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Vespa asiática: Será assim tão perigosa como se pensa?

Apesar da sua invasão ser muito noticiada, os especialistas alertam que esta espécie não é mais perigosa para os humanos do que as suas primas europeias. As mortes só ocorrem em caso de alergia, ou se um enxame atacar em simultâneo.
29 Setembro 2019, 10h00

Não é todos os dias que um inseto é notícia na comunicação social, mas as vespas asiáticas têm estado em destaque nas notícias. Apenas no espaço de um mês, foram detetadas vespas asiáticas num jardim em Lisboa e num parque em Sintra, obrigando à desinfestação dos locais.
Também conhecida por vespa velutina, é facilmente diferenciada das vespas europeias: a sua prima asiática é maior e tem uma cor mais escura. Outra diferença é que o seu ninho fica, geralmente, localizado na copa das árvores, com a entrada localizada na parte lateral ou superior, com a base fechada.

Perante as notícias, fica a pergunta: Será esta espécie mais perigosa para os humanos face à sua prima europeia? “Há várias perceções exageradas sobre as vespas asiáticas”, diz o diretor técnico da Rentokil Initial Portugal, Daniel Oliveira. “Como espécie invasora e predadora de insetos, a vespa velutina está a conquistar território em Portugal e afeta a apicultura. Mas só é perigosa para quem seja alérgico às picadas ou para quem tente destruir os ninhos sem respeitar as regras”, garante o biólogo.

Se é uma predadora das restantes abelhas, qual o seu impacto para a espécie nativa? “Uma das maiores preocupações prende-se com o facto de provocar a morte das abelhas não apenas diretamente, mas impedindo a sua saída ao procurar as colmeias para ingerir mel. Além dos prejuízos para os apicultores, o desaparecimento das abelhas é catastrófico para o meio ambiente, já que elas são as principais responsáveis pela polinização”, explica Daniel Oliveira, destacando que a espécie afeta a polinização em geral por comer também “todos os outros insetos”.

O responsável da empresa de controlo de pragas alerta que “além dos prejuízos para os apicultores, o desaparecimento das abelhas é catastrófico para o meio ambiente, já que elas são as principais responsáveis pela polinização”.

Por sua vez, José Aranha da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), destaca que o veneno não é “particularmente perigoso. O veneno dos insetos, vespas ou abelhas, só é perigoso para as pessoas que são alérgicas”.

“Com o devido respeito pelas pessoas que morreram e pelos seus familiares, as fatalidades de que tenho conhecimento ocorreram em duas circunstâncias: pessoas alergias e pessoas que acidentalmente deitaram o ninho abaixo e foram atacadas pelo enxame. No entanto, todos os anos morrem pessoas picadas pelas abelhas, mas não costuma ser notícia”, afirma o professor.

Na quinta-feira, um homem de 38 anos em Tondela morreu, supostamente picado por esta espécie, mas só a autópsia poderá confirmar a suspeita, noticiou a Lusa.

O especialista em insetos adianta que o Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagística da UTAD está a estudar o “resultado da instalação de armadilhas primárias nos meses de fevereiro a maio. Estas armadilhas permitem apanhar as vespas fundadoras e, deste modo, evita-se que se propaguem e que façam novos ninhos”.

“A captura de fundadoras é o método mais indicado e mais eficiente. As armadilhas e os iscos têm de ser seletivas de modo a não capturar tudo o que voa”, diz José Aranha.

Mas o professor da UTAD faz questão de separar as águas entre as diferentes vespas que existem em Portugal, destacando que a espécie asiática não é a mais agressiva a voar por aí. “Relativamente à agressividade, a vespa crabro [europeia], é mais agressiva que a vespa velutina [asiática]. Até a vespa vulgar é mais agressiva do que a vespa velutina”, esclarece José Aranha.

A vespa asiática chegou à Europa de maneira acidental há cerca de 10 anos. “Chegou a França num carregamento de material de jardinagem. Este carregamento trazia um ninho primário com uma vespa fundadora e esta deu origem ao início da invasão”. Chega a Portugal pouco tempo depois também através de um carregamento de madeira de França. “Possivelmente na casca dos toros vinha uma ou mais vespas fundadoras fecundadas que deram início à invasão no norte de Portugal”, conta o professor.

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