Xi Jinping proferiu na semana passada um discurso na abertura no Congresso do Partido Comunista Chinês que tomou proporções épicas, maioritariamente devido à sua extensão. Foram mais de três horas a relatar os feitos dos últimos cinco anos e a delinear o rumo de várias políticas para os próximos cinco.
É esperado que Xi Jinping consolide o seu poder dentro do Partido Comunista Chinês e consequentemente como líder da China. Um ponto de particular interesse numa fase em que a democracia ocidental se encontra polarizada por divergências políticas ou constrangida por constituições pesadas.
Os Chineses, por outro lado, estão preparados para conceder ainda mais poder ao líder de um partido que já é responsável por nomear os executivos das principais empresas e bancos do país (porque são detidas pelo Estado), os decisores e administradores dos abrangentes serviços públicos e os principais responsáveis pela imprensa Chinesa, entre os outros poderes habituais de qualquer Governo.
Noutros tempos houvera líderes mais poderosos, mas actualmente Xi Jinping é muito provavelmente o ser humano que está mais perto de atingir um estado de omnipotência. É o que “manda naquilo tudo”…
Esta concentração de poder tem inúmeras implicações, mas nos mercados financeiros a preocupação é perceber quais vão ser as mudanças ao nível da política económica. Existem pelo menos três questões que geram nervosismo generalizado: 1) o rápido ritmo de endividamento da economia Chinesa, 2) o complexo e delicado equilíbrio do mercado imobiliário e 3) a continuação do financiamento de indústrias inundadas com excessos de capacidade. Não deverão sair novidades relativamente a estes temas no Congresso, mas Xi Jinping vai certamente aproveitar o reforço do seu poder para abordar e tentar resolver estes problemas ao longo dos próximos cinco anos.
O mercado imobiliário deverá ser uma prioridade porque representa uma fatia relevante das poupanças da população Chinesa. Num país em que as remunerações dos depósitos bancários são insípidas quando comparadas com a inflação, onde o mercado de acções é extremamente volátil e opaco, e onde os particulares basicamente não podem mover o seu capital para o investir no estrangeiro, o mercado de imobiliário é uma das alternativas de investimento/poupança mais atractivas. Muitos particulares direccionam as suas poupanças para este mercado e por isso Xi Jinping deverá definir como uma prioridade garantir que não surgem daí surpresas negativas.
Um indicador interessante que sugere que os preços do imobiliário Chinês já não são conduzidos por moradores mas sim por investidores/especuladores é divergência entre o número de casas e o número de frigoríficos vendidos ao longo dos últimos dois anos. O fenómeno de êxodo rural também parece estar perto do seu pico, visto que já existem poucos jovens a viver no campo, e os Chineses estão cada vez mais conscientes da distorção deste mercado. Algo que pode ser verificado pela procura por alternativas de investimento, como a Bitcoin, no país.
O Governo tem várias opções para começar a aliviar a tensão mercado imobiliário, como abri-lo a capital estrangeiro ou incentivar à imigração, mas terá que fazê-lo com alguma celeridade na minha opinião.