[weglot_switcher]

Vasco Duarte Silva: “O BDA quer ser também o parceiro de referência das empresas portuguesas na Costa do Marfim”

O presidente do banco que tem 25 agências nas Costa do Marfim, das quais 24 são balcões para o retalho, explicou que um dos obstáculos ao desenvolvimento de parcerias com bancos correspondentes no estrangeiro, é o facto de estarem limitados pelos reguladores europeus devido às regras estritas de “Compliance” de relações com bancos africanos. “Há sem dúvida muita hipocrisia a nível das instituições europeias”, disse. 
  • Cristina Bernardo
1 Julho 2019, 07h44

Depois de 30 anos, um presidente português voltou a visitar a Costa do Marfim. Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a visita para anunciar que Portugal ia abrir uma embaixada portuguesa na Costa do Marfim.  A embaixada vai situar-se na capital Abidjan e vai abrir em 2020.

O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara disse que a Costa do Marfim faz questão de reforçar e diversificar os investimentos portugueses no país e de apresentar os empresários marfinenses em Portugal.

O número de empresas portuguesas que exportam para a Costa do Marfim tem vindo a aumentar e a balança comercial é positiva para Portugal desde 2015. Este é um dos países africanos em que o Governo português aposta para a internacionalização da economia, segundo o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, que acompanhou Marcelo Rebelo de Sousa nesta visita.

O Jornal Económico entrevistou Vasco Duarte Silva, presidente do Banco de Abidjan (BDA), que foi fundado em 2017 pela holding BDK Financial Group (BDK FG), e que, em quase dois anos, conta já conta com uma carteira de clientes Corporate & Private de mais de 600 clientes, e mais de 6000 clientes de banca de retalho.

O presidente do banco que tem 25 agências nas Costa do Marfim, das quais 24 são balcões para o retalho, explicou que um dos obstáculos ao desenvolvimento de parcerias com bancos correspondentes no estrangeiro, é o facto de estarem limitados pelos reguladores europeus devido às regras estritas de “Compliance” de relações com bancos africanos. “Há sem dúvida muita hipocrisia a nível das instituições europeias”, disse.

O BDA tem a maioria dos balcões partilhados com os correios (La Poste), com quem o grupo tem um acordo. Está previsto ser o 9º maior banco em número de agências até ao final do ano, com 29 balcões, num universo de 28 bancos.

O banco é especialista na região da UEMOA (União Económica e Monetária da África do Oeste), e tem como acionista principal o espanhol Alberto Cortina.  Mas a equipe de gestão e controlo em Portugal está constituída ainda por mais de 30 portugueses, nomeadamente Filipe Ribeiro Ferreira como Diretor Geral Adjunto (DGA) da holding assim como Luís Sousa (CFO), Jorge Oliveira (CRO), Paulo Ferreira da Costa entre outros.

Na Costa de Marfim apenas está um português, Miguel Stapleton, que hoje está como DGA do BDA.

O banco liderado pelos gestores portugueses é um dos “market-maker “ da dívida pública na região da UEMOA e apoia os empresários portugueses, nomeadamente através da emissão de dívida para financiamento de projetos no país.

O BDA está em Abidjan desde 2017. Qual vai ser o papel do banco no investimento das empresas portuguesas na Costa do Marfim? E vice-versa.

O BDA quer ser também o parceiro de referência das empresas portuguesas na Costa do Marfim, através da larga experiência e relações da equipa de gestão de Lisboa. O BDA espera ter um papel bastante ativo no ciclo económico dos projetos das empresas portuguesas, possibilitando acesso a financiamento e facilidade nos processos de pagamentos e gestão dos fornecedores através dos seus produtos de Cash Management, inovadores na região. O banco oferece ainda produtos de financiamento de tesouraria e fundo de maneio de curto-prazo para apoiar o dia-a-dia das empresas.

A Mota-Engil tem vários projetos nesse país, é provavelmente a maior empresa portuguesa nesse país. Qual o papel que o BDA pode ter para ajudar a Mota-Engil nessas operações?

As operações da Mota-Engil geralmente, pela sua dimensão, são operações que envolvem um conjunto de bancos. Para estes projetos o BDA tem a capacidade e as condições necessárias para poder liderar sindicatos bancários de projetos de grande dimensão.

 O BDA fornece serviços financeiros e faz banca de Corporate para outras empresas?

O BDA apoia todos os segmentos da economia costa-marfinense, e está formalmente dividido entre Corporate & Private, e Retail, cada uma com a sua marca própria.  No segmento C&P, temos equipas separadas dedicadas à gestão comercial de Grandes Empresas e Empresas. O mesmo se passa na rede de balcões, onde temos comerciais alocados à gestão das PMEs. Dos mais de 6000 clientes da rede de retalho, mais de 1500 são PMEs locais.

 São um dos principais “market-makers” no mercado de dívida pública da UEMOA. Isso significa que asseguram “elevados” níveis de liquidez aos títulos? De que emissões estamos a falar?

O BDA tem uma participação ativa no mercado secundário, e é um dos principais bancos a dar liquidez. É o único banco a disponibilizar on-line as cotações de compra e venda dos títulos dos Estados da UEMOA a qualquer cliente que queira comprar ou vender os títulos.

 Qual a estratégia o BDA para a Costa do Marfim?

Temos a ambição de que o BDA seja um dos principais bancos na Costa do Marfim. A parceria com a La Poste Côte d’Ivoire garante-nos um acesso imediato a uma rede com cobertura nacional, e uma presença muito forte em Abidjan, que é o maior centro económico do país, com 18 agências. Achamos que o negócio de retalho de apoio às PMEs e à classe média emergente da Costa do Marfim estão no centro de uma estratégia de longo-prazo, mas que demora tempo a desenvolver-se e a mostrar resultados. Queremos oferecer às PMEs todas as facilidades de pagamento e gestão de tesouraria que normalmente estão apenas à disposição das grandes empresas, e generalizar os produtos de Cash Management. E é por esta razão que optámos por lançar em paralelo a marca de Retail com a de C&P, que envolve menores investimentos e resultados mais rápidos, embora seja um segmento com margens de rentabilidade mais baixas. Ainda assim, temos a ambição de tornar o BDA num banco universal de referência, sendo atualmente o 9º maior banco em termos de rede (29 agências), e será o 5º maior com 65.

 Que obstáculos encontra um banco na sua estratégia de crescimento que nasce a partir do “zero” em África?

Um dos grandes obstáculos que temos verificado é o desenvolvimento de parcerias com Bancos Correspondentes no estrangeiro, que estão limitados pelos reguladores europeus devido às regras estritas de “Compliance” de relações com bancos africanos. Há sem dúvida muita hipocrisia a nível das instituições europeias. Pensamos que apoiar os africanos que vem emigrar para a Europa e inclusive dando certos incentivos a virem que estamos a fazer “o bem”. Só mesmo quem não emigrou, é que não imagina o sofrimento que é sair do seu país, de perto dos seus familiares, para uma cultura que nada tem a ver com eles., é que pode pensar que este é o caminho.

O que deveríamos era dar muito mais apoio para que os Africanos fiquem em África e que a emigração seja voluntária e não forçada.  Em vez de impor barreiras deviam era reforçar as ligações entre os reguladores. Em África, seguimos com o nosso princípio de apenas ter africanos.  Apenas 2 pessoas em mais de 600 colaboradores, e ambos são europeus que com as suas vidas feitas em África.

Temos uma ideia errada de África. Por desconhecimento, nós portugueses, pensamos que é tudo parecido com Angola ou Moçambique. Senegal e Costa de Marfim são diferentes e é com orgulho que vemos empresas portuguesas a investirem nestes países e ficamos orgulhos de apoiar (financiar) bastantes projetos de empresas portuguesas.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.