Os executivos de topo em Portugal assistiram a um reforço do peso da componente fixa na sua remuneração, de 2016 para 2017, disseram ao Jornal Económico o managing partner da Sérvulo & Associados e o CEO da Mercer Portugal. O ordenado fixo destes profissionais representa agora cerca de 70% da remuneração, sendo os restantes 30% variáveis [como bónus]. Estes valores comparam com 60% e 40%, respetivamente, no ano anterior.
Para Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal, esta subida é “conservadora e menos potenciadora da meritocracia”, uma resposta do mercado português ao crescimento económico. “Durante a crise, em Portugal houve vários setores que não tiveram remuneração variável. Quando houve reajustamentos da fixa, verificou-se que era mais prudente aumentar o peso desta do que ter uma forte alavancagem na variável, que podia levar a uma gestão menos sã do risco”, disse Diogo Alarcão.
A consultora e a sociedade de advogados organizaram em janeiro uma conferência dedicada ao tema, na qual foi feito o levantamento das tendências remuneratórias e ouvidos testemunhos das comissões de remunerações. A parceria já de longa data assistiu este ano a um recorde no número de participantes, o que mostra que se trata de uma das prioridades das empresas e uma das preocupações das autoridades regulatórias.
“É crescente porque as empresas procuram cada vez mais alinhar a sua estrutura remuneratória com a sua estratégia. À medida que a estrutura sofre uma correção, um progresso, uma adaptação, é forçoso olhar também para a política remuneratória, que é feita em benchmarks do setor, do país e do continente”, afirmou o managing partner da Sérvulo, Paulo Câmara.
A maior parte das 28 empresas participantes no estudo tem um volume de negócios anual de até 500 milhões de euros e é de origem nacional. A necessidade de busca das melhores práticas e de comparação com os pares coloca o assunto na agenda de todas as empresas – umas mais do que outras. As sociedades cotadas e o setor financeiro têm sido, sobretudo na última década, marcados por “uma crescente avalanche regulatória”, que transformou o panorama de “liberdade” na fixação das remunerações, a estrutura do processo decisório e as regras de transparência, segundo os responsáveis.
A seu ver, a comissão de remunerações deve ser independente e imparcial mas ter conhecimento sobre o setor e a empresa. “A administração não deve ter uma influência direta na sua própria remuneração. No entanto, há recomendações para um perfil técnico e de conhecimento [das comissões de remunerações]”, disse o sócio de Financeiro & Governance.
Paulo Câmara e Diogo Alarcão acreditam que a opacidade das políticas remuneratórias só traz prejuízo à empresa, porque cria dificuldades de atrair millenials, trabalhadores educados para a transparência, minado além disso a confiança dos acionistas.
Novo em Portugal é o ‘acordar’ dos grandes grupos empresariais que não estão cotados. “Há ainda outro fenómeno mais recente, que é uma preocupação das empresas com concentração acionista, nomeadamente em grupos familiares e que faturam milhões, que começam a estar muito mais alertadas”, explica Diogo Alarcão. O CEO defende que tradicionalmente não estavam e, agora, por fatores exógenos e consciencialização, já têm comissões de vencimentos independentes e recorrem a aconselhamento externo.
Na análise, quase todos os administradores inquiridos (94%) são homens, sendo que cerca de 50% está na empresa há 10 anos ou menos. O CEO da consultora afirma que “em termos de [remunerações de] administradores executivos, não há grandes disparidades em Portugal entre géneros” e que a diferença salarial é mais significativa nos níveis abaixo. “Há países que têm exigido a divulgação do rácio de disparidade salarial, mas ainda não há uma tomada de decisão da Comissão Europeia para obrigar”, acrescenta o advogado.
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