A variante da Covid-19 descoberta no Reino Unido já responde por 61% dos casos da doença na região de Lisboa e Vale do Tejo, de acordo com dados que resultam da análise do INSA – Instituto Ricardo Jorge em colaboração com a Unilabs, referentes até esta quarta-feira, 3 de fevereiro, apurou o Jornal Económico. No resto do país a distribuição desta nova estirpe é mais “homogénea” com a variante inglesa a representar 27% dos novos casos de infetados no Porto e 24% em Braga. Já em Setúbal a nova variante é estimada em 50% com a prevalência no país, no geral, a atingir os 35%.
Os novos dados sobre a nova variante inglesa surgem numa altura em que todas as regiões de Portugal Continental já terão passado pelo pico de novos casos de infeção pelo novo coronavírus, incluindo Lisboa e Vale do Tejo (terá sido atingido entre 28 e 31 de janeiro, com um máximo de 5.800 contágios), onde se tem registado uma pior situação epidemiológica.
Ainda assim, a região de Lisboa e Vale do Tejo continua a ser a única onde o índice de reprodução (R) — o número médio de pessoas que são contagiadas por cada pessoa infetada com o vírus — continua acima de 1. Segundo Carlos Antunes, engenheiro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e um dos conselheiros do Governo nesta matéria, o R é de 1,09 neste momento, mas está prestes a baixar daquele limiar.
O abrandamento dos novos casos de infeção reflete o reforço do novo confinamento geral que reduziu contágio entre 35% e 40% numa semana com o encerramento das escolas, que levou a menor mobilidade, e as medidas mais restritivas impostas pelo Governo que ajudaram a uma queda mais rápida da taxa de transmissibilidade (mantendo-se ainda elevados os internamentos e óbitos), segundo estimativas do projeto Covid 19 Insights, uma iniciativa da Nova IMS e da Cotec.
Na determinação da prevalência da estirpe inglesa tem sido usada uma ferramenta em tempo real, que foi desenvolvida numa colaboração do INSA e da Unilabs – Portugal, laboratório de análises clínicas. Através da sequenciação genómica, é determinada uma correlação forte entre a falha na deteção do gene S em alguns testes de diagnóstico e a presença da variante do Reino Unido (a B.1.1.7) e com um valor preditivo de 95%, já tinha explicado o Insa em comunicado na semana passada. Desta forma, foi possível estabelecer a prova de conceito da validação da utilização desse gene para identificação da B.1.1.7.
Nos dados analisados até 20 de janeiro na tal ferramenta, verificou-se ainda que a frequência da variante aumentou a um ritmo de 70% por semana, o que levou os investigadores a assumir que, se assim se mantiver, a frequência de casos da nova variante pode atingir os 60% na primeira semana de fevereiro. Segundo os dados estimados pelo INSA, reportados a 20 de janeiro, desde o início de dezembro terão já circulado no país cerca de 30 mil casos, sendo que na segunda semana de janeiro esta representou 13% das novas infeções registadas.
A B.1.1.7 foi inicialmente detetada no Reino Unido e tem preocupado devido ao seu maior potencial de transmissibilidade. Há estudos que estimam que seja entre 40% e 70% mais transmissível do que outras variantes em circulação. Cerca de 70 países reportaram já esta variante.
A variante inglesa mais contagiosa do novo coronavírus também parece estar ligada a uma mortalidade mais elevada, avançou a 22 de janeiro o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
“Agora também parece que há sinais de que a nova variante, aquela que foi identificada pela primeira vez em Londres, e no sudeste (de Inglaterra), pode estar ligada a um grau mais alto de mortalidade “, afirmou, durante uma conferência de imprensa na residência oficial em Downing Street.
O Conselheiro Científico do Governo, Patrick Vallance, explica que “há evidências de que há um risco acrescido para quem tem a nova variante”, ou seja para uma pessoa na casa dos “60 anos, o risco médio é de, em cada 1.000 pessoas infetadas, cerca de 10 morrerem com o vírus. Com a nova variante, para cada 1.000 pessoas infetadas, cerca de 13 ou 14 pessoas podem morrer “, acrescenta. No entanto a informação “ainda não é conclusiva”.
“Ainda existe muita incerteza sobre estes números e precisamos de mais trabalho para torná-los mais precisos, mas existe uma preocupação que exista um aumento na mortalidade bem como na transmissão”, disse.
Por outro lado, vincou que as vacinas atuais a ser administradas no país, a Pfizer/BioNTech e Oxford/AstraZeneca serão eficazes contra esta variante, identificada no sul de Inglaterra em dezembro. Das três variantes mais recentes do SARS-CoV-2 que causam preocupação às autoridades britânicas, identificadas respetivamente em Inglaterra, África do Sul e Brasil, a inglesa é aquela predominante no Reino Unido, estimando-se que seja entre 30% e 70% mais contagiosa.
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