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Venda de carteiras de malparado em Portugal cai 87,5% em 2020 para mil milhões

De acordo com o mais recente estudo da Prime Yield, “Keep an Eye on the NPL & REO Markets”, a transação de carteiras de crédito malparado (NPL) em Portugal terá ficado em torno dos 1.000 milhões de euros em 2020. O que representa uma queda de 87,5% face ao volume de cerca de 8.000 milhões de euros transacionados em 2019.
Cristina Bernardo
3 Março 2021, 11h28

A conclusão é do novo estudo da Prime Yield. A venda de carteiras de malparado em Portugal caiu para mil milhões de euros em 2020.

De acordo com o mais recente estudo da Prime Yield, “Keep an Eye on the NPL & REO Markets”, a transação de carteiras de crédito malparado (Non-Performing Loans, NPL) terá ficado em torno dos 1.000 milhões de euros em 2020. O que representa uma queda assinalável de 87,5% face ao volume de cerca de 8.000 milhões de euros transacionados em 2019.

Esta queda é justificada com o impacto direto da pandemia, que “congelou as operações e que redirecionou a o foco do sistema financeiro para o apoio extraordinário à economia”.

No entanto,  a Prime Yield prevê que o mercado de venda de carteiras de NPL, pelos bancos, volte a acelerar este ano e identifica negócios concretizados já em 2021 no valor de 700 milhões de euros e um pipeline de operações que ronda outros 1.200 milhões.

“O interesse dos investidores neste tipo de ativos mantém-se, contudo, em alta, antecipando-se um ano de intensificação na venda de portfólios de malparado em Portugal”, defende a consultora. “De tal forma que, nos primeiros meses de 2021, foram já concretizados negócios de carteiras de NPL no valor de 700 milhões, identificando-se um pipeline de outros 1.200 milhões entre carteiras que já estão a ser negociadas ou que estão em oferta no mercado”, adianta.

Em comunicado, Francisco Virgolino, Head and Partner of NPL & REO Portugal da Prime Yield, explica que “naturalmente, o surgimento da pandemia veio atrasar ou até obrigar à reestruturação de vários processos de venda de malparado em 2020. Apesar de já se esperar um abrandamento no ano passado mesmo num cenário pré-Covid, seria expetável uma queda da ordem dos 25% para cerca de 6.000 milhões, e o ano acabou por ser bastante fustigado neste setor, com pouco menos de 1.000 milhões transacionados”.

O mercado esteve praticamente parado até setembro, quando se notou uma dinâmica renovada e vários negócios acabaram por ser fechados na reta final do ano, acrescenta o responsável da consultora em Portugal.

“Contudo, 2021 deverá ser um ano de dinâmica renovada. Por um lado, os negócios que já vinham de 2020 decorrem a bom ritmo, com perto de 2.000 milhões de euros de portfólios no mercado entre operações já concretizadas e outras identificadas ou em negociação. Por outro lado, a par do interesse dos investidores por este segmento, a oferta de portfólios de malparado deverá crescer bastante ainda este ano”, reforça.

Fim das moratórias pode impulsionar venda de carteiras de NPL

“Com o final das moratórias em setembro, é de esperar um aumento no incumprimento e, mantendo-se a pressão da Banca para a desalavancagem, poderão surgir novas operações muito interessantes em oferta no mercado”, prevê Francisco Virgolino.

“De acordo com uma projeção da Prime Yield realizada para este estudo, se 15% do montante sujeito a moratória vier a tornar-se em malparado, tal significaria a entrada de mais 6.900 milhões em NPL no stock nacional. Para termo de comparação, tal montante corresponde a mais de metade do atual stock de malparado. Contudo, esse impacto só será visível na reta final do ano e especialmente em 2022”, acrescenta Francisco Virgolino.

No final setembro de 2020, existiam cerca de 46.000 milhões de euros em créditos alvo de moratória em Portugal, dados do Banco de Portugal. Um valor que corresponde a cerca de 19% do total do crédito concedido pelo sistema financeiro. No mesmo período, o stock de crédito malparado no país ascendia a 13.400 milhões de euros, o que reflete um rácio de 5,5% face ao total do crédito.

O estudo da Prime Yield evidencia ainda que, apesar do surgimento da pandemia, a Banca portuguesa continuou a dar passos positivos na redução do NPL em 2020. Entre o 3º trimestre de 2019 e o 3º trimestre de 2020, o stock de NPL em Portugal reduziu 32% de 19.600 milhões de euros para 13.400 milhões.

O maior volume de NPL em Portugal continua a estar concentrado nas empresas, num total de 8.700 milhões de euros em crédito malparado no 3º trimestre de 2020, dos quais 70% dizem respeito às PMEs.

A consultora realça ainda que 3.800 milhões de euros do crédito malparado nas empresas é colaterizado por imóveis comerciais (isto é, não residenciais).

No segmento das famílias, o NPL totaliza 3.700 milhões de euros, dos quais 2.100 milhões dizem respeito ao crédito à habitação, com garantia do imóvel.

No que toca ao rácio de NPL (i.e., o peso do crédito malparado face ao crédito total), os 5,5% observados no 3º trimestre de 2020 apresentam também uma forte redução face aos 8,3% registados um ano antes.

No entanto, continua a tratar-se de um dos rácios mais elevados no contexto Europeu, onde a média é de 2,8%. O rácio português é apenas superado pelo registado na Grécia, Chipre e Bulgária, diz a Prime Yield.

A consultora realça também que Portugal apresentava um dos maiores volumes de crédito sujeito a moratória na Europa no 3º trimestre de 2020.

Em termos absolutos, apenas a Itália, França e Espanha superam os 46.000 milhões de euros de crédito sob moratória registados em Portugal. Em termos relativos, os 19% que tal montante pesa no total do crédito em Portugal apenas são superados pela quota de 22% registada na Hungria e de 24% no Chipre, lembra a Prime Yield.

Na média Europeia, as moratórias, num total agregado de 586,9 mil milhões de euros, correspondem a 3% do crédito total.

As informações referentes ao volume de crédito sob moratória, sobre o stock e rácio de NPL resultam de uma análise da Prime Yield a dados divulgados pela EBA-European Banking Authority, o regulador Europeu da Banca.

Estas conclusões resultam do mais recente “Keep an Eye on the NPL & REO Markets”, produzido anualmente pela Prime Yield para dar a conhecer o potencial de transação de crédito malparado nos países onde a empresa está ativa com serviços a este setor de mercado.

A Prime Yield (parte do grupo espanhol Gloval) presta serviços de consultoria e avaliação de ativos.

Segundo o comunicado, além de Portugal, o estudo apresenta ainda uma visão sobre Espanha e a Grécia, bem como sobre o Brasil. Para cada um dos países, este estudo apresenta um balanço da atividade transacional de NPL em 2020 e as perspetivas para 2021, além de analisar o stock e rácio deste tipo de crédito no respetivo sistema financeiro, disponibilizando ainda um olhar sobre a economia e o mercado imobiliário.

 

 

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