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Volt Portugal quer tornar-se um partido diferente dos outros e mudar a forma como se faz política

É um movimento pan-europeu, com partidos nacionais já formados em vários países. Está a recolher assinaturas para se constituir como partido em Portugal e concorrer às eleições europeias e legislativas em 2019. No plano ideológico, “acredita que as terminologias de esquerda e de direita estão ultrapassadas” e perfilha os valores “dos pais fundadores da então CEE”.
23 Julho 2018, 13h22

O Volt Portugal é um novo movimento que está a recolher assinaturas para se constituir legalmente como partido e concorrer às eleições europeias e legislativas em 2019. Trata-se de um movimento pan-europeu, com partidos nacionais já formados em vários Estados-membros da União Europeia (UE), nomeadamente na Alemanha, Bélgica, Bulgária, Espanha, Holanda, Itália e Suécia. “O projeto surgiu há dois anos, em reação ao ‘Brexit’, por iniciativa de um grupo de amigos que na altura estavam a estudar nos EUA, entre os quais Andrea Venzon, o fundador e presidente do Volt Europa”, explica Tiago Guilherme, presidente do Volt Portugal. “Foi criada uma página no Facebook e rapidamente começaram a surgir pessoas de todos os Estados-membros da UE que se fizeram membros e criaram equipas nos seus países e nas suas cidades. Pode dizer-se que o Volt surgiu contra o populismo e contra o nacionalismo”.

Porquê a denominação como Volt, o que significa? “Volt vem de voltagem, não são siglas. O nome significa que queremos dar um novo impulso e energia a Portugal e à Europa. Queremos ser diferentes e mudar a forma como se faz política nos nossos Estados e na UE. Tirando casos pontuais, não temos experiência política, não temos os vícios dos partidos clássicos. E isso é uma mais-valia no nosso entender. É sangue novo que está a entrar na política”, responde Guilherme, o qual foi militante da JS e do PS entre 1995 e 2001. “Tanto quanto sei, os restantes membros da direção do Volt Portugal não pertenceram a nenhum partido. Do que me dá a entender, em geral, os membros que têm vindo a inscrever-se eram possíveis eleitores do PS e do PSD”, salienta. A média de idades dos dirigentes do movimento situa-se “entre os 30 e os 35 anos”, ligeiramente superior à dos militantes já inscritos.

O processo de recolha de assinaturas “está ainda muito no início, começámos neste mês de julho e, neste momento, temos pouco mais de 300 assinaturas”, revela Guilherme. Para se constituir legalmente como partido, o Volt Portugal necessita de obter 7500 assinaturas válidas. “O objetivo é termos as 7500 assinaturas até ao final de outubro, mas se resvalar até ao final de dezembro ainda vamos a tempo de concorrer às eleições europeias”, agendadas para maio de 2019. Quais são as maiores dificuldades que um projeto de novo partido tem que enfrentar em Portugal? Em comparação com outros países onde o Volt já formou partidos nacionais, é mais fácil ou mais difícil? “Em Portugal é muito mais difícil”, lamenta Guilherme. “Só para dar uma ideia, na Grécia são necessárias apenas 200 assinaturas. Em Espanha basta fazer um registo. Em Portugal optou-se por dificultar o surgimento de novos partidos e são necessárias 7500 assinaturas”.

 

“Queremos dar um novo impulso e energia a Portugal e à Europa. Queremos ser diferentes e mudar a forma como se faz política nos nossos Estados e na União Europeia”, sublinha Tiago Guilherme.

 

Se ultrapassar essa primeira barreira e concorrer às eleições europeias, qual será o objetivo mínimo do Volt Portugal? “O objetivo será sempre eleger um eurodeputado por Portugal, mesmo sabendo que é um objetivo muito ambicioso, dado sermos uma força política muito recente e o elevado número de votos necessários para eleger um eurodeputado pelo nosso país. Mas mais importante do que isso é começarmos a transmitir as nossas ideias e projetos, fazer com que os portugueses nos conheçam e nos compreendam”, sublinha Guilherme. As eleições legislativas de setembro ou outubro de 2019 também estão no horizonte do Volt Portugal. Qual será o enquadramento de um partido pan-europeu em eleições legislativas nacionais, com que programa é que vai concorrer? “O programa europeu do Volt para as eleições europeias está pronto e agora estamos a adaptá-lo ao Volt Portugal, também para as eleições europeias. Para as legislativas faremos um novo programa, mais direcionado e mais pormenorizado, sendo que a base é a já existente”, diz Guilherme.

Como é que o Volt Portugal se posiciona ideologicamente? “O Volt acredita que as terminologias de esquerda e de direita estão ultrapassadas. A política do século XXI vai basear-se muito mais nas ideias e nas propostas concretas do que nas bases ideológicas, que tiveram o seu papel histórico, mas que já não estão a dar respostas e esperança aos cidadãos. Se o Volt entrar para a Assembleia da República irá sentar-se entre o PS e o PSD, é o posicionamento mais neutro que existe no hemiciclo nacional. O Volt não é definível ideologicamente, os seus valores são os dos pais fundadores da então CEE, hoje UE: a paz, a democracia, a solidariedade, a igualdade de oportunidades, a prosperidade, o desenvolvimento, mas também a igualdade de género, a defesa das minorias, a proteção da natureza e dos animais”.

 

“Ter uma visão europeia da política”

Em que é que o Volt Portugal mais se distinguirá dos partidos já existentes? “Ter uma visão europeia da política. Os partidos portugueses raramente vêem além de Melgaço, Vilar Formoso, Caia, Vila Real de Santo António, das ilhas Desertas e da ilha do Corvo. Num mundo globalizado como o nosso, qualquer Estado da UE isolado não terá sucesso. Mesmo a Alemanha, o maior Estado, com 80 milhões de pessoas, terá grandes dificuldades em competir no mundo com gigantes como os EUA, Japão, China, Rússia, Índia, Brasil. Só uma UE coesa e forte pode competir saudavelmente neste quadro, seja economicamente, seja culturalmente”, argumenta Guilherme.

“Os partidos clássicos vivem demasiado ocupados com a gestão imediata do dia-a-dia e não têm um projeto de futuro, nem no contexto europeu nem no contexto nacional”, prossegue. “Alguém sabe o que o PS quer que Portugal seja em 2030? Alguém sabe qual seria a resposta do PSD a esta mesma pergunta? Para onde nos querem levar os dois principais partidos portugueses? Que futuro pretendem? E que Europa querem? Uma UE ainda híbrida ou uma UE mais integrada? Não sabemos. O Volt dá respostas de futuro. Acreditamos que há decisões que devem ser feitas ao nível europeu, há decisões que devem ser tomadas a nível nacional e há decisões que devem ser tomadas a nível regional e local. Falta aos partidos nacionais uma visão europeia. É essa a grande diferença. Além de que as nossas decisões não se baseiam na ideologia, mas no valor de cada uma delas e se está de acordo com os nossos princípios”.

 

“A iniciativa privada é essencial à democracia e deve ser incentivada e acarinhada. É ela que promove o desenvolvimento e o aumento do emprego”, considera Tiago Guilherme.

 

Smart State, Renascimento Económico, Igualdade Social, Equilíbrio Global e Dar Voz aos Cidadãos”. Este são os cinco principais desafios do Volt Portugal, plasmados numa espécie de manifesto. O que significa Smart State e porque é que o conceito não é traduzido para a língua portuguesa? E quanto aos restantes desafios, em que consistem mais concretamente? “Em português a tradução literal fica estranha, Estado Esperto, mas poderia ser traduzido para Estado Inteligente. Consiste sobretudo numa forma eficiente de gastar no Estado. O Estado deve concentrar-se na Saúde, Educação e Segurança Social. É aí que está o seu maior esforço, sobretudo financeiro. E é aí que deve ser mais rigoroso. As preocupações sociais em Portugal devem ser uma prioridade, dadas as grandes desigualdades sociais que existem. Ou seja, se eu fosse o presidente do Volt Suécia, provavelmente não sublinharia tanto as questões sociais e a proteção aos mais desfavorecidos. Na Suécia, as desigualdades são mínimas e essa questão não é um problema. Em Portugal é um problema. E o Volt Portugal vai dar grande atenção à área social”, responde Guilherme.

“O Volt tem essa flexibilidade, temos noção de que os problemas de um Estado não são exatamente os mesmos de outro. Tal como as questões primordiais de quem vive no Grande Porto não são exatamente as mesmas de quem vive no Alentejo”, acrescenta. E quanto ao “Renascimento Económico”, do que se trata? “O Volt não pretende um Estado maior, quer um Estado mais eficiente. Um Estado maior implicaria mais impostos e consideramos que os portugueses já pagam demasiados impostos. Acreditamos na economia de mercado, que traz muito mais vantagens do que desvantagens. Nos casos em que se verifica uma total desregulação, prejudicial aos cidadãos e ao normal funcionamento do mercado, poderá haver regulação. O Volt não é contra as privatizações, depende sempre de como são feitas e em que setores. A iniciativa privada é essencial à democracia e deve ser incentivada e acarinhada. É ela que promove o desenvolvimento e o aumento do emprego”.

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