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Vasco de Mello: “se não agirmos com rapidez, na próxima década podemos ter menos 200 mil licenciados”

O presidente da Associação Business Roundtable Portugal disse esta segunda-feira que o país está hoje “mais consciente do problema” da fuga de quadros, mas é fundamental termos políticas públicas adequadas se quisermos travar a sangria que compromete a sustentabilidade e o futuro do país.
18 Março 2024, 21h03

Vasco de Mello, presidente da Associação Business Roundtable Portugal (BRP), afirmou esta segunda-feira, 18 de março, que Portugal continua a perder entre 15 mil e 20 mil licenciados para a emigração por ano. Ou seja, adiantou, 37% dos 50 mil novos licenciados que o país produz vão-se embora em busca de melhores condições de vida.

“Não somos capazes de fixar as pessoas, o nosso talento”, afirmou o empresário, admitindo, no entanto, que o país está hoje “mais consciente do problema” e que tem vindo a lançar um conjunto de iniciativas individuais e coletivas, mas não é suficiente.

“É preciso agir”, afirmou Vasco de Mello, apelando às empresas e ao Estado, numa altura em que Portugal vive uma mudança ainda algo indefinida, para que se concentrem em medidas que contribuam para reverter esta dinâmica.

“Se não agirmos como rapidez, na próxima década podemos ter menos 200 mil licenciados, um número perturbador. Estamos a comprometer a realização das pessoas, mas também a sustentabilidade das empresas”, salientou, adiantando: “Temos de ser muito mais exigentes com o Estado para termos políticas públicas adequadas. Esta deve ser uma prioridade máxima independentemente de quem seja o Governo”.

Segundo a Associação Business Roundtable Portugal, Portugal vive um verdadeiro “inferno demográfico”, com 26% da população a residir fora do território nacional. Números redondos, um terço dos portugueses entre os 15 e 0s 39 anos vive no estrangeiro – são 850 mil pessoas que contribuem para a recessão demográfica.

Só na última década, o país desaproveitou 160 mil licenciados. “Numa altura em que o país dispõe das gerações mais qualificadas de sempre, torna-se evidente que não estamos a conseguir atrair e reter e a transformar o seu potencial em riqueza”, garantiu Vasco de Mello.

A Associação Business Roundtable Portugal apresentou esta segunda-feira um conjunto de medidas e soluções práticas de valorização e atração do talento, algumas das quais já testadas e implementadas com sucesso por empresas membros e que têm contribuído para ajudar a travar fuga de talento. Altice Portugal, CTT, Grupo Salvador Caetano, Pestana Hotel Group, Santander, Fidelidade, Grupo José de Mello deram o seu testemunho.

Nuno Amado, presidente do Millennium bcp, membro da direção da BRP, disse na abertura do encontro que Portugal precisa de “políticas não ideológicas, nem preconceituosas”. “Precisamos de políticas pragmáticas, executáveis no curto prazo, que nos coloquem numa posição de competitividade com os restantes países, porque talento, desenvolvimento e crescimento não só rimam, como estão perfeitamente interligados. Precisamos de ter políticas mais focadas neste segmento”.

A propósito lembrou dois passos tímidos: o Regime dos Residentes Não Habituais (RRNH) “estava a ganhar alguma força”, mas “foi cancelado” e o programa Regressar, que oferece incentivos a quem queira regressar, considerando “pequena” a sua dimensão face às necessidades do país.

Da Europa vieram dois oradores: Laura Lindeman, que explicou como está a Finlândia a lidar com a crise do talento, e o alemão Friedrich Kuhn, da consultora de talento Egon Zehnder, que considerou que Portugal, nomeadamente Lisboa, reúne dois dos quatro fatores que tornam as empresas, como um todo, mais atrativas para o talento: um cenário cultural estimulante e uma comunidade académica forte. Há que apostar nos outros dois, aconselhou: empresas que invistam no futuro e uma comunidade de líderes focados no futuro.

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