“Não existe algo assim em nenhum outro país da Europa”, começa por afirmar o presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), Francisco Mateus, com quem nos encontrámos precisamente para conhecer este plano. “Somos a primeira região a ter um plano integrado”, explica.
A produção do Alentejo é hoje consumida maioritariamente em Portugal. Apenas 30% é exportado, mas existe a clara consciência de que “o mercado nacional não tem capacidade para crescer mais, pelo que temos de olhar lá para fora”.
A muito breve trecho, vários países importadores – sobretudo no Norte da Europa – terão normas apertadas para os vinhos que não cumpram regras de sustentabilidade. Proibindo, pura e simplesmente, como será o caso do governo sueco já em 2020, ou taxando de tal forma que colocam em causa a viabilidade do negócio. É, por exemplo, o caso do Canadá. A ideia da CVRA é colocar os seus produtores na dianteira desta nova realidade.
“Trata-se da diferença entre a entrada no comboio na primeira carruagem ou à pressa, na última”, acrescenta João Barroso, responsável pelo projeto na CVRA. Até porque, apesar de não existir algo parecido na Europa, “no novo mundo – EUA, Austrália e Nova Zelândia, Chile – é quase prática corrente. Estamos num mercado global e, se muitos dos concorrentes o fazem, parece-me lógico que mais cedo ou mais tarde os outros países o façam também”, refere.
Mas o plano não se resume a uma vantagem competitiva. O âmbito é maior porque as pressões ambientais são um problema real no Alentejo. Em última análise, o fim será “garantir condições para que o Alentejo consiga produzir vinhos durante muitos e muitos anos. Uvas e vinhos de qualidade, economicamente viáveis”, aponta Francisco Mateus. De facto, negócio e proteção ambiental estão intimamente ligadas: adotando as boas regras promove-se um consumo menor de recursos como água e energia.
Poupança de água
João Barroso dá o exemplo de um produtor que passou para um modelo de reutilização de águas “e, com um investimento de mil euros, conseguiu poupar 30 milhões de litros de água por ano. No Alentejo temos de tudo. Produtores gastam 14 litros de água para produzir um litro de vinho. Outros apenas litro e meio. Não é incomum gastarem-se oito, 10 litros. Muitas pessoas não têm ideia, mas a água é um dos maiores custos no vinho.”
E existem outros exemplos, como “as casas de morcegos. Não custam nada, são uma caixa de madeira com dimensões adequadas a morcegos e basta uma para 50 hectares de vinha. Os morcegos comem os insetos e ajudam a prevenir as pragas. Não se usam pesticidas, poupa-se dinheiro e não se prejudica o meio ambiente. Em Cortes de Cima, como têm muitas pragas de caracóis, combatem-nos com um bando de gansos que entram nas vinhas e os comem.” Veja-se também o exemplo da Adega de Borba, que tem o maior telhado verde (relvado) da Europa. “Como baixa a temperatura no interior, reduzem-se enormemente os custos energéticos.”
O plano está organizado em três setores – Viticultura, Adega e V&A – para corresponder à diversidade dos membros da Comissão que podem ser apenas produtores de uva, adegas ou ter o ciclo completo. Os critérios a cumprir são extensos e apertados. “São 119 mas estamos já a acrescentar uma segunda leva para, em 2018/19, termos tudo pronto para poder certificar os produtores.” Essa certificação será atribuída por uma entidade externa.
“Estamos no terreno há um ano e meio, dois anos”, confessa o presidente dos Vinhos do Alentejo. “Em pouco tempo passámos para 90 membros e agora já contamos com 126. Nota-se uma boa aceitação.”
Poderá parecer uma realidade reduzida, dado o universo de dois mil associados, mas representam “20% da área de vinha e 43% da produção.” Trata-se das grandes referências, como as Adegas Cooperativas de Borba e Vidigueira, a Fundação Eugénio de Almeida, Esporão, Herdade do Peso, das Servas ou Cortes de Cima, entre muitos outros.
“O que nos interessa é chegarmos em breve a um ponto em que possamos dizer não que A ou B são sustentáveis, mas toda a região. Não se trata de greenwashing”, conclui.
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