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União Europeia rejeita plano de paz dos EUA para o Médio Oriente

Josep Borrell, responsável pela diplomacia comum, afirma que mais anexações e mais colunatos não são a forma de fazer a paz e considera que as fronteiras acordadas em 1967 ainda são o ponto de partida para as negociações.
5 Fevereiro 2020, 07h50

A Europa demorou, como vem sendo seu hábito, a reagir ao plano de paz do presidente norte-americano para o Médio Oriente, mas finalmente o ‘ministro comum’ dos Negócios Estrangeiros, o espanhol Josep Borrell, considerou em comunicado que o projeto não está de acordo com a visão europeia para Israel e a Palestina.

Deste modo, a Europa diz não a Donald Trump. A União confirma que o plano de paz anunciado por Donald Trump como o mais ambicioso e ao mesmo tempo realista não se encaixa nos parâmetros internacionalmente aceites para acabar com o conflito entre Israel e a Palestina. A União também expressa a sua preocupação com as intenções de Israel de continuar com as anexações de território no vale do Jordão e com os colunatos na Cisjordânia.

Os termos da declaração da União já começaram a levantar protestos em Israel, onde se chegou a considerar que a chegada de Borrell àquela pasta poderia melhorar o relacionamento com Bruxelas, que ficou tenso durante o mandato de Federica Mogherini, a antecessora do espanhol. O Ministério das Relações Exteriores de Israel respondeu quase imediatamente que achou “infeliz” a declaração do chefe da diplomacia europeia.

“O fato de Josep Borrell ter escolhido usar linguagem ameaçadora em relação a Israel, pouco depois de assumir o cargo e apenas algumas horas depois de realizar uma reunião no Irão, é lamentável e, pelo menos, anormal”, dizia um texto divulgado no Twitter pelo porta-voz oficial do Departamento, Lior Haiat. “A continuação desta políticas e deste comportamento é a melhor maneira de garantir que o papel da UE em qualquer processo [de paz] será diminuto”, que já manteve funções diplomáticas em Madrid e em Miami.

Recorde-se que Borrell foi recebido no início da semana em Teerão pelo presidente Hasan Rohani, que garantiu que o seu país ainda está comprometido em trabalhar com a Europa para resolver os problemas relacionados com o acordo nuclear. Borrell pretendia, com esta viagem, serenar os ânimos em Teerão e convencer os seus responsáveis de manter o país dentro do perímetro do acordo de 2015 – nomeadamente no que tem a ver com o grau de enriquecimento de urànio, que o Irão ameaçou aumentar se o país se mantiver sob o jugo das sanções norte-americanas e sem uma alternativa política e económica.

Na semana passada, depois de Trump dar a conhecer o teor do plano de paz, a União Europeia emitiu um primeiro comunicado em que afirma laconicamente que iria apreciá-lo à luz da sua já conhecida posição  em favor de uma solução que contemple a coexistência de dois Estados, tomando as fronteiuras de 1967 como referência. Ora, a análise entrretanto realizada confirmou o que muitos analistas vêm dizendo: mais anexações e mais colunatos não indicam que a colonização da Palestina por parte de Israel, condenada pela ONU, esteja a inverter-se.

Borrell, que trabalhou num ‘kibutz’ em 1969 e discursou no Knesset, o Parlamento israelita em 2005 enquanto presidente do Parlamento Europeu, era até agora considerado como um amigo de Israel, mas o regime de Benjamin Netanyahu não gostou do que ouviu da sua parte enquanto responsável pela diplomacia comum.

A União vem assim juntar-se a uma série de outras organizações que já rejeitaram o plano, estando entre elas a Autoridade Palestiniana – o seu presidente, Mahmoud Abbas, rompeu relações com Israel e os Estados Unidos após a iniciativa de Trump – e a Liga Árabe. Apenas a Arábia Saudita e o Egito – antigo inimigo figadal de Israel –  pediram aos palestinianos que “estudassem cuidadosamente” a proposta dos Estados Unidos.

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