Bernardo Maciel, Bruno Rodrigues e Nuno Rangel lideram três empresas portuguesas com atividade no mercado africano, cujos desafios e oportunidades foram debatidos esta quinta-feira, no ‘Growth Forum’ da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP).
Presente em seis países, quatro dos quais de África, a Bragalux, que tem a energia entre as principais áreas de negócio, deu o “salto” para a internacionalização em 2008, em plena crise financeira global. Primeiro para Angola e, pouco mais tarde, para Moçambique. Segundo Bruno Rodrigues, administrador da Bragalux, fundada há 45 anos pelo seu pai, a entrada em Angola decorreu de uma conjugação de fatores, como a boa situação financeira da empresa, “ingenuidade” associada à “vontade” de entrar naquele mercado. “Fomos no momento certo. Fomos na onda de tentar fazer lá bem o que já fazíamos. E acreditarmos que, de facto, tanto vale trabalhar em Portugal, como na Alemanha, como em Angola”. O “maior trunfo”, admite, é avançar com um projeto em que se acredita que se pode fazer bem.
A empresa portuguesa foi, no pós-25 de Abril, uma das responsáveis “por levar a energia pela primeira vez a muitos sítios”, nomeadamente a algumas zonas rurais de Trás-os-Montes, recordou.
Nascida igualmente em 1980, a Rangel Logistics Solutions tem uma presença “muito forte em África”, exportando para seis países do “berço da humanidade”, num total de nove mercados. Chegou a Angola em 2007, naquela que foi a primeira experiência internacional e em África. O crescimento em Angola e em Moçambique, onde entrou em 2013, abriu caminho à entrada noutros mercados africanos e, em 2021, a Rangel Logistics Solutions começou a operar na Zâmbia, expandindo para a Tanzânia no ano seguinte. Ainda nos países da lusofonia, em 2013 foi para o Brasil e em 2015 para Cabo Verde. Hoje, em Angola, o leque de soluções de logística e armazenagem é vasto, indo além do que é oferecido em Portugal, notou Nuno Rangel.
“A nossa internacionalização é uma coisa natural. Quase todas as empresas têm dois caminhos: ou fazem a internacionalização por proximidade geográfica ou por proximidade cultural. No nosso caso, foi a proximidade cultural com Angola mas, também, na altura as exportações portuguesas para Angola. Angola chegou a ser o quarto destino das exportações portuguesas. Foi um caminho que nós fizemos, no fundo, acompanhando os nossos clientes que estavam a exportar para Angola”, explicou.
A Rangel está, também, presente na África do Sul, “um eixo importante para conectar” com outros mercados, apesar de não ser “um destino muito comum” para as empresas portuguesas que se estão a internacionalizar, notou.
A génese da empresa despachante aduaneira vem do pai do CEO da operadora. A entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1986, foi o ponto de viragem. Dado que 70% do negócio da Rangel Logistics Solutions era de despachos dentro do espaço europeu, a livre circulação de mercadorias “aniquilou” a esmagadora parte do negócio.
A área aduaneira, que foi a génese do negócio, mantém-se, estendendo-se hoje ao transporte rodoviário e marítimo, operações de logística tradicional, industrial, farmacêutica, entre outros nichos de mercado, os chamados ‘special logistics’, dedicado ao transporte de obras-de-arte, feiras, exposições, entre outros.
Nuno Rangel mencionou ainda o impacto da situação política em Moçambique: “Quem está no mercado sente isso claramente”, notou.
“África tem uma grande dificuldade de infraestruturas. É um continente com um potencial enorme. É preciso ter uma visão de muito longo prazo”, defendeu.
Do lado da Yunit, Bernardo Maciel, diz que um dos passos fundamentais para as empresas é a “capacidade de competir”. “Temos, desde logo, de perceber como é que conseguimos ser diferentes do mercado”, alertou.
“Hoje, as oportunidades são maiores mas a reação e a proatividade global é muito mais rápida. Não basta chegar primeiro, tem de ser preciso chegar de forma diferente. Conseguir identificar as oportunidades do mercado, estar em cadeias de valor que sejam relevantes, tem sido o caminho que as empresas têm feito logo. O crescimento é um caminho que se faz caminhando”, explicou.
“Coloca-se muito o desafio da dimensão para poder competir. O crescimento é um caminho que se faz caminhando”, explicou. Hoje, o importante é perceber rapidamente como é que podemos ter vantagens competitivas dentro da nossa organização para trabalhar de forma rápida e eficaz junto desses mercados”, continuou.
“O mesmo responsável destacou o “aventureirismo de um conjunto de empresários que tem feito a história do nosso tecido empresarial, nomeadamente de PME”, a propósito da iniciativa ‘Heróis PME’, que vai na sétima edição”.
Sobre o processo de internacionalização, Bernardo Maciel entende que pode “valer a pena criar uma estrutura local, para poder estar em permanência nesse mercado”.
“A inovação é incontornável. Para estarmos presentes, já não basta falarmos português. Os outros países estão a competir em força nesses continentes”, defendeu.
A Nova SBE recebeu esta quinta-feira o Growth Forum, uma organização da Câmara de Indústria e Comércio Portuguesa (CCIP), que contou com o JE, Forbes Portugal e Forbes África Lusófona como media partners.
Este evento serviu para refletir sobre as oportunidades e desafios do mercado africano, para além das parcerias estratégias e investimentos neste continente que estão à disposição dos gestores e empresários portugueses e das tendências geopolíticas que têm efeitos em África.
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