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Austrália: O país que não se lembra da crise tem os olhos postos em Portugal

A Austrália tem um dos maiores fundos de pensões do mundo com 1,2 biliões de euros para investimentos de longo prazo. Nesse sentido, uma delegação empresarial ao mais alto nível esteve em Portugal para avaliar possíveis negócios. O setor financeiro, o das energias renováveis e os transportes constituem oportunidades para os australianos no nosso país.
28 Julho 2018, 17h30

A Austrália é um caso inédito no panorama económico da era moderna. Tendo registado a sua última recessão técnica em 1991, o país quebrou o recorde histórico de crescimento económico ininterrupto – ultrapassando a Holanda, que registou 25 anos de atividade económica sem recessões.

Uma delegação empresarial australiana ao mais alto nível esteve em Portugal a fazer prospeção de possíveis negócios. Chefiada pelo governador-Geral, Peter Cosgrove, foi composta por ministros australianos e representantes das empresas com maior presença e interesse no mercado europeu. “Há vários setores que constituem oportunidades para a Austrália, como o financeiro, o das energias renováveis e os transportes. Gosto de Portugal porque é relativamente pequeno e opera globalmente”, diz ao Jornal Económico Jason Collins, CEO do European Australian Business Council.

O primeiro objetivo da missão, que partiu com destino a Londres, depois de já ter passado por Paris, Estrasburgo e Madrid, foi o de discutir o futuro acordo comercial que unirá a Austrália à União Europeia. E todos eles sublinham a necessidade de defender o comércio livre. Recorde-se que o Conselho da União Europeia (UE) autorizou, em maio, a Comissão Europeia a abrir negociações para um acordo comercial com a Austrália e a Nova Zelândia, adotando ainda as diretrizes para cada uma das negociações.

Em junho, a União Europeia (UE) iniciou uma maratona de negociações com o Governo australiano com vista à celebração de um acordo comercial entre ambos. As negociações com a Austrália seguem-se à conclusão das negociações com o Japão no ano passado e com o México na primavera, bem como à entrada em vigor do acordo comercial entre a UE e o Canadá em setembro do ano passado. As negociações têm em vista a eliminação de obstáculos ao comércio de mercadorias e serviços, e a criação de oportunidades para as pequenas e grandes empresas, numa tentativa de redefinir a configuração do comércio mundial. A Austrália é uma das economias desenvolvidas em mais rápido crescimento em todo o mundo. O comércio bilateral de mercadorias entre a UE e a Austrália tem vindo a aumentar de forma constante nos últimos anos. “A Europa é um dos parceiros mais importantes em termos de comércio e bastante relevante em termos de investimento”, explica Jason Collins. “Temos um dos maiores fundos de pensões do mundo com 1,2 biliões [mil milhões] de euros para investimentos de longo prazo”, acrescenta o responsável do European Australian Business Council ao Jornal Económico.

No contexto do comércio internacional português de bens e serviços, a Austrália assume uma posição mais modesta enquanto fornecedor do que como cliente. Em 2017, a sua quota no total das exportações foi de 0,27%, sendo a percentagem relativa às importações inferior a 0,1%. As máquinas e aparelhos , produtos relativos à madeira e cortiça, minerais e minérios, calçado e matérias têxteis são os principais produtos nacionais exportados. Relativamente às importações destacam-se os produtos agrícolas, segundo a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). “O nosso relacionamento tem imenso potencial e regista-se uma enorme complementariedade entre Portugal e Austrália. No entanto, o maior obstáculo que temos diz respeito à familiaridade”, afirma o CEO do European Australian Business Council. “A União Europeia e a Austrália têm uma relação histórica, muito forte em países como a França, mas com Portugal tem de ser reforçada”, disse, em conversa com jornalistas, John McVeigh, ministro australiano do desenvolvimento regional. “A relação com Portugal é nova, tem cerca de 20 anos, mas há mais coisas boas do que más a retirar dela”.

Com uma população de quase 25 milhões de habitantes, a Austrália posiciona-se como uma das 15 maiores economias a nível mundial e com um elevado poder de compra. Em 2017, o PIB per capita fixava-se em 56.440 dólares (cerca de 48 mil euros). Pela sua posição geográfica, pode ainda constituir uma ponte para o acesso a mercados da Ásia, contribuindo para isso os acordos de comércio livre estabelecidos com países da região.

Os segredos para uma economia pujante

“Os recursos naturais na Austrália (minerais e petróleo) são responsáveis pela maior fatia de exportações do país (40%) e cerca de 8% do PIB [Produto Interno Bruto]. O carvão, gás natural, ouro, cobre, diamantes, zinco e outros minerais são, por si só, ingredientes essenciais para o crescimento do país; apesar da extrema relevância deste setor da economia, é necessário salientar que o setor dos serviços é o que mais contribui para o PIB e emprego da população ativa”, explica José Carlos Pereira, consultor de negócios internacionais, através de um trabalho produzido no âmbito do projeto BOW (Business On the Way), promovido pela AEP, no apoio às empresas portuguesas.

Como parte do seu programa de reformas, o país foi progressivamente retirando muitas das suas barreiras protecionistas e introduziu legislação para a concorrência, desregulamentou o mercado financeiro, permitiu a flutuação da taxa de câmbio e descentralizou o mercado de trabalho, pode ler-se no mesmo estudo.

Em 2009, apesar da crise económico-financeira a nível internacional, a economia australiana cresceu 1,5% (a taxa de variação média a nível mundial foi de -2,2%), o que ficou a dever-se, em parte, ao facto da China ser um importante parceiro comercial deste mercado. O país é igualmente o maior exportador mundial de diamantes, alumínio e carvão.

Também o turismo é uma das atividades que mais gera emprego no país, empregando cerca de 500 mil pessoas. A Austrália recebe mais de seis milhões de turistas ao ano. “Uma geração de australianos cresceu sem vivenciar uma recessão”, disse o ministro Scott Morrison, citado pela imprensa internacional.

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