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Alberto João Jardim contesta liderança de Passos Coelho

Em entrevista ao Económico Madeira, antigo presidente do Governo Regional da Madeira lança também farpas aos partidos de esquerda e à atuação de António Costa durante os incêndios. “Foi aselha, coisa que não tinha sido durante dois anos”.
Helder Santos
4 Agosto 2017, 07h25

Alberto João Jardim é o entrevistado desta edição do Económico Madeira, onde aborda a atual situação política nacional. O antigo presidente do Governo Regional da Madeira diz não ter ficado surpreendido com a estabilidade governativa da “geringonça”, mas alerta para a elevada percentagem de votos na extrema-esquerda que considera ser uma singularidade de Portugal no contexto europeu.

“O que é preocupante é que, juntando os votos do PCP e do BE – que é trotskista, como sabe, e portanto comunista, não me venha com tretas -, Portugal tem uma coisa que no resto da Europa já não há: 20 por cento dos votos estão na extrema-esquerda.” E acrescenta: “20 por cento dos votos dava para fazer uma revolução, à vontade”.

Mas porque é que não ficou surpreendido? “Não fiquei porque esta gente, a esquerda radical, tem algumas causas, mas não tem um programa alternativo. Tem causas fraturantes, mas essas causas não fazem uma ideologia. Como só têm causas fraturantes, não têm um projeto político alternativo. Portanto, o que lhes resta? Impedir que o inimigo principal, a direita, esteja no poder. ‘Tudo menos a direita’, diz o PCP. De maneira que o António Costa, que é um homem que conheço pessoalmente que considero ser inteligente, jogou muito bem com isto tudo. Eles andam ali quietinhos, com medo que a direita vá para o poder. Mas vão ser ‘comidos’. Porque o Costa está a ter um sucesso que tenho de reconhecer”.

A favor de demissões

Apesar do sucesso, Jardim acha que os recentes acontecimentos em Pedrógão Grande e Tancos deveriam ter resultado em demissões. Desde logo da ministra da Administração Interna e do ministro da Defesa Nacional, pois “nestas coisas corta-se o mal pela raiz. Sei que é uma excelente pessoa, uma rapariga interessantíssima, mas era demitida, não havia outra coisa a fazer. E o ministro da Defesa também.” Ao que acresce o Chefe do Estado Maior do Exército que “devia ter sido imediatamente demitido,“ sublinha Jardim.

“Eu fiz tropa e nunca vi suspender por uns dias cinco comandantes, ainda por cima de estabelecimentos militares onde está gente do mais qualificada a comandar. Isto é o mais grave. Não é um coronel qualquer. São estabelecimentos com forças de elite,“ argumenta. Não deixando de apontar o dedo ao primeiro-ministro: “O Costa foi aselha, coisa que não tinha sido durante dois anos. Deve ter sido do calor estival”.

O ex-líder do PSD Madeira lança duras críticas ao atual presidente do PSD nacional, Pedro Passos Coelho, sugerindo que o PS de António Costa teria mais dificuldades em manter-se no poder se o PSD tivesse outro líder.

“A sorte do Costa é ter Passos Coelho como ‘challenger’, essa é a sorte dele,“ afirma Jardim. “Vamos aguardar as eleições autárquicas,“ ressalva, ao ser questionado sobre “a situação” do PSD. “Embora o PSD signifique mais ao nível de eleições autárquicas do que ao nível nacional, neste momento. Há muita gente que vai votar nos autarcas do PSD mas que não quer ouvir falar de Passos Coelho”.

De qualquer modo, deixa mais uma provocação: “Você viu o Passos Coelho dizer na televisão que por muito maus que sejam os resultados que não sai. Esta gente não larga”. E outra, quando lhe perguntam se acredita que Passos Coelho ainda tem condições (como o próprio disse recentemente) para voltar a ser primeiro-ministro: “Sim, sim, ele disse muita coisa. Desde que era da JSD que eu não lhe ligava muito e deve ser por isso que ele não gosta de mim. Com este sistema penso que têm de aparecer coisas novas. Aliás, é a própria evolução social que o está a pedir. O Trump não pode ser um sinal definitivo, Deus nos livre. Vamos salvar a sociedade outra vez recorrendo ao neoliberalismo?”

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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