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“É preciso que a banca financie as empresas! Isto não tem vindo a acontecer”

O barómetro económico da responsabilidade do Kaizen Institute, onde foram questionados cerca de 200 gestores de empresas em Portugal, revela algumas tendências do tecido empresarial português.
21 Setembro 2017, 09h00

“É preciso que a banca financie as empresas (…) estamos perante valores de financiamento historicamente baixos”, realça António Costa, Senior Partner Kaizen Institute do barómetro económico da responsabilidade do Kaizen Institute, no qual foram questionados cerca de 200 gestores de empresas em Portugal. Em entrevista ao Jornal Económico, António Costa desvenda as razões por detrás dos resultados obtidos neste barómetro.

A falta de confiança na banca portuguesa é considerada, de acordo com o estudo, a principal ameaça para a economia portuguesa. Para além de uma maior regulação dos mercados financeiros, o que será necessário fazer para que o tecido empresarial tenha mais confiança no setor bancário?

É preciso que a banca financie as empresas! E isto é algo que não tem vindo a acontecer, aliás, estamos perante valores de financiamento historicamente baixos.

É igualmente relevante que a banca acompanhe a evolução que as empresas têm vindo a sentir e que desenvolva produtos customizados às necessidades das organizações.

Se as empresas virem os bancos como um parceiro indiferenciado com soluções obsoletas, irão continuar a procurar soluções de financiamento alternativas. É igualmente importante fazer alinhamento com o digital e as empresas estão a adaptar-se a esta realidade e a mudar a forma como se relacionam com os clientes. Acredito que os bancos devem fazer o mesmo caminho, tanto no segmento particular, como também no campo empresarial.

Um número significativo dos gestores, 66%, não está preocupado com o decréscimo do financiamento bancário às empresas e que, mesmo assim, as capacidades de investimento não serão afetadas. Entre aqueles que vão investir em Portugal, que outras fontes poderão ser utilizadas nesse âmbito?

Neste momento estamos a receber fundos europeus e muito do investimento que está a ser realizado relaciona-se com os fundos provenientes do acordo de parceria entre Portugal e a Comissão Europeia denominado Portugal 2020.

É por isso urgente que este financiamento seja bem utilizado, tendo em conta que o alargamento da União Europeia e consequente abertura à integração de novos países está outra vez em cima da mesa, que, por um lado, poderá vir a retirar parte dos fundos e a alocá-los a outros países.

É fundamental que haja um debate rigoroso sobre os investimentos estruturais a realizar, tanto do domínio público como nos setores económicos que o governo pretende alavancar.

Acredito também que existe um elevado potencial interno nas empresas que pode ser gerado através do crescimento das vendas e melhoria da rentabilidade. A dinâmica de projetos de melhoria focados nestas duas vertentes – vendas e rentabilidade – e baseados numa adequada gestão de processos, custos e recursos, pode libertar cash flow proporcionando financiamento interno.

Existe também outra aposta que nos últimos anos tem perdido algum fôlego, refiro-me ao mercado bolsista. Temos tido várias saídas do PSI20 e há uma clara oportunidade para as empresas com maior dimensão utilizarem o mercado acionista como formato alternativo ao financiamento.

Com a crise financeira, muitas foram as empresas que acumularam liquidez, permitindo que neste momento haja disponibilidade para a consolidação e compra de outras organizações, sendo por isso este um outro formato a considerar.

75% define como preocupante a situação da dívida pública pelo aumento do risco no mercado no mercado internacional. Esta é uma tendência que deverá agravar-se nos próximos anos? 

A dívida tem vindo a aumentar e estamos a atravessar um período de juros historicamente baixos. A partir do momento em que o Banco Central Europeu começar a retirar estímulos e os juros começarem a subir, poderá haver uma tendência de agravamento.

Em contrapartida, Portugal viu subir a sua notação nas agências de rating/risco, tendo já saído de ‘lixo’ numa delas, situação que permite diversificar o financiamento e ter juros mais baixos, sendo este fator positivo para a dívida.

Por outro lado, é igualmente preocupante a ausência de algumas reformas estruturais, como por exemplo a da função pública, deixando algumas questões no ar, tais como: como se irão pagar as reformas no futuro e assegurar a sustentabilidade da segurança social?

Como se irá suportar o aumento de salários e o aumento do número de efetivos nos quadros do Estado?

É provável que possamos encontrar as respostas na dívida.

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