte-americana está de facto a experienciar uma das fases de expansão mais longas da sua história. Desde o fundo da última recessão já passaram mais cem meses quando de um ponto de vista histórico as fases de expansão têm em média cerca de 60 meses. Se nos apoiarmos no poder preditivo de mais de cinquenta anos de dados históricos, tudo indica que podemos realmente estar perto do fim da fase de expansão. Se analisarmos as curvas das taxas de juro das obrigações norte-americanas, o baixo diferencial entre as maturidades longas e as mais curtas revela que os investidores antecipam que uma recessão não está longe. Se olharmos para indicadores mais concretos, como o optimismo dos agentes económicos, ou alguns sinais de crescente inflação salarial e assumirmos que vão continuar a melhorar, também podemos deduzir que o fim da fase de expansão pode estar perto.
Mas existe outro cenário que não parece estar a ser ponderado pela maior parte dos analistas e investidores. A possibilidade de que esta fase de expansão económica se prolongue durante mais alguns anos, podendo facilmente tornar-se a fase de expansão económica mais longa de que há registo nos EUA.
Uma recessão económica pode ser causada por vários factores, mas aquele que normalmente precipita recessões em economias que não sofrem choques atípicos é a inflação. A aceleração da inflação leva o banco central a subir as taxas de juro, o que arrefece a expansão de crédito e impacta negativamente as expectativas e o sentimento. A inflação nos EUA está emitir sinais positivos, mas na minha opinião é pouco provável que entre num ciclo de persistente aceleração. Uma renegociação de acordos comerciais dos EUA com a China, ou um pacote fiscal mais benéfico para o consumidor mediano pode levar a inflação mais alta, mas sem esses dois impulsos, parece improvável que a inflação acelere muito para além dos níveis actuais. Algo que deixaria a economia norte-americana em ambiente de Goldilocks durante mais uns anos.
O princípio de Goldilocks é extraído de um conto para crianças em que uma criança chamada Goldilocks prova três taças de papa, e se apercebe que prefere aquela que não está nem demasiado quente nem demasiado fria. Na economia, também preferimos a fase do ciclo económico em que a economia não está nem demasiado quente, nem demasiado fria. Nos EUA, esta fase pode perfeitamente estender-se para além daquilo que o mercado actualmente espera.