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Viver com a Covid-19 – A movimentação do mercado

O país e a região realizaram, quase em pleno, a sua reabertura mas os mercados ainda não têm clientes, ou pelo menos não os têm com a quantidade e qualidade que levaram ao crescimento da economia portuguesa no período pré-covid-19. Requererá resiliência e capacidade de rápida readaptação para que os agentes económicos se mantenham, os modelos de negócio até aqui existentes poderão ter de ser repensados, reconstruídos e readaptados a um mercado retraído, inseguro e, em alguns sectores, consideravelmente menos consumista.
22 Setembro 2020, 07h45

As escolas abriram, em breve os portos de cruzeiros também, e embora em pouco tempo sejam levantadas todas as restrições impostas pelo combate à covid-19, a economia como a conhecíamos desapareceu, ainda por tempo indeterminado.

O país e a região realizaram, quase em pleno, a sua reabertura mas os mercados ainda não têm clientes, ou pelo menos não os têm com a quantidade e qualidade que levaram ao crescimento da economia portuguesa no período pré-covid-19. Requererá resiliência e capacidade de rápida readaptação para que os agentes económicos se mantenham, os modelos de negócio até aqui existentes poderão ter de ser repensados, reconstruídos e readaptados a um mercado retraído, inseguro e, em alguns sectores, consideravelmente menos consumista.

Transitoriamente, poderão surgir em alguns operadores a necessidade do exercício de novas atividades, diferentes mas comunicantes com a sua atividade tradicional, a atenção às necessidades do mercado terá de ser reforçada por forma a satisfazer necessidades de nichos até então inexplorados, e sem qualquer relação com os produtos e serviços até então comercializados.

Reestruturações terão de ser analisadas por forma a maximizar a eficiência e eficácia no aproveitamento dos recursos humanos e técnicos ao dispor das empresas, que poderão conduzir a novas parcerias ou alianças, de estrutura, grau de integração e estabilidade diversas, adaptadas a cada sector de atividade.

Nas próximas linhas vamos explorar algumas formas de celebração de parcerias comerciais, que poderão ser de enorme relevo no reforço da robustez com que as empresas enfrentarão o mercado regido pela covid-19.

A forma como se articulam e potenciam as diversas valências dos trabalhadores, ainda que fora da atividade normalmente exercida pela empresa, bem como a utilização dos recursos técnicos existentes para atividades que não são as habitualmente exercidas devem ser aqui tidas como subjacentes.

O mercado requer polivalência e versatilidade na rápida adaptação a novas necessidades, que apesar de transitórias, podem significar a manutenção no mercado de empresas que, ultrapassado o congestionamento causado pela covid-19, poderão retomar à forma tradicional do seu comércio.

É com os resultados da crise económica de 2008-2012 em mente que escrevemos as próximas linhas, pois no campo das consequências, o que poderemos vir a presenciar agora, será o que ocorreu então, em menor ou maior dimensão, apresentando algumas soluções estratégicas para a abordagem ao mercado pelas empresas.

Consórcio

O consórcio é uma forma não estrutural de articulação de duas ou mais empresas, vocacionado para a execução conjunta e imediata de uma atividade económica que pode ir desde a prestação de um serviço, o fornecimento de um bem, ou a realização de um empreendimento.

O contrato de consórcio é particularmente profícuo em dois tipos de situações, realização de atividade com recurso a grandes meios, caso em que duas ou mais empresas se consorciam para ampliar a sua capacidade produtiva, ou, a realização de atividade com profunda especialização, consorciando-se duas ou mais empresas de especialidades diversas mas complementares entre si, que dessa forma se capacitam para a realização de uma atividade que singularmente não estariam aptas a desempenhar.

Nos tempos que correm as necessidades específicas do mercado têm levado a que muitas empresas se afastem daquela que era a sua atividade tradicional, para a realização da prestação de outros serviços ou fornecimento de outros bens para os quais têm capacidade técnica em termos instrumentais, mas não o conhecimento técnico ou cientifico no campo dos processos de produção, encontrando no consórcio empresarial a forma de suprir essas insuficiências, abrindo portas a novas oportunidades de negócio.

O consórcio de empresas é muitas vezes utilizado em empreitadas de construção civil e prestação de serviços tecnológicos complexos, mas também pode ter relevo em atividades de menor envergadura, em que a conjugação das capacidades técnicas ou produtivas permitam a prestação de um serviço ou o fornecimento de um bem que os operadores não se encontrem aptos a realizar singularmente.

Franchising

O franchising chegou a Portugal na década de 90, e desde o início deste século fez chegar ao nosso país muitas marcas internacionais.

Neste modelo de negócio, um produtor de bens ou serviços poderá expandir rapidamente o seu negócio, sem necessidade suportar os riscos inerentes à assunção de um investimento relevante ou, pelo menos, reduzindo-os ao necessário a essa expansão, dando oportunidade a uma comerciante local de iniciar a execução de um negócio já testado e consolidado, sob a égide da marca do titular do franchising. Este modelo de negócio reduz consideravelmente os riscos da abordagem inicial ao mercado, pois será apresentado um produto já conhecido, que beneficia da experiência e organização empresarial do titular do franchising, integrando-se na sua cadeia. A identidade corporativa torna-se relevante na apresentação ao mercado, sendo muitas vezes um selo de qualidade para os consumidores, aumentando a recetividade do produto ou serviço.

Os sectores de atividade onde se verifica maior utilização do franchising no tecido empresarial português são o da alimentação, vestuário e exploração de ginásios.

Agência ou Representação Comercial

É o antecessor do franchising e entrou em desuso em alguns sectores de atividade com a sua chegada, tem por base uma menor identificação entre o titular do produto e aquele que o comercializa, mas garante-lhe a possibilidade de, de forma autónoma e estável, promover a venda de um produto ou serviço, numa área geográfica, ou para um determinado tipo de clientes, de forma exclusiva.

A agência ou representação comercial tem sido vista como uma forma por vezes complementar do exercício comercial, que permite a um operador económico que comercializa diversos produtos ou serviços, ter no seu portfólio um item diferenciador, do qual é agente, e que muitas vezes permite a construção de uma imagem comercial prestigiante atenta a associação de imagens com a do produtor do bem ou prestador do serviço agenciado.

Encontramos agentes comerciais no âmbito da venda de produtos eletrodomésticos, serviços de telecomunicações e na atividade seguradora.

Concessão

Como parente da agência, mas requerendo capacidade de investimento temos o contrato de concessão. Neste contrato o concessionário compra ao concedente um bem, destinado à revenda numa determinada zona geograficamente delimitada, na qual o concedente garante ao concessionário exclusividade a médio/longo prazo.

Os bens são produzidos ou distribuídos pelo concedente, e o concessionário assume a obrigação de adotar a organização definida pelo concedente, cumprindo a sua política comercial, e garantindo a assistência a prestar aos clientes.

Este tipo de contrato, tem subjacente, em alguns sectores comerciais, o exercício de controlo e fiscalização pelo concedente da qualidade da prestação ao público da prestação dos serviços ou da venda dos bens pelo concessionário, salvaguardando uma identidade de marca.

Com grande identidade com o franchising, o concessionário também beneficia da publicidade e imagem institucional do seu concedente, de cuja credibilidade e imagem comercial beneficia, potenciando a aceitação pelos consumidores dos bens comercializados.

O campo mais tradicional dos contratos de concessão é o do comércio automóvel.

As respostas jurídicas acima apresentadas à forma do exercício do comércio não são soluções, mas são instrumentos que podem, de forma eficaz, permitir atingir diversas vias para responder aos inúmeros desafios que se apresentam às empresas.

Os tempos que se avizinham são de compaginação da capacidade produtiva das empresas e preservação dos seus postos de trabalho, com a resposta do mercado à oferta, mantendo-nos cientes de que todos somos, nos diversos pontos da cadeia, produtores e consumidores num mercado global, que se quer em movimento.

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