As medidas de confinamento aplicadas nos últimos meses de 2020 e no início deste ano deverão condenar a economia da zona euro a um regresso à recessão técnica, mas esta não será tão severa como a da primeira metade do ano passado. Alguns países, incluindo Portugal de forma algo surpreendente, vão até escapar esse cenário.
“As duras restrições ‘Corona’ vieram novamente afundar a economia da zona euro numa recessão”, lamentou Christoph Weil, economista sénior no alemão Commerzbank.
O Eurostat divulgou hoje a estimativa preliminar para o Produto Interno Bruto (PIB) do bloco da moeda única, uma contração em cadeia de 0,7%, provocada principalmente por recuos em França e na Itália, de 1,3% e 2%, respetivamente.
Apesar da pandemia “ter atingido estes países de forma particularmente dura”, a contração na zona euro acabou por ser menos que prevista, com as economias de Alemanha e Espanha a registarem crescimentos, mesmo que ligeiros, de 0,1% e 0,4%, respectivamente, vincou Weil.
Portugal insere-se também neste grupo, tendo ‘imitado’ o crescimento de 0,4% da vizinha Espanha, superando as expectativas, incluindo a do Banco de Portugal, que apontavam para uma descida de 1,8%, e mesmo com uma contração esperada para os primeiros três meses de 2021 vai escapar à entrada em recessão técnica, definida por dois trimestres seguidos de diminuição do PIB.
O Governo explicou que contributos da procura interna e da procura externa líquida para a variação em cadeia do PIB foram ambos positivos.
Pedro Lino, administrador da Optimize Investment Partners, afirmou no programa ‘Mercados em Ação”, da JE TV que “é seguro que a atividade económica é diretamente proporcional ao crescimento do PIB, por isso provavelmente o facto de em Portugal termos confinado mais tarde e tido menos restrições mesmo na época do Natal implicou uma melhoria da atividade, ou uma atividade ligeiramente superior”.
Lino recordou que o Banco Central Europeu alertou que novembro foi um mês onde se deu uma inversão em termos globais à atividade económica na zona euro, porque a Alemanha introduziu logo nesse mês medidas de confinamento.
“Provavelmente vamos ter um primeiro trimestre pior, porque estamos a ver as economias mais fechadas. Alemanha e França irão confinar até fins de março. Em Portugal vamos ficar confinados, ou com restrições, até março, e por isso a atividade no primeiro trimestre, muito embora a do último tenha sido melhor, irá sofrer uma contração ao nível não só do consumo, mas principalmente do investimento, que irá penalizar o crescimento do PIB”, vincou.
Queda menos acentuada que na última primavera
Christoph Weil concorda que no primeiro trimestre de 2021, o PIB da zona euro deverá cair de forma ainda mais acentuada, “porque, ao contrário do último trimestre de 2020, quando as restrições foram aplicadas principalmente em dezembro, a economia provavelmente será impactada significativamente ao longo do trimestre por medidas de combate à pandemia”.
O economista do Commerzbank sublinhou, contudo, que não espera uma queda como a da primavera de 2020 porque os setores de manufatura e serviços não diretamente afetados pelas medidas para estancar a pandemia não estão a ser ‘contagiados’ indiretamente, pelo menos até agora.
“Com o aumento das temperaturas, a pandemia provavelmente diminuirá como na primavera passada, porque a luz solar fortalece as defesas imunológicas e as pessoas passam mais tempo ao ar livre”, adiantou.
Além disso, à medida que as vacinações progridem, especialmente entre os idosos, o número de casos graves da doença e o número de pessoas que morrem com ou por causa da novo coronavírus devem cair significativamente, disse Weil.
“Isso permitirá que os formuladores de políticas aliviem as restrições até a Páscoa, o mais tardar. Com a abertura das lojas, a atividade econômica deve aumentar visivelmente. Ao longo do segundo semestre, os restaurantes, hotéis e outros serviços de contacto intensivo deverão poder retomar o seu funcionamento normal, e isso dará à economia um impulso adicional”, concluiu.
O Commerzbank projeta que a economia da zona euro volte ao nível anterior à crise até o final deste ano. Para a média anual, espera crescimento econômico de 5,0%, ante -6,8% em 2020.
China aberta
Bert Colijn, economista sénior para a zona euro no banco holandês ING, recordou que na segunda vaga da pandemia as medidas restritivas foram adaptadas e são mais brandas em comparação com a primeira.
“Pense em países como França e Espanha, por exemplo, onde a indústria e a construção permaneceram amplamente abertas ao longo do trimestre”, explicou. “Isso teve um efeito muito positivo sobre o PIB, especialmente porque a procura por bens e construção permaneceu forte. A mobilidade, movimento de pessoas amplamente relacionado com o crescimento do PIB na primeira vaga, também foi mais forte no quarto trimestre do que na primeira vaga, que também apoiou a atividade económica”.
Colijn frisou que o que também ajuda é que o resto do mundo ainda está aberto. “Em comparação com a primeira vaga, quando os problemas da cadeia de fornecimento e bloqueios globais causaram uma grande queda na procura externa, a segunda vaga é bem diferente”.
“Fora da zona euro, a maioria das economias permaneceu amplamente aberta e o quarto trimestre beneficiou da forte procura de países como a China, e de um efeito de stock no Reino Unido antes do final do período de transição. Isso resultou em números de exportação mensais bastante favoráveis e aumentou a produção industrial”, concluiu.
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