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Werner Vogels: FemTech e IA Generativa nas tendências para 2024

Foi no palco da Amazon Web Services, no início de dezembro, que Werner Vogels abriu a bola de cristal: quais as tendências para o próximo ano?
Werner Vogel na AWS re:Invent 2023
20 Dezembro 2023, 07h30

Wegner Vogels está pronto para ser um ator de cinema. Ainda não tinha subido ao palco da Amazon Web Services (AWS) e Wegner Vogels já mostrava o que estaria para vir. De facto, não se podia esperar outra coisa do CTO da AWS, que arrancou fortes aplausos e risos.

Mas Vogels foi falar de assuntos sérios, ou não fosse o último grande keynote da maior conferência da Amazon. Mas isso, à semelhança de anos anteriores, já era de esperar. O responsável pelo segmento de tecnologia da AWS deixou, ao longo da sua apresentação de duas horas, fortes indicações do que se deve esperar do futuro tecnológico da indústria.

Num primeiro ponto, e com foco naquilo que foi o tema de conversa em 2023, Werner Vogels destacou a Inteligência Artificial Generativa (Gen IA) e como esta se vai tornar “culturalmente consciente”. Afinal, trabalhando com tecnologia numa base diária, Vogels deve saber o que temos pela frente.

Para 2024, o CTO admite que a Gen IA vai ser ‘treinada’ com uma maior base de dados, o que a irá tornar mais diversificada mas também deverá trazer resultados mais subtis e precisos para quem a utiliza. Isto é, a Gen IA vai avançar de tal forma que se tornará mais acessível e útil para mais pessoas no mundo.

O exemplo: “Se pedirmos a um modelo de língua inglesa para resumir um livro, ele vai dar uma resposta muito diferente de um modelo treinado em conteúdo sul-americano”, citando um exemplar de Isabel Allende, escritora do Peru. Mas, com a cultura mais assente na sua base, a mudança acontece e o algoritmo fica mais consciente do que está a ‘dizer’.

FemTech estará na vanguarda?

Será que as queixas das mulheres deixarão de ser ignoradas? Apesar de não ser uma certeza, Werner Vogels acredita que 2024 será o ano de ver “muito mais medicina de precisão direcionada aos problemas das mulheres”.

O CTO acredita veemente que a sua previsão se vai concretizar devido ao aumento do investimento e interesse que o sector da saúde, com grande foco no género feminino, tem despertado. É que Vogels acredita que os avanços conseguidos com a tecnologia estão a fazer com que a saúde esteja mais acessível à mulher.

“É uma mudança social. O estigma está a mudar. Os homens estão a falar sobre menopausa, porque as suas mulheres e amigas, namoradas e filhas estão a passar por isso e eles veem. Se recuarmos 20 anos, as mulheres nem falavam disto entre si”. Ao ser um tema ‘aberto’ e pertencente à sociedade (não fossem as mulheres metade da população do planeta Terra), os investimentos começam a surgir neste mercado específico.

“Vejo que, na FemTech, a mudança é imediata: vamos dar um passo em frente e vamos garantir que conseguimos fazer saúde de precisão”, disse durante o seu discurso.

Na opinião do tecnológico, a FemTech abre uma maior discussão sobre como a tecnologia pode melhorar o acesso das mulheres à saúde em áreas rurais, bem como o desenvolvimento de novas ferramentas e produtos que podem dar dados mais precisos a médicos e profissionais de saúde. O propósito? Melhores diagnósticos e tratamentos para doenças que afetam as mulheres e para as quais não tem existido progresso.

No seu discurso, o responsável lembra que o financiamento em FemTechs cresceu 197% este ano no serviço de cloud. Vogels deu como exemplo Elvie, Embr Labs e Tia como startups focadas na saúde da mulher que estão a mostra o “imenso potencial do uso de dados e análises preditivas para um cuidado individual”.

Assistentes de IA redefinem produtividade

Os assistentes de IA vão evoluir face aos gestores de código básico que são hoje. “Vão explicar sistemas complexos em linguagens simples, vão surgir melhorias direcionadas e assumir tarefas repetitivas, permitindo que os programadores se concentrem no trabalho com mais impacto”, apontou Vogels.

Werner Vogels voltou mesmo atrás no tempo e lembrou o seu discurso de 2021. “Nesse ano, previ que a Gen IA ia começar a desempenhar um papel importante na forma como o software era escrito. Isso aumentava as habilidades dos programadores e ajudava-os a escrever um código mais seguro e confiável”, recordou.

“Agora, estamos a ver exatamente isso a acontecer. Existe um amplo acesso a ferramentas e sistemas que podem gerar funções e testes com base em prompts de linguagem normal.

“Os assistentes de IA do futuro não vão apenas perceber e escrever código. Serão funcionários e professores incansáveis. Nenhuma tarefa vai esgotar a sua energia e nunca vão ficar impacientes a explicar conceitos ou refazer o trabalho, independentemente de quantas vezes se perguntar”.

Educação vai corresponder ao avanço tecnológico

As alterações tecnológicas têm sido de tal formas rápidas que o sector da educação não tem conseguido acompanhar o ritmo. Mas, nas palavras de Vogels, tudo se prepara para mudar.

“Vão surgir programas de treino baseados em habilidades da indústria que se assemelham ao trabalho de profissionais qualificados. Esta mudança vai beneficiar tanto os alunos, profissionais e empresas”, defendeu.

“As empresas estão a trazer, cada vez mais rápido, produtos para o mercado e os clientes estão a adotar novas tecnologias a velocidades que antes eram imagináveis. Nesta velocidade da tecnologia e negócios, existe uma área que não foi incluída: o ensino superior”.

“A educação é radicalmente diferente em todo o mundo, mas tem sido amplamente aceite que, para contratar as melhores pessoas e conseguir o melhor emprego, um certificado da universidade é a melhor aposta. Isso tem-se comprovado na tecnologia”, disse no palco. “Mas estamos a ver esse modelo cair, tanto para pessoas quanto para empresas. Para os estudantes, os custos estão a aumentar e muitos estão a questionar o valor de um diploma universitário quando a formação prática está disponível. Para as empresas, as novas contratações ainda exigem treino”, lembrou.

“À medida que as indústrias avançam com a tecnologia, a diferença entre o que é ensinado nas escolas e o que os empregadores precisam vai aumentando”, considerou.

No entanto, Werner Vogels fez questão de vincar que isso “não significa que os cursos tradicionais vão desaparecer”. “Não se trata de uma situação de e/ou. É uma escolha. Vão continuar a existir áreas na tecnologia em que a aprendizagem académica é fundamental. Mas haverá muitos sectores em que o impacto da tecnologia supera os sistemas de educação tradicionais”.

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