Atualmente, a Herdade da Comporta estende-se por 12.500 hectares. A paisagem pitoresca da herdade, que pertencia à Rio Forte até à insolvência do Grupo Espírito Santo em 2014, abarca praias e dunas, arrozais, longas extensões de vinha, campos de horticultura e áreas urbanas. Mas, ao longo da história, aquela região nem sempre foi associada à família portuguesa.
Em 1172, durante a Reconquista cristã da Península Ibérica, chega a Portugal a Ordem Militar de Sant’Iago e Espada para auxiliar El-Rei Dom Afonso Henriques na Reconquista cristã da Península Ibérica, tendo desempenhado um papel importante na expulsão dos Mouros das terras algarvias. Sediada, primeiro, no Mosteiro de Santos-O-Velho, a ordem mudou-se para o Castelo de Alcácer do Sal passando a ser a proprietária dos terrenos da Comporta.
Até mudarem de mãos, não se sabe muito bem o que aconteceu aos terrenos. Citando documentos a que o JE teve acesso, “vicissitudes históricas entretanto ocorridas determinaram a integração [dos terrenos da Comporta] na Casa de Aveiro”, a segunda maior Casa nobiliárquica portuguesa e instituída em 1547 por Dom João III.
Em 1759, dá-se o célebre Processo dos Távoras e a Casa de Aveiro é extinta por Dom José I. As propriedades desta família foram todas confiscadas pela Casa Real, passando as lezírias do Tejo e do Sado, onde se incluía a Comporta, a integrar o conjunto de propriedades, bens e rendimentos que pertenciam à Casa do Infantado.
No início do século XIX, as invasões francesas, o esforço de guerra e a fuga da Corte para o Brasil enfraqueceram os dinheiros da Coroa portuguesa. Sabe-se que, desde 1813, a Coroa queria alienar as lezírias do Tejo e do Sado. A Companhia das Lezírias do Tejo e do Sado, instituída a 25 de junho de 1836, comprou 48.000 hectares das lezírias da Coroa, em hasta pública, por dois mil contos de reis em metal. Entre as lezírias alienadas, encontravam-se os almoxarifados de Pêra e Comporta, sede da 5ª administração da Companhia.
A empresa britânica The Atlantic Company Limited comprou as terras da 5ª administração da Companhia das Lezírias do Tejo e do Sado por 3.000 contos, em junho do 1925. A Comporta queda-se nas mãos dos ingleses durante três décadas que, sob a direção do industrial Soares Mendes, procederam à fertilização das terras, construção de instalações agrícolas e implantação de valas. Desenvolveram, também, a cultura do arroz.
A Comporta começou a desenvolver-se, lentamente, até que, na segunda metade do ano de 1955, o então presidente do conselho de administração do banco Espírito Santo resolve adquirir a Atlantic. Foi após reflexão profunda, em conjunto com o seu irmão José Espírito Santo, que Manuel Ricardo Espírito Santo Silva, então presidente do BES, aceita o desafio proposto por Manuel Freire Torrado, grande cliente do banco, em comprar a Atlantic.
Os novos donos da Comporta demonstram vontade em mudar as condições de vida dos cerca de três mil habitantes da zona. Amigo próximo da família revelou ao Jornal Económico que o desenvolvimento populacional da região, também alavancado com a chegada dos retornados de África, coincidiu com o desenvolvimento agrícola. Em resultado, ainda se cultiva arroz, mas também se plantam pinheiros para colher pinhão, apostou-se no vinho e nos produtos hortícolas dos quais, grande parte, é exportada para o norte da Europa, gerando muita rentabilidade.
Antes de 29 de dezembro de 2003, quando a Atlantic Company foi transferida para Portugal, alterando-se a firma social para Herdade da Comporta – Atividades Agro-Silvícolas e turísticas, S.A, a empresa foi nacionalizada em 1975, revertendo para o Estado. A reprivatização teve início em 1979 com a família Espírito Santo a retomar 1.011 hectares, com o processo a concluir-se em agosto de 1991.
Seguiram-se cerca de 13 anos até o Grupo Espírito Santo (GES) falir em 2014. A autorização da venda da Herdade da Comporta, no mercado desde 2014, está agora nas mãos da assembleia de participantes da Gesfimo, fundo que gere os bens imobiliário do GES.
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