Já imaginou um tempo de retoma de energia num carro elétrico para 480 km em apenas 5 minutos? Para os menos atentos essa possibilidade parece remota mas a verdade é que há uma empresa israelita que está a trabalhar para um novo tipo de baterias com esse objetivo.
A tendência de mobilidade no futuro a nível de viaturas passa pelos elétricos e pelos carros eletrificados, ou seja, viaturas que têm dois motores sendo que um deles é elétrico. E a grande questão para o carro elétrico que sempre foi a autonomia e lembremo-nos como – e bem recorda Ricardo Oliveira, diretor na Renault Portugal – ainda há sete anos a mesma autonomia não ia além dos 120 a 150 km reais, temos agora todos os carros a propor – no mínimo – o dobro. A informação é do site Autoclube do ACP e refere que a Store Dot promete carregar cerca de 96 km por minuto, ou seja, praticamente o tempo que se demora a encher o depósito de um carro térmico. Refere-se no mesmo site que atualmente temos baterias com iões de lítio com grafite, algo que não permite o carregamento rápido, mas o sistema FlashBattery tem uma rapidez estonteante pois usa uma combinação de camadas de nanomateriais e compostos orgânicos. Para quando esta revolução? Talvez daqui a três anos.
Mas o momento atual é a da velocidade de carga para gerar a suficiente autonomia e aqui falamos do desenvolvimento dos sistemas de carregamento, com potências superiores. E, depois de se obter mais autonomia e com carregamentos mais rápidos acaba, nas palavras de Ricardo Oliveira, da Renault Portugal, o “principal travão psicológico associado aos automóveis elétricos”.
Mas há outro tema de grande relevo na evolução do setor automóvel. As principais marcas com quem falámos não antecipam que o mercado dos elétricos signifique mais do que 25% do mercado global nos próximos anos. E isto porque as marcas continuam a desenvolver motores com menores emissões, sendo que a grande maioria dos eletrificados está relacionado com os plug-in (híbridos de carregamento externo), ou seja, veículos que mantêm a utilização do motor elétrico durante as primeiras dezenas de km e que podem circular entre os 100 e os 130 km/h e depois passam a um motor de combustão que será a gasolina, mas que também poderá ser os novos diesel. E não podemos deixar de esquecer que mais de 70% das pessoas que trabalham nas grandes cidades e percorrem 40 a 50 km diários, o que significa que a rapidez de carregamento associado a novas autonomias visa ir buscar o consumidor de grandes distâncias e de fim-de-semana. “A rede terá necessariamente de duplicar até final deste ano, alerta António Pereira Joaquim, diretor na Nissan e isto para responder “ao crescimento exponencial das vendas de automóveis elétricos”.
O mesmo gestor deixa o maior desafio do momento: “A capacidade das instituições e empresas para criar as condições legislativas e de mercado para que a rede de carregamento seja capaz de dar resposta às necessidades crescentes do parque circulante de automóveis elétricos”. Na Nissan a bateria de 40kWh irá permitir maiores aumentos de autonomia a partir do início de 2019.
E aqui entra outro tema e que é o custo de kWh adicionado. Diz Pereira Joaquim que para que a mobilidade elétrica seja acessível a todos os consumidores e não apenas a quem tem capacidade financeira, é necessário desenvolver produtos “com cada vez mais tecnologia, mas com custos acessíveis e que se inserem num ecossistema elétrico que vai muito além do próprio automóvel em si, permitindo que este se integre nas infraestruturas e se conecte ao mundo que o rodeia”. Diz Ricardo Thomaz, do grupo SIVA que representa a VW, Audi e Skoda, que o relevante é perceber que “o custo de utilização ao km de um elétrico pode ser cerca de 10 vezes inferior ao de um motor de combustão interna, se tivermos em conta apenas o custo de eletricidade versus o combustível”. Acrescenta Ricardo Thomaz que à medida que o preço da produção de baterias for baixando, o preço dos carros elétricos aproximar-se-á do preço dos veículos “tradicionais”. Claro que ainda existe o tema dos valores residuais e hoje facilmente um topo de gama diesel é bem mais barato do que um topo de gama elétrico, mas o tempo irá inverter essa situação e tal como diz o responsável da SIVA isso acontecerá “quando houver massa crítica de elétricos no mercado”. É corrente afirmar-se entre os profissionais do setor que tem sido relativamente fácil encontrar interessados no mercado de segunda mão para os veículos elétricos da primeira geração e que têm autonomia reduzida. Curiosamente o preço mantém-se elevado para este tipo de carros.
E quanto valerá este mercado? André Silveira, diretor na Daimler/MB Portugal, antecipa 25% das vendas da marca a nível global. João Trincheiras da BMW Portugal prefere não antecipar quotas mas reafirmar aquilo que a BMW Group já o disse: até 2025 o grupo terá dentro da sua oferta cerca de 25 modelos eletrificados.
Informação recente do grupo Toyota dá conta de que o crossover C-HR é o modelo Toyota híbrido em destaque de janeiro a maio de 2018, com um total de 954 unidades vendidas, com aumentos de 78,5% nos cinco primeiros meses do ano.
Futuro na condução autónoma
E qual o futuro que a mobilidade elétrica vai potenciar aos utentes e à sociedade em geral? Esta é a questão colocada em seminários e aos construtores e a toda a indústria que está a montante e a jusante.
Ricardo Thomaz, da SIVA está consciente de que o futuro será elétrico e partilhado e mais tarde chegaremos à autonomia mas, sublinha que “a partilha substituirá uma parte da posse mas o automóvel será sempre objeto de desejo”. André Silveira, da Mercedes, diz que “o conceito de propriedade irá certamente continuar embora com tendência a diminuir” e antecipa que o carsharing será uma realidade crescente dentro dos grandes centros urbanos onde há necessidade de mobilidade mas o espaço de estacionamento e as restrições de entrada em cidades são limitativas. A BMW, através de João Trincheiras, lembra que a marca através da plataforma DriveNow conta – em termos de mobilidade partilhada – com mais de 1 milhão de clientes ativos e com uma frota superior a cinco mil viaturas. A Nissan acredita “na coexistência de diferentes soluções de mobilidade, adaptadas às preferências dos utilizadores, e onde a partilha de veículos poderá ganhar alguma relevância”. Acrescenta o diretor da Nissan que a condução totalmente autónoma e que será uma realidade na marca em 2020 “vem possibilitar soluções de mobilidade, partilhada ou não, a públicos que neste momento não têm essa opção”. Acrescenta que a nova realidade irá contribuir para “um crescimento de vendas e das necessidades de assistência bem como para o surgimento de serviços associados que representarão novas oportunidades de negócio”.
Ricardo Oliveira, da Renault questiona se as evoluções ligadas à mobilidade serão simultâneas em todas as latitudes, diz que “mercados maduros e com maior poder aquisitivo como a Europa, os EUA e o sudoeste asiático irão certamente evoluir mais rapidamente que mercados e países emergentes como a Índia, América do Sul ou África”. A contrariar toda a imagem positiva dos elétricos citamos um texto do Observador e que vai buscar informação a um trabalho do Instituto Fraunhofer. Refere que haverá grandes modificações no aparelho produtivo com os veículos elétricos e isso vai significar a perda de 75 mil empregos na Alemanha no setor automóvel.
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