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Venda do Novobanco reacende velhos fantasmas do domínio espanhol, segundo Bloomberg

O Novobanco disse recentemente que pode realizar uma oferta pública inicial já em junho, mas a Lone Star, que detém 75%, está também a considerar uma venda total do banco, com o CaixaBank de Espanha entre os potenciais pretendentes, noticiou a Bloomberg.
14 Maio 2025, 17h06

A Bloomberg escreve uma análise à banca portuguesa lembrando que a venda do Novobanco está a reacender fantasmas do domínio espanhol do setor.

Oito anos depois de Portugal ter aceitado vender os restos daquele que foi em tempos um dos maiores bancos do país, o Banco Espírito Santo, ao fundo de private equity da Lone Star Funds, os planos do acionista norte-americano para vender o Novobanco estão a reacender velhos fantasmas profundos no país.

O Novobanco disse recentemente pode realizar uma oferta pública inicial já em junho, mas a Lone Star, que detém 75%, está também a considerar uma venda total do banco, com o CaixaBank de Espanha entre os potenciais pretendentes, noticiou a Bloomberg.

Esta possibilidade tocou num ponto sensível no país de 10 milhões de habitantes, que foi com a crise financeira viu a maioria dos seus grandes bancos a recorrer aos empréstimos do Estado (CoCos) e a procurar ajuda internacional enquanto lutava contra a crise da dívida soberana da Europa.

Tudo porque os bancos espanhóis já controlam mais de um quarto dos ativos bancários em Portugal, alimentando preocupações entre alguns de que o país está a ceder o controlo do seu sector financeiro ao seu vizinho.

A Bloomberg falou com especialistas. “Existe um risco de concentração excessiva de bancos espanhóis em Portugal”, defendeu Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners, uma gestora de ativos sediada em Lisboa com cerca de 390 milhões de euros (439 milhões de dólares) sob gestão. “Precisamos de salvaguardar a independência do nosso setor financeiro”.

Os bancos espanhóis representam atualmente cerca de 27% dos quase 500 mil milhões de euros de ativos bancários de Portugal, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Em 2015, o Banco Santander  comprou o banco resgatado Banif-Banco Internacional do Funchal, enquanto o Bankinter, sediado em Madrid, adquiriu as operações bancárias do Barclays Plc em Portugal no ano seguinte. Em 2017, o CaixaBank assumiu o controlo do Banco BPI de Portugal e, no ano passado, o Abanca Corporacion Bancaria adquiriu o EuroBic, sediado em Lisboa.

Portugal é um mercado que representa uma “expansão natural” para os bancos espanhóis devido à sua proximidade geográfica, afirmou Vitor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, numa entrevista a 24 de abril.

No entanto, a participação estrangeira em bancos portugueses não se limitou aos banco espanhóis. O BNP Paribas tem um centro europeu em Portugal. A corretora chinesa Haitong Securities Co. adquiriu o banco de investimento do Banco Espírito Santo em 2015 e dois anos depois a Lone Star comprou 75% do Novobanco.

Já na altura, Portugal se levantaram vozes a manifestar preocupações que banco espanhol assumisse o controlo do Novobanco. Mais de 50 pessoas, entre as quais ex-ministros e empresários, assinaram um manifesto a alertar que Portugal corre o risco de perder o controlo sobre o seu setor bancário.

“Não temos nada contra os investidores estrangeiros em Portugal”, disse Bruno Bobone, antigo presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa que assinou o manifesto de 2016, por telefone. “O que não queremos é permitir que os bancos espanhóis ou estrangeiros controlem o setor financeiro do país.”

A Bloomberg cita Filipe de Botton, presidente da empresa portuguesa de embalagens plásticas Logoplaste, quando, na semana passada, disse estar preocupado que os bancos espanhóis coloquem os clientes portugueses em desvantagem em determinadas situações competitivas. “Não sou adepto de teorias da conspiração, mas os bancos espanhóis têm uma influência muito forte em Portugal”, disse numa conferência sobre o sector bancário.

Os seus comentários provocaram uma resposta do responsável da filial portuguesa do Santander, Pedro Castro e Almeida, que discursou na mesma conferência. “Pensei que esta conversa sobre os bancos portugueses já não existia”, referiu o CEO do Santander Totta, que é também responsável regional da Europa do Santander.

A Caixa Geral de Depósitos, o BCP e o espanhol CaixaBank estão a destacar equipas internas para avaliar o Novobanco, numa altura em que a instituição anda em “roadshow” a preparar uma Oferta Pública Inicial (IPO) de 30%, noticiou o Jornal Económico em primeira mão.

Além do CaixaBank, o Novobanco pode também atrair o interesse de outros pretendentes, incluindo o grupo bancário francês BPCE, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg.

A Caixa Geral de Depósitos, o maior banco do país em termos de ativos, disse, em fevereiro, que está a analisar uma eventual aquisição do Novobanco e o Governo português afirmou que não irá interferir, caso a Caixa decida avaliar qualquer eventual interesse na compra do Novobanco, que poderá ser avaliado entre 5,5 mil milhões de euros e 7 mil milhões de euros, segundo a JB Capital.

Depois de Pedro Castro e Almeida ter dito, numa apresentação de resultados, que seria “estranho para um banco estatal comprar o quarto maior player em Portugal e acabar com mais de um terço do mercado”, Paulo Macedo, CEO da CGD, apressou-se a reagir: “ouvi o presidente do Santander Portugal dizer que estava preocupado que fosse comprado pela Caixa, mas estou mais preocupado se os bancos espanhóis fiquem com 45% do mercado”.

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