Há quase 1.200 anos os vikings atacaram a cidade de Lisboa. Estavam em fuga do que é agora o norte de Espanha depois de terem sido derrotados por tropas locais e de terem sido fustigados por uma forte tempestade. Corria o ano de 844.
Mais tarde, 172 anos depois em 1016, os vikings regressaram ao que são agora terras lusitanas: subiram o rio Ave e atacaram o castelo de Vermoim, em Famalicão, tendo o ataque culminado na morte do conde Alvito Nunes, como recordou o jornal “Público” em setembro de 2016.
Agora, mais de mil anos depois, uma nova ofensiva viking ruma a sul com o objetivo de conquistar o mar português e instalar projetos de energia eólica marítima (offshore).
“Estamos a olhar para Portugal como um mercado interessante”, disse ao JE Einar Tollaksvik, diretor da empresa Saga Subsea e membro do cluster industrial Norwegian Offshore Wind.
“É muito interessante o que está a acontecer agora em Portugal, muito interessante para os investimentos noruegueses. Temos de estabelecer colaborações entre empresas norueguesas e portuguesas, e associações dos dois países”, defendeu em videochamada.
O responsável integrou uma comitiva de industriais noruegueses – que contou com a agência de promoção de investimentos do país, a Invest in Norway – que visitou Portugal na semana passada com o objetivo de avaliar parcerias para investimentos no offshore por cá, na Noruega, e noutros países.
“Isto não se trata apenas de empresas norueguesas que vêm para Portugal e querem investir cá: é também uma oportunidade para empresas portuguesas virem investir no mercado de vento offshore na Noruega”, acrescenta.
A comitiva esteve reunida com o secretário de Estado do Mar, José Maria Costa, e a secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia.
Einar Tollaksvik cita uma análise feita pela Norwegian Offshore Wind que concluiu que a “cadeia de abastecimento norueguesa tem a capacidade de fornecer 13% do mercado global offshore. Se houver colaboração entre empresas portuguesas e norueguesas isso também abre portas a encontrar novos projetos além dos dois países”.
A ponte ficou estabelecida entre os dois países e ficou em aberto a possibilidade de novos contactos para forjar parcerias.
Uns dias depois da visita da indústria offshore norueguesa, os dinamarqueses da Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) anunciaram a intenção de instalar um projeto de energia eólica offshore ao largo da Figueira da Foz.
O projeto Nortada conta com uma potência total de dois gigawatts (GW) num valor total de oito mil milhões de euros.
A Copenhagen gere um total de dez fundos com um poder de fogo de 19 mil milhões de euros, com o projeto Nortada a ser desenvolvido pela Copenhagen Offshore Partners (COP) “empresa líder no desenvolvimento, construção e operação de projetos de energia eólica offshore, e parceiro exclusivo para o desenvolvimento, construção e operação de parques eólicos offshore da gestora de fundos CIP”.
“O projeto Nortada será o primeiro parque eólico offshore de grande escala em Portugal. Queremos que represente a aceleração da transição energética portuguesa, que seja um exemplo na produção de energia limpa, pensado de forma holística em todas as suas componentes, e que simbolize uma aposta na reindustrialização e no crescimento económico do país”, afirma Afonso César Machado, responsável da COP pelo mercado português.
“A energia eólica offshore tem um enorme potencial de crescimento e evolução e, como tal, representa uma colossal oportunidade para o país. Com a materialização deste projeto, pretendemos colocar Portugal na linha da frente da transição energética a nível mundial”, acrescenta a responsável.
Numa fase já mais avançada, uma empresa alemã submeteu em outubro um pedido junto das autoridades portuguesas para construir uma central eólica marítima (offshore), mas fora deste leilão. O projeto fica localizado ao largo de Viana do Castelo e não vai contar com tarifas bonificadas. O projeto prevê um investimento de 2,5 mil milhões de euros. A companhia pretende iniciar a construção em 2025 para o projeto arrancar em 2028.
A BayWa Re “candidatou-se oficialmente para garantir os direitos de utilização exclusiva do espaço marítimo, de forma a desenvolver um parque eólico flutuante com 30 turbinas e até 600 MW no total, numa zona especificamente designada para o efeito ao largo de Viana do Castelo”. Atualmente, continua à espera de decisão por parte das autoridades.
Viana, Sines, Ericeira ou Sintra/Cascais. Estas são as oito áreas da eólica offshore
São 3.400 quilómetros quadrados no mar português para instalar 11 gigawatts de energia eólica marítima (offshore) divididos por oito áreas. Esta é a proposta do Governo que entrou em consulta pública a 30 de janeiro durante 30 dias úteis.
Destas oito áreas, seis destinam-se a instalar tecnologia fixa: as bases dos aerogeradores são fixados ao fim do mar, em zonas onde a profundidade máxima atinge os 50 metros: Matosinhos (181 km2 para instalar 995 megawatts) e a área de jurisdição portuária do porto de Sines (10 km2 para instalar 53 megawatts). Estas duas áreas contam com um total de 191 km2 para instalar mais de mil megawatts.
Seguem-se as seis áreas para instalar centrais flutuantes em locais onde as profundidas variam entre os 75 metros e os 200 metros) que vão de Viana do Castelo até Sines num total de 3.200 km2, numa potência de 10 gigawatts. A saber: Viana do Castelo (663 km2 para dois gigawatts), Leixões (463 km2 para 1,5 gigas), Figueira da Foz (1.238 para 4 gigas), Ericeira (256 km2) e Sintra/Cascais (84 km2) para 1 gigawatt, e Sines (499 km2 para 1,5 gigas).
E qual a distância mínima que estas áreas ficam de terra? Viana do Castelo (18,9 kms), Leixões (37,5 kms), Figueira da Foz (35 kms), Ericeira (10,5 kms), Sintra/Cascais (10,6 kms), Sines área norte (16,5), Sines área sul (15,5 kms), Matosinhos (3,5 kms), Sines (área de jurisdição portuária (1,8 kms).
“A seleção das áreas propostas procurou-se reduzir ao mínimo a interferência com os usos comuns do espaço marítimo, nomeadamente a pesca local e a navegação das embarcações de recreio”, pode-se ler no documento. Neste enquadramento, excetuando a área de Matosinhos (a 1,86 mn) e a área sob jurisdição portuária do Porto de Sines, todas as restantes situam-se a uma distância da linha de costa entre 5,65 milhas náuticas (mn) e as 30,03 mn”.
“O maior afastamento das áreas espacializadas à linha de costa tem impacto relevante no modelo da rede elétrica a desenvolver, quer offshore, quer onshore, nomeadamente em virtude dos elevados montantes de potência em cada uma das áreas espacializadas e da distância destas à infraestrutura da rede nacional de transporte (RNT) existente em terra, não sendo possível determinar, nesta fase, entre outros aspetos, a topologia das infraestruturas da RNT a estabelecer no espaço marítimo nacional (EMN), a sua tecnologia e se as mesmas serão operadas em corrente alternada ou em corrente contínua”.
O primeiro-ministro disse recentemente que o leilão deverá ser lançado até setembro.
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