Na última década, o açúcar começou a amargar o quotidiano de várias empresas alimentares e de bebidas, pela relação direta que tem no aumento da diabetes, obesidade e outras doenças não contagiosas. O tema ganhou relevância entre as autoridades – do setor alimentar à saúde e fiscalidade – e começou também a despertar a atenção dos consumidores. Mas será que os investidores estão atentos aos riscos e oportunidades que advêm desta realidade?
A nossa análise indica que o tema se mantém na ordem do dia e sugere que existem similaridades entre a situação atual das empresas de bebidas e a que viveram anos antes as tabaqueiras. E embora o tema açúcar já esteja em foco quando se aborda o investimento sustentável, parece-nos que o mercado ainda não está a descontar as fragilidades que se colocam ao setor e que têm tendência a reforçar-se.
Mais regulação e impostos
A regulamentação e a fiscalidade tendem a ser mais restritivas e abrangentes, o que se vai repercutir nas vendas e capacidade competitiva de maior número de empresas. Por outro lado, refira-se que dezenas de países já estão a restringir o consumo de açúcar nas escolas e a implementar impostos sobre as vendas de bebidas e alimentos açucarados, cujas receitas revertem para os crescentes custos de saúde, e que novos países seguirão o exemplo. Acresce que, até agora, as bebidas refrigerantes foram as mais penalizadas, mas há mais bebidas a taxar e os fabricantes de produtos alimentares serão os seguintes na linha de fogo.
Inovação com produtos ‘livres de açúcar’: benefícios e riscos
As empresas que melhor se adaptarem a uma oferta “livre de açúcar” terão vantagens competitivas diretas (em termos de vendas e lucros, por exemplo), e benefícios menos tangíveis (reconhecimento e preferência dos consumidores) pelo que estarão melhor posicionadas para merecer a escolha dos investidores. No entanto, a transição para produtos “livres de açúcar” não está isenta de riscos: implica investimentos avultados que só serão compensados com novos produtos de sucesso e nem todos eles irão ao encontro das expectativas dos consumidores, o que pode comprometer, inclusive, algumas grandes marcas.
Informação, transparência e análise são essenciais
Graças à plataforma de análise que implementámos em 2015 e que inclui mais de 40 indicadores de risco, dispomos atualmente de vasta informação relativamente ao tema açúcar. A divulgação deste tema e plataforma junto das empresas do setor tem vindo a valorizar a transparência que, por sua vez, apoia o nosso conhecimento sobre as principais realidades e acontecimentos no setor.
Entre elas, temos assistido a um aumento contínuo de pequenas marcas a desafiar as incumbentes e a criar oportunidades de fusões e aquisições, assim como grandes empresas instadas a ser alvo de ativistas e pressões para desenvolver produtos mais saudáveis. Temos visto também um acréscimo de investimento em publicidade no setor. Estes exemplos provam que muito se mantém em aberto, pelo que é fundamental monitorizar continuamente as ameaças e oportunidades que decorrem do açúcar, e é isto que estamos a fazer, para ajustar ativamente a exposição dos investidores e reduzir o risco das suas carteiras.