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Vai comprar um carro? Conheça as despesas e os cuidados a ter

Pondere bem os factores que implica a compra de um carro e saiba quais as despesas que vão além do preço pago na aquisição. Os custos vão muito além da prestação mensal e no caso dos carros novos implicam despesas com as quais não poderá estar a contar. Saiba aqui os cuidados a ter, como deve avaliar o crédito e os seguros específicos.
  • Cristina Bernardo
20 Novembro 2018, 16h30

As despesas com a compra de um carro vão além do preço pago na sua aquisição. Em causa estão custos como o seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel, os combustíveis, as revisões e inspeções anuais e o imposto único de circulação. Se comprar o carro a crédito, não se esqueça que terá de  incluir esta prestação do empréstimo no orçamento familiar e que o seu impacto será durante anos.

Despesas com o carro

Antes de comprar um carro deve ponderar o seu custo no orçamento familiar. Nas contas a fazer, além do preço de aquisição, deve incluir os encargos com a sua manutenção e com os combustíveis que vão também pesar despesas familiares.

São várias as despesas que devem ser consideradas na compra de um carro. À cabeça está o montante a pagar na compra a pronto pagamento ou a prestação mensal do empréstimo se a opção for a compra a crédito. Mas na lista de despesas junta-se ainda o valor da taxa na conservatória do registo automóvel; o imposto único de circulação, a pagar todos os anos no mês da matrícula do carro; classe nas portagens; bem como os seguros e outros custos como as inspeções periódicas, revisões e reparações.

 

Preço dos combustíveis

Não se esqueça que as contas de combustível continuam a ser uma despesa substancial para quem percorre vários quilómetros e para quem precisa de um carro de trabalho ou familiar de grandes dimensões. Os combustíveis são mesmo um dos fatores mais importantes no que respeita aos custos de ter um carro novo ou usado devido à incerteza e flutuação constante dos preços dos combustíveis.

Nesta avaliação poderá fazer diferença a opção por um carro com motor a gasóleo ou a gasolina. Esta última opção é aconselhável para quem faz menos quilómetros e utiliza o automóvel para trajetos mais curtos. Isto porque e a sua manutenção e os impostos associados são, por norma, mais baratos, compensando o gasto adicional em combustível.

Esteja também atento aos consumos do veículo. Por norma, os carros novos são mais económicos já que gastam menos combustível do que os automóveis mais antigos.

 

Impostos

E se a opção recair sobre um carro novinho na folha de cálculo das despesas terá também de incluir outros custos, pois, além do preço base, terá de suportar uma lista de encargos como o Imposto Sobre Veículos, o IVA e o Imposto Único de Circulação (IUC), sendo que, neste caso, paga mais quem tem carros novos.  A Tabela do IUC para 2018 encontra-se no Orçamento do Estado 2018, sendo que o valor a pagar em 2018 teve um aumento generalizado de 1,4%.

Em 2018 continua a aplicar-se a taxa adicional de IUC aos veículos novos mais poluentes (comprados desde 1 de janeiro de 2017) e aos veículos a gasóleo.

De forma a não prejudicar veículos mais antigos, existe uma forma de diferenciar os veículos consoante o ano com a aplicação de um coeficiente, obtido através do ano de aquisição que varia entre 1,00 para carros adquiridos em 2007 e 1,15 para carros adquiridos em 2010 em diante.

As diferenças de preços de carros novos entre Portugal e Espanha situam-se entre 20% e 30% (mais caro em Portugal), devido à fiscalidade. O peso do ISV e IVA no preço de um carro novo em Portugal varia entre pouco mais de 20% e 50% do preço final (quanto mais cilindrada e poluição – medida em emissões CO2 – maior o ISV).

Já ao nível do IRS, não se esqueça que pode deduzir as despesas reparações automóveis porque é uma das áreas identificadas como de possível fuga ao fisco e, como tal, foi concedido um benefício neste imposto que permite recuperar um pouco daquilo que paga nas reparações. Em causa está a dedução do IVA nas faturas:15% de um valor total destas despesas (mais restaurantes, cabeleireiros e hotéis) com um limite de250 euros  por agregado familiar.

 

Despesas ocultas

Se comprar um carro novo conte ainda com algumas despesas “ocultas” como as despesas de transporte, preparação e averbamento de documentos. São as tais despesas “escondidas”, que a maior parte dos fabricantes de automóveis, seja nos seus concessionários ou nos representantes oficiais, não incluem nas simulações que disponibilizam ou nas tabelas de preços, figurando por norma em letrinhas muito pequenas em rodapé.

Estas ditas despesas administrativas, que vai ter de somar ao valor simulado na marca, acabam por constituir um inesperado valor “extra” a pagar, que pode rondar os mil euros (valor médio para um automóvel de marca generalista, num concessionário em Lisboa).

Por fim, se comprar um carro novo, tenha em atenção a depreciação, o valor espectável do seu carro novo quando o pretender vender. Pois, a diminuição do valor de mercado do seu carro é a maior despesa e basta sair do concessionário para esse valor começar logo a descer. Por norma, em cinco anos, um carro novo perdeu metade do valor comercial. Já Nos carros usados, a curva de desvalorização é muito menor. Logo, se pretender trocar o veículo antes do final de vida do mesmo, o valor que perde ao longo dos anos  é muito menor.

E, em regra, quanto mais caro for o veículo, maior será a desvalorização. Tenha aqui em atenção que o valor do seu carro não deve descer ao ponto de ficar a dever mais dinheiro ao banco do que aquilo que a viatura vale.

Contornar este obstáculo passa por comprar o carro novo a pronto, mas é algo que nem sempre é possível para a maioria dos compradores. Alternativa: pagar mais de entrada e reduzir o período de financiamento.

 

Manutenção e  reparações

A compra de um carro novo não isenta o comprador de fazer manutenções. No manual de proprietário do seu carro novo vai encontrar toda a informação necessária para fazer manutenções dentro do prazo e manter a garantia intacta.

Quanto ao valor desta despesa, o cálculo é difícil de fazer já que é o custo mais imprevisível. Nos carros novos, por norma, as reparações mais dispendiosas estão cobertas pelo seguro durante os primeiros anos de vida. Já no caso dos carros usados, por norma, os custos dessas reparações acabam por sair do bolso do proprietário do veículo.

Na comparação dos custos dos carros novos e usados, devemos ter em conta que, no primeiro caso, a probabilidade da existência de problemas é bastante menor.

 

Crédito automóvel

O carro pode ser pago a pronto pagamento ou com recurso ao crédito. E, neste caso, terá de avaliar quanto pesa o custo do crédito no orçamento familiar durante os anos em que estiver a ser pago esse empréstimo.

Como o recurso a crédito  implica pagamentos de prestações durante alguns anos terá de avaliar esta despesa no orçamento familiar ao longo do tempo em que decorre a amortização do empréstimo, devendo este encargo no orçamento ser medido através do seu impacto na taxa de esforço – taxa que mede a percentagem do rendimento que vai ser usada para pagar a prestação do empréstimo automóvel e de outros créditos assumidos (por exemplo, com o crédito à habitação).

Nesta avaliação terá de saber  qual o valor por mês que pode gastar, se o crédito será com despesas incluídas,  se possui capital para dar de entrada e se disser que pode gastar, por exemplo, 250 euros por mês deverá também saber por quanto tempo está disposto a dispensar esse rendimento. Isto porque, é diferente pagar 60 ou 120 meses. Pois, enquanto, no primeiro caso, gastará 15 mil euros, no segundo, o encargo é exactamente o dobro.

Na  escolha do crédito há, pois, que escolher o prazo de reembolso. Pois, o prazo escolhido afeta a prestação mensal e o custo total do crédito. Comparando créditos com as mesmas caraterísticas, os que tenham prazos mais curtos, têm menores encargos com juros. Mas, em contrapartida, têm prestações mensais mais elevadas. O custo do crédito varia também com o tipo de produto escolhido e depende também da opção por um carro novo ou usado. Neste último caso, comece por negociar um valor mais baixo e vá subindo até ao que pretende pagar, justificando esse vontade com os argumentos que estudou. Esta tática ajudará a não ter de pagar mais do que deve e pretende e, por mais que o preço lhe pareça apetecível não deixe de inspecionar o veículo com bastante atenção. Verifique aqui a quilometragem; teste o motor, pneus, luzes e equipamento eletrónico; verifique a bateria, o óleo e o depósito de refrigeração; veja em que estado está a ignição, espelhos, fechadura e estofos;  verifique a existência de riscos, amolgadelas e deformações e tenha atenção às possíveis reparações que o automóvel já tenha sofrido.

Entre as diversas alternativas para financiar a compra de carro, existem a locação financeira (leasing), o aluguer de longa duração (ALD) ou o renting – casos em que propriedade do carro é da instituição de crédito, ficando o cliente como locatário do carro, o que implica o pagamento de rendas todos os meses. No fim do contrato, o locatário poderá ter a possibilidade de comprar o carro, não sendo obrigado, todavia, a fazê-lo.

As condições do crédito, designadamente o seu custo total, podem ser diferentes entre instituições de crédito. Para conhecer todas as condições e caraterísticas do crédito é fundamental ler atentamente a respectiva Ficha de Informação Normalizada que a instituição de crédito é obrigada a disponibilizar.

A regra é comparar as várias alternativas. A avaliação do custo deve ser feita com base na taxa anual de encargos globais (TAEG), que mede o custo o total do crédito. Existem limites legais ao valor destas TAEG.

E não se esqueça que, depois de celebrado um contrato de crédito automóvel, dispõe de 14 dias para exercer o seu direito de livre resolução (direito de arrependimento) – um direito que permite desistir do contrato sem ter de apresentar qualquer justificação perante a instituição de crédito.

O contrato de crédito permite também o reembolso antes da data prevista para o seu vencimento. A lei prevê que pode pagar antecipadamente parte do crédito ou a sua totalidade. No caso de  pagamento antecipado, tem de comunicado à instituição de crédito com a antecedência mínima, definida por lei, de 30 dias de calendário.

De acordo com as regras do Banco de Portugal, se o crédito for a taxa fixa poderá ter de pagar uma comissão máxima sobre o montante reembolsado de 0,5% se o período remanescente do empréstimo for superior a um ano ou de 0,25% se este período for igual ou inferior a um ano. Se o crédito for a taxa variável não pode ser exigido o pagamento de qualquer comissão.

 

Seguros específicos

Em Portugal, é obrigatório ter seguro automóvel de responsabilidade civil (ou contra terceiros) e o seu preço acaba por ser um dos principais custos para os proprietários. Estes seguro obrigatório cobre o pagamento das indemnizações por danos corporais e materiais causados a terceiros e às pessoas transportadas, com exceção do condutor do carro.

Entre as coberturas que podem ser contratadas destacam-se: a de choque, colisão e capotamento, a de incêndio, raio e explosão, quebra de vidros e a de furto ou roubo. Mas pode também incluir coberturas facultativas, tais como os danos do condutor e a assistência em viagem.

O preço dos seguros está dependente de vários factores: o tipo de cobertura, a marca do carro, o ano de fabrico, o modelo, o histórico do tomador do seguro, a idade e género do condutor e a área principal onde o carro vai circular.

O custo médio anual de um seguro para um ano ronda os 200 euros. Mas existem algumas formas de baixar o valor do seu seguro automóvel. Dado que existe cada vez mais concorrência neste sector, deve pedir várias simulações para encontrar valores melhores do que outros. Outras dicas passam por juntar todos os seus seguros (carro, casa, vida) na mesma companhia; e aumentar a franquia (o valor que tem de pagar em caso de acidente). Desta forma, a sua mensalidade vai ser mais baixa, desde que não tenha acidentes.

Quando se contrata um seguro com franquia, não se esqueça que o seguro só cobre os danos que excedam o valor acordado. Por exemplo, no caso de um acidente cujos danos sejam de 1500 euros e a franquia seja de 500 euros, o seguro só cobre a partir de 500 euros, isto é, a diferença de 1000 euros. Geralmente, quanto mais elevada for a franquia, mais baixo será o prémio do seguro, por haver uma parte dos danos que ficam a cargo do segurado.

 

Cuidados a ter

Antes de comprar um carro usado deve verificar junto de uma conservatória do registo automóvel se existem ónus ou encargos sobre o veículo, tais como penhoras ou hipotecas. E quando celebrar o contrato de compra e venda do carro, é importante que o vendedor entregue o título de registo de propriedade e o livrete ou o documento único automóvel. Pois, apenas na posse destes documentos o carro pode circular.

Se a compra for feita a crédito, a instituição de crédito pode pedir garantias para se assegurar que o empréstimo será reembolsado, solicitando a prestação de uma fiança -garantia pessoal que só deve ser prestada quando exista a total confiança de que o comprador vai cumprir escrupulosamente o contrato, pois o fiador do contrato pode responder com todo o seu património, caso o comprador deixe de pagar o empréstimo à instituição de crédito.

Não se esqueça ainda que, no contrato de crédito, é comum associar à fiança uma cláusula em que o fiador declara recusar ao “benefício da excussão prévia”.  Ou seja, em caso de incumprimento de pagamento das prestações, a instituição de crédito pode fazer-se pagar através do património do fiador, independentemente de o comprador ter bens que possam ser penhorados. Neste caso, a instituição de crédito pode solicitar ao tribunal que penhore o ordenado e a casa do fiador para assegurar o pagamento das prestações em atraso.

Outro cuidado a ter após a compra de um carro: pague sempre os prémios de seguro dentro do prazo, assim como o imposto único de circulação. Em caso de recurso ao crédito, a mesma regra aplica-se ao encargos mensais que deverão ser cumpridos no prazo previsto no contrato, para evitar entrar em incumprimento sob pena de cobrança de uma comissão por atraso no pagamento.

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