O sul da Europa está a aquecer mais rapidamente do que a média mundial, prevendo-se que os períodos de seca em Portugal e Espanha ocorram, no futuro, com mais frequência e severidade. De resto, em 2017, o nosso país viveu a oitava situação de seca severa ou extrema desde 1940, tendo como consequência mais dramática os incêndios florestais do último verão.

Portugal deve, pois, preparar-se para os efeitos das alterações climáticas e procurar minorá-los na medida das suas possibilidades. Trata-se de um desígnio que compromete toda a sociedade portuguesa, mas que depende muito do esforço de descarbonização da economia. Ora o nosso país, apesar da diminuição da atividade económica durante a última crise, tem vindo a aumentar a sua intensidade energética e, consequentemente, o consumo de combustíveis fósseis. Não só gastamos mais energia do que aquela que é necessária para o nosso desenvolvimento económico, como estamos a desperdiçar recursos e potencial energético.

Perante isto, importa promover um melhor desempenho ambiental e uma maior eficiência energética nas nossas empresas. Há hoje uma panóplia de apoios nestas áreas, designadamente incentivos financeiros no âmbito do Portugal 2020. Todavia, falta ainda massa crítica nas empresas para que o investimento na sustentabilidade seja encarado não apenas como um dever de cidadania, mas também como um fator crítico de produtividade e competitividade.

Vale a pena sublinhar o que já devia ser óbvio para todos: o sucesso das empresas está hoje intimamente ligado à sustentabilidade. Um melhor desempenho ambiental e uma maior eficiência energética têm efeitos positivos tanto ao nível da produtividade como da competitividade.

A produtividade aumenta com a observância de boas práticas ambientais (reduzir, reutilizar e reciclar) em áreas cruciais ao funcionamento das empresas: águas, efluentes líquidos, emissões atmosféricas, energia, resíduos e ruído. Por outro lado, a maior consciência ambiental dos cidadãos faz com que clientes e consumidores estejam mais predispostos a adquirir produtos/serviços que respeitem o ambiente e a premiar empresas que procurem diminuir a respetiva pegada ecológica. Neste sentido, há um reforço da competitividade das empresas com preocupações ambientais.

Importa, portanto, que os valores ambientais tenham uma posição de relevo nos modelos de negócio e nos planos de ação das empresas. A gestão ambiental deve estar presente quer no dia a dia das empresas, quer nas suas decisões estratégicas. Isto pressupõe que as empresas estejam capacitadas para introduzirem boas práticas ambientais e para medirem, monitorizarem e avaliarem continuamente o seu desempenho ambiental e a sua eficiência energética.

Ora, mesmo existindo apoios à promoção da sustentabilidade, falta entre nós potencial humano capaz de garantir qualidade na gestão ambiental. Este défice poderia ser mitigado com um plano nacional de sensibilização, formação e mentoria ambiental, que criasse nas empresas, sobretudo PME, massa crítica para uma maior ecoeficiência.

Por outro lado, os nossos empreendedores deviam estar mais despertos para o potencial de negócio que o ambiente encerra. Estou absolutamente convicto de que os grandes negócios do século XXI vão surgir no emergente setor do ambiente, particularmente em áreas que são determinantes para uma economia eficiente e sustentável, como as energias, o tratamento e reciclagem de resíduos, a mobilidade, o mar, a biodiversidade e as tecnologias verdes.

Definitivamente ultrapassada a alegada incompatibilidade entre ambiente e economia, o futuro está na economia sustentável, na ecologia industrial e nos negócios verdes.