Em 1985, Lionel Richie e Michael Jackson escreveram este hino para angariar dinheiro para os países africanos que sofriam de seca extrema. Em 1985, eu tinha apenas 9 anos de idade… Pode ser nostalgia romântica de uma criança que não entendia bem as regras do mundo, ou então era porque éramos, enquanto sociedade, mais preocupados com os outros, mas o mundo em 2023 está muito diferente (e pior).

Vivemos um paradoxo, num mundo em que posso conectar-me a quase qualquer indivíduo globalmente à distância de um clique, sinto-me desligada e como uma mera espetadora. Enquanto em 1985, uma ligação telefónica analógica poderia constituir um obstáculo comunicacional, eu sentia-me mais conectada e com maior empatia com pessoas que viviam num país, e num continente distante. O que nos aconteceu?

Atravessamos uma crise social, política e de valores. Enfrentamos conflitos mundiais a uma escala enorme e com uma tendência de nos sentirmos cercados, mas o sentimento mais prevalente é o da apatia.

Assistimos em direto a bombardeamentos de civis, adultos e crianças, em diversas geografias e quase que parece que as notícias se transformaram em Netflix. Tudo tem valor de audiência, nada tem valor humano!

Às três da manhã, quando tenho o momento diário de insónia, sinto-me constrangida com o facto de estar a observar e nada fazer. Pior de tudo, é de aos poucos sentir-me dormente ao contexto externo. Nesse momento a reflexão é: mas o que posso (eu) fazer?

Ora, esta semana quando voltei a ouvir o hino referido no título pensei – o que a criança de nove anos podia fazer? Provavelmente, pouco ou nada, mas tinha uma preocupação real e acreditava nas palavras fortes desta música. Traduzindo de forma liberal – chega a um momento que temos de nos unir. Temos de defender a vida (com dignidade) para todos. A maior prenda é a nossa humanidade. Não podemos continuar a fingir que o assunto não nos diz respeito e que “alguém” vai fazer a mudança que queremos ver a ser implementada. Seremos nós a fazer um dia melhor e a escolha é nossa!

Nos dias que antecedem um Ano Novo é habitual fazermos resoluções de Ano Novo. Trata-se sempre de dimensões de melhoria, mas que na maioria das vezes centram-se mais a nível individual. Eu tenho as minhas… Contudo, este ano, seria maravilhoso se fizéssemos uma resolução social em nos preocupar mais com os outros, estejam eles perto ou longe. E, já agora, que passássemos de intenções para ações, pois – “We are the world, we are the children…” e a mudança começa em “mim”!