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Cidadão marroquino prometia 1.800 dólares mensais a recrutas para o Estado Islâmico

Abdesselam Tazi, 64 anos, em prisão preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa, está acusado pelo Ministério Público (MP) de oito crimes.
28 Março 2018, 18h30

O cidadão marroquino acusado de pertencer ao grupo terrorista Estado Islâmico deslocou-se várias vezes ao Centro de Acolhimento para Refugiados, em Loures, para recrutar operacionais para esta organização, prometendo-lhes mensalmente 1.800 dólares norte-americanos, descreve a acusação.

Abdesselam Tazi, 64 anos, em prisão preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa, está acusado pelo Ministério Público (MP) de oito crimes: adesão a organização terrorista internacional, falsificação com vista ao terrorismo, recrutamento para o terrorismo, financiamento do terrorismo e quatro crimes de uso de documento falso com vista ao financiamento do terrorismo.

Segundo a acusação do MP, a que a agência Lusa teve hoje acesso, o arguido aterrou no Aeroporto de Lisboa, a 23 de setembro de 2013, num voo proveniente de Bissau, na posse de um passaporte francês falso, razão pela qual foi recusada a sua entrada em território nacional.

Na ocasião, o ex-polícia marroquino invocou o Estatuto de Refugiado, tendo-lhe sido concedida a autorização de residência válida até 20 de outubro de 2019. Após ter pedido proteção ao Estado português, sob o pretexto de ter sido perseguido politicamente em Marrocos, foi colocado no Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa, entre 23 e 30 de setembro.

O pedido de asilo foi aceite e, a 01 de outubro, Abdesselam Tazi foi transferido para o Centro de Acolhimento para Refugiados, na Bobadela, em Sacavém, concelho de Loures, onde permaneceu até 29 de novembro de 2013, data em que passou para a tutela da Segurança Social de Aveiro e ficou colocado na Fundação CESDA (Centro Social do distrito de Aveiro), até maio de 2014.

Abdesselam Tazi fez-se sempre acompanhar de Hicham El Hanafi [detido em França desde 20 de novembro de 2016 por envolvimento na preparação de um atentado terrorista], que havia radicalizado e recrutado em Marrocos, antes de ambos viajarem para a Europa. O MP diz que o processo de refugiado, os apoios e a colocação em Portugal deste suspeito foram idênticos aos do arguido, tendo ambos ficado a viver juntos no distrito de Aveiro.

“Pelo menos a partir de 23 de setembro de 2013, a principal atividade desenvolvida pelo arguido em Portugal consistia em auxiliar e financiar a deslocação de cidadãos marroquinos para a Europa e em obter meios de financiamento para a causa ‘jihadista’”, indica a acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal.

O MP conta que Abdesselam Tazi “passou a visitar regularmente” o Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR) “para dar apoio às pessoas em relação às quais organizara a sua vinda para Portugal e outros migrantes jovens que pudessem ser radicalizados e recrutados para aderirem ao DAESH” (acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico), procurando convencê-las de “que teriam uma vida melhor se aderissem ao DAESH e fossem viver para a Síria”.

Assim, em fevereiro de 2015, o arguido contactou e convidou quatro residentes do CAR para se deslocarem a Aveiro, sendo as viagens pagas por Abdesselam Tazi.

“Foi nesse contexto que Hicham El Hanafi e o arguido o tentaram convencer [um dos elementos] a integrar fileiras do exército ‘foreign fighters’ [combatentes do estrangeiro] para combater pela organização terrorista Estado Islâmico, em território sírio, a troco de um vencimento mensal de 1.800 USD [dólares norte-americanos], proposta que foi recusada por parte de Outmane Jbilou”, relata a acusação, acrescentando que a mesma proposta também foi feita a um segundo elemento.

Em agosto de 2015, o arguido e El Hanafi voltaram ao CAR para visitar os dois homens que haviam recusado a proposta em fevereiro, e outras duas pessoas, uma prima e um irmão de El Hanafi, que o arguido convidou a deslocar-se a Aveiro.

Durante essa visita, Abdesselam Tazi e El Hanafi “procuraram convencê-lo” a sair da Europa e a viajar para outro destino “consentâneo com os valores do Islão fundamentalista e da causa ‘jihadista’”.

A acusação descreve que o homem “apercebeu-se que o seu irmão se encontrava num processo de radicalização”, sublinhando que o jovem recusou a proposta de “integrar as fileiras do exército ‘foreign fighters’ para combater pela organização terrorista Estado Islâmico, em território sírio, a troco de um vencimento mensal de 1.800 dólares” norte-americanos.

Além de recrutar jovens marroquinos para aderirem ao DAESH, atividade exercida muitas vezes junto do CAR, Abdesselam Tazi também desenvolvia atividades de apoio e de financiamento à causa ‘jihadista’, como pagar viagens e adquirir bens e serviços para os jovens recrutados.

“Para o efeito, o arguido recorreu à implementação de esquemas de fraude, burla e falsificação de documentos, nomeadamente documentos de identidade falsos e utilização abusiva de cartões de crédito, como forma de financiar as despesas realizadas com o recrutamento, viagens e equipamento dos jovens que ia radicalizando e convencendo a aderir ao DAESH”, sustenta o MP.

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