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Von der Leyen fala à Rocky: Europa está encurralada num canto do ringue e “tem de lutar”

Ucrânia, Israel e Trump foram os temas fortes do discurso da líder europeia que enfrenta duas moções de censura no início de outubro. Centrão em Estrasburgo garante longa vida ao executivo Von der Leyen, mas há concessões a fazer.
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11 Setembro 2025, 07h00

“Rússia”, “Ucrânia”, “pessoas”, “apoio”, “hoje”, “luta”. Foram estas as principais palavras-chave de Ursula von der Leyen (UvdL) no seu discurso anual do Estado da União.

O discurso no Parlamento Europeu em Estrasburgo começou poucas horas depois de drones russos terem invadido espaço aéreo da Polónia, pleno membro da União Europeia e da NATO. A força aérea polaca abateu vários drones, a Rússia negou que tivesse intenções de atacar e na Europa já se fala em acionar a NATO para reagir.

“A Europa tem de lutar” e ser “independente”, disse aos eurodeputados na quarta-feira no seu primeiro discurso do Estado da União no seu segundo mandato.

No hemiciclo comunitário, também defendeu o acordo comercial alcançado entre a UE e os EUA, tentando abrir caminho para que os eurodeputados aprovem legislação que elimine tarifas europeias nos bens industriais europeus para abrir caminho à redução de tarifas sobre carros europeus exportados para os EUA.

“Ouvi muitas coisas sobre o acordo. Percebo as reações iniciais, mas tendo em conta as expetativas e as taxas adicionais que outros têm… nós temos o melhor acordo. Sem dúvida”, afirmou Von der Leyen.

“O acordo providencia estabilidade crucial nas nossas relações com os EUA numa altura de grave insegurança global. Pensem nas consequências de uma guerra comercial total com os EUA”, aconselhou.

Em resposta, a líder dos Socialistas & Democratas perguntou: “Onde estava a Europa quando assinou um acordo injusto com Trump?”, segundo Iratxe Garcia Perez, considerando “inaceitável” a decisão de aceitar um acordo com tarifas de 15% na maioria das exportações europeias. A espanhola considera que, com o acordo, a autonomia estratégica da Europa ficou metida “debaixo de um campo de golfe”, em referência ao local de assinatura do acordo, um dos campos de golfe de Donald Trump na Escócia.

Já os Verdes e os Patriotas criticaram o facto de o acordo prever um pacote de 750 mil milhões de euros da UE em energia americana nos próximos anos.

Se Bas Eickhout dos Verdes defende que este dinheiro deve ser investido em energias renováveis, já Jordan Bardellla dos Patriotas deu a entender, erradamente, que o valor seria pelos europeus, quando o valor é uma mistura de compras ao longo do tempo com investimentos.

Os blocos de extrema-esquerda e extrema-direita do Parlamento Europeu já anunciaram que vão apresentar moções de censura ao executivo de Ursula von der Leyen que deverão ser votadas no início de outubro.

Se aprovadas, o executivo cai, mas as contas indicam que von der Leyen conta com o apoio da maioria dos eurodeputados, sendo de prever que os seus aliados ao centro exijam mais medidas dentro da sua agenda, tal como aconteceu na última moção de censura em julho.

“A UE é mais fraca hoje devido ao falhanço persistente da presidente da Comissão em lidar com os temas mais desafiantes”, segundo a moção dos Patriotas, citada pelo “Politico”.

Já a Esquerda critica o que considera ser a inação em relação à ação militar de Israel em Gaza, apesar das medidas anunciadas na quarta-feira. “Não podem haver meias medidas num genocídio. Não tomou sanções reais, o anúncio não muda nada”, disse a líder da Esquerda, Manon Aubry.

Rússia e Israel na ordem do dia

Sobre a ameaça russa, a líder europeia garantiu aos países de leste que Bruxelas está disposta a apoiar financeiramente os seus esforços para aumentarem a sua defesa contra uma potencial agressão russa, como desejam a Polónia, Estónia e Lituânia, o que inclui uma ‘drone wall’, isto é, a criação de um sistema de drones para proteger as fronteiras europeias no flanco leste.

Também no tema Rússia, a líder defendeu que os ativos russos congelados devem ser usados para financiar a recuperação da Ucrânia nos próximos anos.

Com o discurso a acontecer menos de 24 horas depois de Israel ter atacado líderes do Hamas no Qatar, a invasão militar de Gaza também mereceu a atenção de UvdL que anunciou a suspensão do apoio bilateral a Israel, incluindo apoio financeiro. Bruxelas vai também propor a sanção de “ministros extremistas” do Governo e de colonos israelitas violentos na Cisjordânia.

No seu discurso anual do Estado da União, a líder europeia condenou a “fome” imposta por Israel em Gaza, assim como o “sufoco financeiro” da Autoridade Palestiniana e a “tentativa clara” do Governo de Netanyahu de “minar a solução dos dois estados”.
“Vamos também propor a suspensão parcial do acordo comercial”, anunciou, citada pelo “Politico”, que detalha que as medidas foram aplaudidas em todo o Parlamento Europeu, exceto no lado direito da salta onde eurodeputados da extrema-direita alemã da AfD estão sentados.
“O que está a acontecer em Gaza é inaceitável”, disse no Parlamento Europeu em Estrasburgo. “Vamos suspender o nosso apoio bilateral a Israel”, deixando intactos apoios à sociedade civil israelita, ou ao Museu do Holocausto Yad Vashem.
Von der Leyen sublinhou que o desacordo entre países da UE sobre as sanções bloquearam mais ações concretas, como a suspensão do financiamento à investigação, o que tem estado a fomentar a insatisfação dos europeus pela falta de ação das instituições europeias contra Israel para travar o genocídio em Gaza, como já foi declarado pela Amnistia Internacional e pelo B’Tselem – O Centro de Informação Israelita para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados.
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