Estamos a um mês da realização da terceira edição da Web Summit em Lisboa e ficámos a saber que vai ficar no nosso país até 2028. São boas notícias.

Há quem questione o valor que fica para Portugal depois dos eventos. Eu, como dizia alguém com quem trabalhei há muitos anos, “prefiro relacionar-me com o lado positivo dos temas e das Pessoas”.

Temos de reconhecer que este megaevento contribui decisivamente para Portugal se posicionar como um país-marca “enabler” de tecnologia no mundo. De facto, para além da promoção turística além-fronteiras e das consideráveis receitas que dela resultam, traz ainda empreendedores, investidores, gurus e muitas outras figuras de relevo, sinalizando o princípio de um caminho que temos de percorrer para fazermos acontecer a digitalização.

É certo que, antes deste fenómeno, já muitos empreendedores, incubadoras, startups e empresas percorriam este caminho, mas esse trabalho é agora mais visível e potenciado.

Muitas organizações já tomaram consciência de que, para acompanharem a revolução tecnológica em curso, têm de repensar a forma como se relacionam com os seus públicos – colaboradores, parceiros, clientes, utentes – e abraçar a tecnologia como um veículo para os servir melhor. Para surfar a onda, devemos lembrar-nos de que a revolução digital depende 90% das pessoas e apenas 10% da tecnologia. Assim, o esforço deve ser dirigido para as soluções e para a forma como a tecnologia pode ser um meio em vez de um fim.

Ao invés de ficarmos presos aos chavões da moda – a internet das coisas, a inteligência artificial, os robôs – habitualmente incompreendidos pelo cidadão comum, aproveite-se o talento jovem, os profissionais experientes e a excelente plataforma académica e tecnológica do país. Isto se quisermos estar na linha da frente deste processo, levando o nosso conhecimento e aprendizagens a outras geografias.

Passaram-se três anos desde a primeira Web Summit “portuguesa” e o país “criou” três novos unicórnios – a Farfetch, a OutSystems e a TalkDesk. São as embaixadoras do Portugal Tecnológico. Os seus fundadores e as suas equipas merecem o mais profundo respeito e admiração de todos os portugueses. São motivo de orgulho para todos e contribuem para vender a marca Portugal lá fora. Todos beneficiamos com isso. Merecem um enorme “Muito Obrigado”, porque, em Portugal, reconhecemo-nos pouco uns aos outros. Eles são muito relevantes!

Porém, as três realidades acima mencionadas são ainda muito distantes do todo nacional. É certo que o próprio Estado está a fazer um importante trabalho de modernização, através da recuperação do programa Simplex e da estratégia para a Industria 4.0, dando, assim, o exemplo.

No entanto, há ainda muitos setores de atividade e organizações que revelam resistência em acompanhar o paradigma digital, que junta a alavanca tecnológica à necessidade de clientes e cidadãos se relacionarem de forma diferente com as instituições. Isto é bem diferente de apenas digitalizar os processos de negócio. Implica pensar a digitalização como parte integrante daquilo que uma organização quer SER.

Para os menos atentos, importa lembrar que estamos a viver a 4ª revolução industrial. Devemos, por isso, encarar de frente esta grande oportunidade para projetarmos as nossas organizações a cinco, dez ou 15 anos, focando no que é intemporal, em vez de focar apenas no que são as modas de cada momento.

A 4ª revolução industrial é uma viagem e não um destino. A Web Summit é um programa de vários momentos que faz sentido nesta viagem de Portugal – que se quer inclusivo – mais digital. É esta marca Portugal que devemos ambicionar. Em vez de criticar, devemos abraçar. Em vez de esperar, devemos avançar. Em vez de olhar para o que podíamos ganhar, devemos olhar para o que queremos ser. Sejamos relevantes!