Saman Ali pertence ao primeiro grupo de refugiados da minoria yazidi vindo da Grécia para Portugal, em março. O homem, cuja família foi morta pelo Daesh, é o único que resta dos 23 refugiados acolhidos em Guimarães, e já considera Portugal como o seu segundo país. No entanto, o seu título provisório de residência termina esta sexta-feira e Saman receia voltar a perder mais um país. Nesse sentido, o refugiado que exercia a profissão de professor universitário de biologia, decidiu elaborar, com o português que tem vindo a aprender, uma carta aberta ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à qual o Expresso teve acesso. Leia em baixo o documento:
“Carta Aberta ao Senhor Presidente da República Portuguesa
Excelentíssimo Senhor
Presidente da República Portuguesa Prof. Marcelo Rebelo de Sousa,
Me Ajuda Por Favor!
Eu Preciso de Você!
Caro Presidente,
Antes de mais, gostaria de agradecer todos os esforços levados a cabo por vós e pelas autoridades portuguesas no apoio ao nosso povo Yazidi; estamos muito agradecidos por tudo o que têm feito.
Eu sou um Yazidi, sou solteiro, chamo-me Saman Ali, e nasci em Sinjar, no Iraque. Também sou vítima do ISIS [Daesh], que matou muitos dos meus familiares, tais como os meus pais, irmãs e irmãos. Perdi-os a todos, sendo eu o único sobrevivente.
No Iraque, era professor universitário, mas fui obrigado a deixar o meu país por causa da minha religião, das minhas opiniões e das minhas atividades. A minha vida estava em grande perigo e eu estava a trabalhar como voluntário para uma organização não governamental chamada Holy Spirit, para ajudar o meu povo.
Nunca mais posso voltar ao Iraque pelo risco de ser perseguido e morto.
Cheguei a Portugal no dia 6 de Março de 2017 pelo programa europeu de realocação da Grécia, tendo feito a perigosa viagem do Iraque e esperado mais de um ano. A 10 de Novembro de 2016, tive o prazer de saber que a minha realocação tinha sido aceite pelas autoridades portuguesas.
Quero agradecer a todas as organizações portuguesas por todo o seu apoio e ajuda, especialmente ao SEF e os colaboradores da Câmara Municipal de Guimarães, onde todos foram muito simpáticos comigo.
Desde o primeiro dia em que cheguei, aceitei Portugal como o meu segundo país de origem e adoro o povo português, que agora sinto como membro da minha família, e quero ficar aqui o resto da minha vida.
Tenho um mestrado em biologia médica e quero muito começar a fazer o doutoramento, falo 6 línguas e já comecei a aprender português.
Desejo servir o povo de Portugal e é um prazer fazer parte da vossa sociedade, respeito a lei e interessam-me muito uma sociedade e um modo de vida pacíficos e civilizados.
Perdoe-me por dizer : Eu sou o primeiro refugiado yazidi que chegou aqui a Portugal e eu serei o último a ficar aqui porque todos eles já saíram. Vamos ter em Portugal só um refugiado yazidi que sou eu, porque nenhum outro quer ficar.
Se houver alguma forma de acelerar o processo de asilo para que eu o possa obter mais rapidamente, queiram, por favor, informar-me, pois quero muito contribuir e continuar com os meus estudos, que me permitirão trabalhar, uma vez que com este estatuto de asilo, tal não me é permitido.
Muito grato pelo vosso tempo, queiram aceitar o meu respeito e consideração.
Deus vos abençoe e obrigado pelo vosso apoio
Saman Ali
1 de Maio 2017 Guimarães”
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