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CTT com quebra de 57,6% dos lucros até setembro, decide cortar dividendo

“Tendo em conta esta evolução do EBITDA, o Conselho de Administração tenciona propor um dividendo relativo a 2017 de cerca 0,38 euros por ação, a ser pago em 2018”, diz a empresa.
Rafael Marchante/Reuters
31 Outubro 2017, 18h50

Os CTT registaram lucros de 19,5 milhões de euros entre janeiro e setembro, uma quebra de 57,6% face ao mesmo período do ano passado. A empresa liderada por Francisco Lacerda vai cortar o dividendo a distribuir pelos acionistas em 20% e apresentar, até ao final deste ano, um plano de corte de custos.

Mais concretamente a empresa vai cortar o dividendo de 48 cêntimos por ação, que tinha sido decidido no início deste ano, para um dividendo de 38 cêntimos por ação, é dito no comunicado.

Até setembro o tráfego de correio endereçado registou um decréscimo de 6,1% (7,2% só no 3º trimestre), um ritmo mais forte que o limite máximo esperado, atenuado ao nível da receita pelo aumento de preços e pela evolução positiva do mix de produtos (crescimento do correio registado e internacional) que induziu um aumento de 5,5% na receita média.

Esta quebra dos volumes de tráfego de correio  põe uma pressão muito grande no EBITDA do negócio de correio por causa dos elevados custos fixos.

“A queda de tráfego de correio endereçado nos 2º e 3º trimestres de 2017 acima de 7%, claramente acima do intervalo estimado para o ano de 2017 de 4 a 5%, leva a uma pressão elevada sobre a rentabilidade da área de negócio de Correio, pela reduzida possibilidade de ajustar a capacidade instalada e as operações integradas de distribuição por forma a absorver os custos fixos”, diz a empresa

O Tráfego de Expresso e Encomendas cresceu 18,4% em Portugal e 24,6% em Espanha com crescimento das correspondentes receitas de, respetivamente, 10,2% e 17,4%, tendo, no entanto, custos incrementais superiores ao antecipado (utilização limitada da capacidade instalada).

Noutra área, o Banco CTT reforçou aposta no crédito à habitação, com uma produção de 24,3 milhões no 3º trimestre, mantendo o forte crescimento do número de clientes (superior a 240 mil) que permitiu alcançar em final de setembro mais de 190 mil contas de depósitos à ordem. Hoje já ultrapassou as 200 mil contas.

Diz a empresa liderada por Francisco Lacerda que a aquisição da Transporta colocou pressão nos resultados com impacto no EBITDA de cerca de -2,0 milhões de euros, (-0,7 milhões em termos recorrentes), dado o processo de reestruturação e integração em curso.

O EBITDA e Resultado Líquido recorrentes decrescem 25,1% (-22,9 milhões) e 35,9% (-17,5 milhões de euros), respetivamente, como consequência da perda das receitas da Altice, da queda acentuada nos dois últimos trimestres do tráfego de correio e dos gastos associados ao processo de ajustamento das redes ao crescimento acelerado do Banco CTT e do negócio de Expresso e Encomendas.

Os rendimentos operacionais recorrentes crescem 0,2% refletindo a substituição de rendimentos de Correio e de Serviços Financeiros por crescimento dos segmentos de Expresso e Encomendas e Banco CTT, o que coloca pressão na estrutura de custos. “Os rendimentos operacionais recorrentes totalizaram 518,0 milhões de euros um crescimento de 0,9 milhões de euros (+0,2%) face a igual período do ano anterior”, lê-se no documento.

“Retirando a receita do acordo com a Altice registada no período homólogo do ano anterior (7,5 milhões), o crescimento dos rendimentos operacionais recorrentes foi de 1,6%”, diz os CTT.

A área de negócio dos Serviços Financeiros apresentou 48,2 milhões de euros de rendimentos  operacionais, um decréscimo de 9,7%  face a igual período de 2016, justificado fundamentalmente pela inexistência em 2017 da receita relativa ao acordo com a Altice (-2,5 milhões) e pelo decréscimo dos rendimentos de pagamentos, com algumas das iniciativas de crescimento deste negócio ainda em fase de desenvolvimento.

“A rede de lojas dos CTT manteve uma extensa atividade de comercialização de produtos e serviços financeiros não bancários baseados em acordos de parceria, envolvendo as áreas da Poupança, Seguros Vida e Não Vida, Transferências/Remessas, bem como o negócio de crédito ao consumo e cartões de crédito nas lojas CTT sem presença do Banco CTT”, diz a empresa.

Os produtos da dívida pública, que representam cerca de 49% na estrutura de rendimentos da área de negócio de serviços financeiros, movimentaram 4,6 mil milhões de euros, tendo sido colocados 3,2 mil milhões de euros até setembro de 2017, o que se traduz num crescimento de 14,8% face ao período homólogo do ano anterior. “Essa evolução deveu-se à elevada competitividade face aos depósitos bancários e obrigações de tesouro, tanto nos rendimentos proporcionados (elevada taxa de remuneração média), como na total isenção de custo que muito penaliza a rentabilidade das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV)”, diz o comunicado enviado à CMVM.

Dentro da área de vales e transferências, que observou um decréscimo de 4,3% na receita, é destacada a performance da componente internacional (Western Union e vales internacionais) que teve um crescimento na receita de 2,0%. No negócio do crédito ao consumo nas lojas sem atividade bancária os financiamentos situaram-se nos 5,7 milhões de euros nos primeiros 9 meses de 2017.

“Destaque no 3º trimestre para o relançamento do negócio de seguros não financeiros com o arranque da comercialização da oferta de saúde Multicare CTT (parceria com a companhia de seguros Fidelidade), antecedido por um programa de formação”, diz a empresa.

O peso de cada área de negócio no total dos rendimentos operacionais recorrentes sofreu ligeiras alterações de 2016 para 2017. “Verificou-se um aumento do peso das áreas de negócio de Expresso e Encomendas e do Banco CTT no total dos rendimentos operacionais recorrentes e uma pequena redução percentual nas áreas de negócio de Correio e de Serviços Financeiros”, diz os CTT.

Na área de negócio de Correio os rendimentos operacionais recorrentes totalizaram 393,4 milhões, um decréscimo de 1,1% face ao período homólogo de 2016. O decréscimo dos rendimentos reflete sobretudo a evolução do tráfego de correio endereçado que decresceu 6,1% nos primeiros nove meses de 2017.

Os gastos operacionais recorrentes totalizaram 449,8 milhões, +23,7 milhões (+5,6%) em relação a igual período do ano  anterior, incluindo +5,3 milhões no Banco CTT e +6,4 milhões na Transporta. Excluindo estes efeitos, os gastos aumentaram cerca de 11,9 milhões, estando uma parte relevante relacionada com o forte crescimento da atividade de Expresso e Encomendas em Espanha, onde a utilização da capacidade instalada é limitada, com um crescimento face a 2016 de 4,5 milhões.

Os Fundos e Serviços Externos recorrentes apresentaram um aumento de 8,0% (+13,0  milhões) face ao período homólogo.

No que respeita aos gastos com pessoal, o crescimento dos gastos recorrentes em 10,3  milhões (+4,2%) “deveu-se fundamentalmente aos seguintes acréscimos: +2,0  milhões de gastos com trabalhadores do Banco CTT; +2,0 milhões de euros de gastos com pessoal contratado a termo; +1,7 milhões resultantes do acréscimo da revisão salarial acordada com as organizações representativas dos trabalhadores e com efeitos a janeiro de 2017; +1,6  milhões de gastos com trabalhadores da Transporta, e +1,4  milhões decorrentes da menor redução do custo com o benefício associado à “taxa de assinatura telefónica”, diz a empresa.

Os CTT adiantam que “uma reestruturação considerável dos custos, para ajustar a escala de operações às atuais necessidades, está a ser preparada, para ser apresentada antes do final do ano”.

Na área internacional destaque para Espanha onde a receita do negócio (rendimentos de clientes externos ao Grupo CTT) nos primeiros nove meses de 2017 situou-se em 36,3 milhões, +17,4% do que no período homólogo do ano anterior, fundamentalmente devido ao crescimento do tráfego de 24,6%.

A atividade em Moçambique apresentou um crescimento de 7,1% nas receitas do negócio em moeda local (metical) face ao período homólogo do ano anterior (+5,5 milhões de meticais), devido sobretudo ao crescimento do negócio banca (+3,8 milhões de meticais; +8,7%). Os rendimentos do negócio (exclui clientes internos ao Grupo) em euros, que ficam penalizados pela evolução negativa da taxa de câmbio, apresentam um decréscimo de 3,6%.

Os CTT esperam agora atingir um EBITDA recorrente de cerca de 20% abaixo do guidance inicial indicado para o ano de 2017. “Tendo em conta esta evolução do EBITDA, o Conselho de Administração tenciona propor um dividendo relativo a 2017 de cerca 0,38 euros por ação, a ser pago em 2018”, diz a empresa.

Os CTT estão confiantes que “estas medidas de otimização da capacidade instalada e a continuidade da evolução positiva das alavancas de crescimento dos rendimentos permitirão o sucesso do profundo processo de transformação em que estão empenhados”.

 

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