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Zelotas de uma qualquer “Regeneração”

Por isso, hoje e para o futuro, desta vez mais se invista, naquilo que não é aparentemente tão visível, mas inteligível: insisto na Educação, no Conhecimento, na Cultura.
13 Maio 2019, 07h15

Arthur Schopenhauer considerava que, «para nos tornarmos tolerantes com opiniões contrárias à nossa basta lembrar que nós mesmos já mudámos de opinião várias vezes.»

Mudar de opinião é tão comum à condição humana, quantas as vezes que somos capazes de nos questionarmos sobre a nossa própria condição, sobre os princípios e os valores que queremos prosseguir para bem comum e progresso integral da Humanidade.

Vem isto a propósito da “Regeneração” do século XIX ou da versão insular contemporânea, nominada de “Renovação”.

A crítica ao “Fontismo”, preconizada pelo então marquês de Sá da Bandeira, reformista mais pela dialética política do que pela antítese das medidas adotadas, veio de algum modo cimentar, aquilo que seria mais tarde, o Progressismo em Portugal, o partidário, o movimento operário e o socialismo dos finais do século XIX e com ele a consciência da necessidade contínua de defesa de causas sociais, em prol dos mais desfavorecidos e não privilegiados.

No entanto, o marquês de Sá da Bandeira, veio iniciar uma política de cortes na despesa que contrastava claramente com a estratégia que até então vinha sendo implementada pelos governos da Regeneração.

Porventura, poderíamos então concluir que este aparente criticismo, constituiria uma das razões ou causas que levaram à crise da monarquia constitucional, tendo como consequência a revolução republicana.

A crise das finanças públicas, consequência dos deficits gerados pelas políticas de transformações no sistema de transportes – razão que veremos cíclica na história contemporânea – viera agravar a incapacidade de “intervenção” da coroa no redimensionamento económico do mercado interno e a inoperância no externo, face à permanência das necessidades de modernização e financiamento.

Não persistiremos nos mesmos problemas nos nossos dias, em razão do “contentamento descontente” de alguns?

A economia da segunda metade do século XIX, que esteve dependente do investimento público e da contração de dívida externa, persistiu na dificuldade de fazer coexistir, as necessidades imperiosas de desenvolvimento e modernização com umas finanças públicas saudáveis. Viu-se por isso, obrigada a novos constrangimentos, invertendo o ciclo económico de desenvolvimento e progresso, e por isso, razão do descontentamento quer da nova classe dominante, quer da nova classe proletária.

Penso que hoje, novos constrangimentos orçamentais e económicos não é o que queremos!

Interpretando os factos históricos, poder-se-ia especular, ou não, se não foram as opções políticas de esquerda, no domínio da economia quando tomadas por governos de direita, ou as opções políticas ditas de direita, quando tomadas por governos de esquerda, que fizeram prevalecer na hegemonia do poder, cada um destes governos, triunfando eleitoralmente e em alguns casos por várias décadas!?

Ora, porventura diríamos que a consciência política disso mesmo, seria um antagonismo a uma Democracia saudável e estaríamos a defender rotativismos, bipartidarismos ou um “centrão” de interesses.

Certo é, que a atual direita política portuguesa, que outrora fora centrista ou social-democrata, tornou-se desde há vários anos neo-liberal, vindo também a surgir no espectro político correntes de opinião progressivamente fascizantes ou populistas que agora se mascaram no interior de partidos, defendendo causas até então fraturantes. Outrora defenderam o personalismo e um humanismo cristão, comum à doutrina social da Igreja, desde a Encíclica “Rerum Novarum” à “Populorum Progressio”.

Hoje a direita política perdeu a capacidade de fazer uma oposição séria, porque esvaziaram-se os argumentos – que não aqueles falaciosos. Talvez porque na realidade, até concordam com o feito e se pudessem tentariam fazer o mesmo – ou talvez não – caso contrário tê-lo-iam feito antes!

O centro-esquerda conseguiu fazer melhor, o que a direita política nunca conseguiu fazer: conciliar as finanças públicas equilibradas, com o crescimento económico e com a defesa do estado social e do setor público.

Três pilares estruturantes que resumem questões princípio, que não são de ideologia mas de Humanidade: o acesso à Educação, universal e gratuita; o direito universal ao acesso ao Serviço de Saúde e à Segurança Social. O direito à Habitação.

O marquês de Sá da Bandeira iniciara uma política de cortes na despesa acessória, e ao questionar o paradigma, tentou mudá-lo, para recentrar o desenvolvimento na sua essência, naqueles que verdadeiramente importam: as pessoas, o que contrastava com a “alegorização do visível” dos governos da “Regeneração”.

Parafraseando Paulo Freire: «A Educação não transforma o mundo. A Educação muda as pessoas. As pessoas é que mudam o mundo.» Por isso, hoje e para o futuro, desta vez mais se invista, naquilo que não é aparentemente tão visível, mas inteligível: insisto na Educação, no Conhecimento, na Cultura.

E, sobre os zelotas de uma qualquer “Regeneração”, os mesmos de sempre, “velhos do Restelo” deixo-lhes umas palavras de Pascal: «Não me envergonho de mudar de opinião, porque não me envergonho de pensar.»

É tempo de dizer sim ao futuro, é tempo de mudar!

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